Os pensamentos de Abraham Maslow e Benjamin Bloom integrados ao educar
Você já parou para pensar se está ensinando para o cérebro que aprende ou para o coração que sente? Na educação, duas teorias clássicas são constantemente lembradas, mas raramente colocadas para dialogar de forma profunda.
De um lado, Abraham Maslow (1908–1970), com sua pirâmide das necessidades humanas: fisiológicas, segurança, pertencimento, autoestima e autorrealização. Do outro, Benjamin Bloom (1913–1999), com sua taxonomia cognitiva como lembrar, compreender, aplicar, analisar, avaliar e criar.
Maslow alerta: “Se a única ferramenta que você tem é um martelo, você tende a ver todo problema como um prego.”
Bloom provoca: “O objetivo da educação não é aumentar a quantidade de conhecimento, mas criar as possibilidades para os estudantes possam inventar e descobrir.”
Dois olhares. Duas lentes poderosas.
Mas uma verdade precisa ser dita: antes de Bloom, precisamos de Maslow.
Antes de esperar aprendizagem, precisamos olhar para as emoções.
Imagine uma reunião de trabalho. A sala está cheia, todos atentos à apresentação. Um colega traz uma proposta ousada, capaz de transformar processos. Mas, assim que as mudanças tocam em áreas sensíveis, outro se fecha. Braços cruzados, olhar duro, voz defensiva.
O que aconteceu ali? O cérebro deixou de ouvir para se proteger. O espaço deixou de ser de colaboração para se tornar de sobrevivência.
Na sala de aula acontece o mesmo.
Um professor inicia uma disciplina on-line. Um aluno tenta acessar a plataforma, mas não consegue. Cada clique errado aumenta a ansiedade. O cronômetro da prova corre, o coração dispara. Antes mesmo de começar, ele já desistiu.
Não é falta de capacidade cognitiva (Bloom).
É falta de segurança psicológica e pertencimento (Maslow).
Maslow já dizia: antes de buscar o topo, precisamos da base.
Antes da autorrealização, vem o pertencimento.
Antes da criação, vem a segurança.
Antes de aprender, vem o sentir.
E esse sentir é muitas vezes negligenciado. Um estudante que chega à sala de aula sem voz ou com medo de errar não se entrega ao processo. Não analisa. Não cria. Tenta apenas passar despercebido.
Sobrevivência não combina com aprendizagem. Pertencimento não é luxo pedagógico, é pré-requisito cognitivo.
A escada do pensamento
Bloom nos trouxe o mapa da mente: lembrar, compreender, aplicar, analisar, avaliar, criar.
É bonito. É útil. É necessário. Mas ninguém sobe uma escada sem chão firme.
Primeiro Maslow. Depois Bloom.
A OCDE já demonstrou que competências socioemocionais, como perseverança, autoestima e sociabilidade, não apenas favorecem o desempenho acadêmico, mas ampliam as chances de sucesso em saúde, trabalho e vida social (Skills for Social Progress, 2015).
No Brasil, o Enade 2024, divulgado pelo Inep em janeiro de 2025, reforçou a preocupação: apesar da ampliação do acesso, muitos estudantes concluem seus cursos sem níveis satisfatórios de leitura, interpretação e resolução de problemas. A crise de aprendizagem não é só da educação básica; atravessa também o ensino superior e compromete a formação profissional.
Isso não é detalhe. É diferença de futuro. É a linha entre frequentar uma sala de aula e, de fato, aprender dentro dela.
Aqui entra a inteligência artificial. Não como máquina fria que substitui o professor, mas como lupa que amplia o olhar humano.
Ela já consegue detectar padrões de engajamento, perceber silêncios, mapear evasões. Mostra onde estão os invisíveis — presentes no corpo, mas ausentes no coração.
Podemos criar observatórios da prática docente, capazes de medir emoções e engajamento, transformando percepções subjetivas em evidências reais. Isso orienta professores e gestores com mais precisão.
Mas não esqueçamos: IA não substitui o cuidado, mas pode potencializá-lo.
Quando usamos tecnologia para humanizar, fazemos sentido na educação brasileira.
E você, professor, gestor, como reage quando se sente ameaçado por algo que não domina? Fecha-se? Ataca? Ou consegue separar o problema da pessoa e se abrir para aprender?
A mesma regra vale para os alunos. Se não treinarmos nossa autorregulação emocional, não podemos exigir deles uma aprendizagem plena.
A regra é simples e revolucionária: separe pessoas de problemas, escute, aprofunde, compreenda. A solução que virá será sempre mais criativa, coletiva e potente.
O cérebro não aprende em estado de ameaça, aprende em estado de confiança.
Antes de pedir para o estudante criar, dê a ele razões para acreditar. Na educação não basta subir degraus cognitivos, é preciso firmar o chão das emoções. Pertencimento não é detalhe pedagógico, é condição de possibilidade.
Tenho mais de 25 anos na educação. Sei que educar não é despejar conteúdo. Não é apenas avaliar se o aluno sabe. É perguntar: ele se sente capaz de aprender?
Ele se sente parte do processo? Ele se sente visto?
Seria até mais adequado: Primeiro Maslow. Depois Bloom.
Porque antes de aprender, precisamos sentir que podemos aprender.
E se, na sua próxima aula, em vez de planejar apenas o conteúdo, você perguntasse: “Meus alunos se sentem seguros aqui?” E se, na sua próxima reunião, você fizesse o mesmo?
Talvez seja isso o que falta para que a aprendizagem floresça, na escola, na universidade, na vida.
Por: Thuinie Daros | 05/09/2025