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As indústrias criativas precisam de profissionais que não apenas entendam a teoria, mas também a apliquem em contextos empresariais e comerciais
Publicado em 18/08/2025
foto: Shutterstock
Por David Bellingham/The Hechinger Report
Jovens graduados em artes ou com pós-graduação possuem alto nível educacional, mas muitas vezes não estão preparados para a prática nas carreiras além da academia. A educação artística tradicional frequentemente os coloca em dificuldades para ingressar em setores comerciais como galerias, leilões e editoras. Estudantes de história da arte, em particular, enfrentam dificuldades crescentes para conseguir emprego fora dos círculos acadêmicos.
Nos EUA, o ensino de arte e história da arte está em crise. “Embora 5.300 diplomas em história da arte tenham sido concedidos em 2012, o número caiu para apenas 3.500 em 2022 — uma queda de 34%”, informou o The Nation. O Reino Unido não se sai melhor. Como destaca o The Guardian: “financiamento reduzido e marginalização das artes nas escolas públicas inglesas”.
No entanto, as indústrias criativas precisam de profissionais que não apenas entendam a teoria, mas também a apliquem em contextos empresariais e comerciais. Elas buscam graduados com conhecimento e preparação profissional.
À medida que as necessidades da força de trabalho evoluem, a educação artística deve ir além da tradição e adotar currículos que integrem habilidades práticas, experiência prática e perspectivas globais. As artes estão enraizadas na inovação e na adaptação — a educação deve refletir isso.
Para preencher a lacuna entre o aprendizado em sala de aula e as demandas profissionais do mundo real, as universidades precisam combinar o rigor acadêmico com a formação profissional. O futuro da educação artística depende da integração da excelência acadêmica com a preparação para o mundo real, formando profissionais qualificados, prontos para inovar e ter sucesso em um ambiente em rápida transformação.
Os empregadores valorizam candidatos com pensamento estratégico, conhecimento específico do setor e experiência prática. E sem formação profissional, os graduados em artes correm o risco de não serem competitivos.
O Instituto de Arte Sotheby’s lançou o MA in Art Business (ou Mestrado em Negócios da Arte, o MAAB) em 1998. Ele capacita os alunos com conhecimentos comerciais, jurídicos e éticos. Quase três décadas depois, esse aprendizado profissional é mais essencial do que nunca. O programa combina conhecimento histórico da arte com perspicácia empresarial, ajudando os alunos a se adaptarem às mudanças do setor.
60% dos alunos que participaram de estágios em 2024 receberam ofertas de emprego de feiras de arte, galerias, casas de leilão, propriedades de artistas, plataformas de comércio eletrônico, associações de arte feminina e empresas de logística.
Com base na experiência do programa MAAB, aqui estão diferentes maneiras pelas quais a educação artística pode se alinhar melhor às realidades da indústria global:
A educação artística deve refletir as realidades da indústria global por meio de estudos de campo e exposição aos mercados culturais internacionais. Isso pode significar participar de grandes feiras de arte, interagir com líderes globais ou analisar tendências de mercado.
As instituições devem oferecer programas de intercâmbio virtual, que permitam que os alunos adquiram experiência internacional sem precisar viajar. Um currículo conectado digitalmente — que inclui palestras globais e parcerias com instituições estrangeiras — prepara os alunos para carreiras internacionais e colaboração transfronteiriça. Experiências internacionais presenciais e virtuais ajudam a ampliar a perspectiva dos alunos e a desenvolver o potencial de carreira global.
Estágios devem ser um elemento central da educação de pós-graduação. Palestrantes convidados e parcerias com a indústria também oferecem exposição vital às práticas profissionais. As instituições devem organizar eventos de networking que conectem os alunos com empregadores, ex-alunos e líderes da indústria.
A tecnologia está transformando as indústrias criativas. A alfabetização digital é essencial agora. A educação artística deve incorporar análise de dados, exposições virtuais e criação de conteúdo com IA para manter os alunos à frente das tendências. Os graduados devem dominar bancos de dados de mercado, ferramentas de blockchain e marketing digital.
A formação profissional também deve incluir formação jurídica e ética. Lidar com questões como falsificação e disputas de procedência exige que os graduados tenham um sólido conhecimento dos arcabouços jurídicos nacionais e internacionais. Simulações jurídicas, estudos de caso e treinamento em conformidade são essenciais para a formação de profissionais responsáveis.
Desafios éticos surgem em mídia, publicação e design. Os currículos de educação artística também devem abordar a sustentabilidade e a responsabilidade social no setor criativo. Os graduados devem estar preparados para defender práticas comerciais éticas e a preservação cultural. Comitês de ética e estágios estruturados podem oferecer aos alunos a oportunidade de analisar práticas ilícitas e se preparar para liderar com integridade. A responsabilidade social e ambiental deve ser incorporada aos currículos de artes. Da preservação cultural ao empreendedorismo responsável, espera-se que os profissionais de hoje liderem com consciência e integridade. As universidades devem incutir esses valores desde o início e com frequência.
A formação em pesquisa deve incluir métodos como entrevistas e estudos observacionais, particularmente úteis quando a literatura acadêmica é escassa. A pesquisa acadêmica deve ir além das fronteiras tradicionais, abordando a dinâmica do mercado, a transformação digital e o comportamento do consumidor. As universidades podem criar laboratórios de pesquisa em parceria com a indústria para promover o aprendizado aplicado.
Habilidades empreendedoras — incluindo a capacidade de criar planos de negócios e portfólios de investimento de padrão profissional — são essenciais para ajudar os alunos a construir empreendimentos, enquanto abordagens interdisciplinares que combinam negócios e criatividade expandem seu impacto.
Ao modernizar e integrar componentes práticos, a educação artística pode formar não apenas participantes, mas também líderes nas indústrias criativas. Um novo modelo de educação artística — que une excelência acadêmica, preparação profissional e colaboração na indústria — capacitará os graduados para prosperar na dinâmica economia global das artes.
*David Bellingham é historiador da arte, autor e diretor do programa de mestrado em negócios da arte do Instituto de Arte Sotheby’s, dedicado ao estudo da arte e seus mercados em Londres, Nova York e online. Ouça seu podcast sobre Negócios da Arte em https://linktr.ee/davibellingham.