Por Antonio Esteca*
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) propôs um novo modelo para a avaliação in loco dos cursos de graduação, com cronograma previsto para ajustes até dezembro de 2025 e início da implementação em 2026. Nesse artigo, apresento uma síntese das principais alterações para que as instituições de ensino superior possam se preparar.
Mudanças da estrutura e fluxo
As principais mudanças dizem respeito à arquitetura dos instrumentos e à dinâmica das visitas, que passarão a seguir uma nova lógica operacional.
- Nova arquitetura do instrumento:A estrutura atual, baseada em 3 dimensões, com indicadores e atributos, será substituída por uma nova arquitetura com 4 dimensões. Cada dimensão será composta por “objetos de avaliação”, que serão analisados por “atributos” e, por sua vez, detalhados por “qualificadores”. Cada objeto de avaliação receberá um conceito de 1 a 5;
- Novo calendário trienal:No modelo atual, as visitas são vinculadas aos processos de regulação. A nova proposta estabelece um calendário trienal fixo, no qual todos os cursos receberão obrigatoriamente uma visita a cada três anos, independentemente dos atos de regulação. As avaliações serão organizadas por área da CINE Brasil;
- Visitas simultâneas:Todos os cursos de uma mesma área da CINE Brasil dentro de uma IES serão avaliados simultaneamente. As visitas serão conduzidas por comissões maiores e com perfis mais abrangentes, exigindo das IES uma capacidade de mobilização sem precedentes;
- Fim das avaliações virtuais:As comissões de avaliação passarão a ser mistas, com avaliadores atuando presencialmente na IES e outros de forma remota. A composição da comissão e a duração da visita serão dimensionadas pela complexidade do processo:
◦ 1 a 2 cursos: 2 avaliadores presenciais (3 dias de visita)
◦ 3 a 4 cursos: 2 avaliadores presenciais + 1 remoto (4 dias de visita)
◦ 5 a 7 cursos: 2 avaliadores presenciais + 2 remotos (5 dias de visita)
◦ 8 a 10 cursos: 3 avaliadores presenciais + 3 remotos (5 dias de visita)
- Avaliação dos polos EAD:Os polos de educação a distância serão avaliados virtualmente, por meio de um processo de amostragem cujos critérios ainda serão definidos pelo Inep;
- Revisão periódica:Os instrumentos de avaliação serão revisados a cada ciclo trienal, permitindo ajustes e um aprimoramento contínuo do modelo.
O que será exigido em cada dimensão?
A nova arquitetura de dimensões não apenas reorganiza os critérios, mas aprofunda a investigação sobre a intencionalidade pedagógica e a capacidade de melhoria contínua da IES, exigindo evidências mais robustas.
Dimensão 1: organização didático-pedagógica
Esta dimensão passará de 24 indicadores para 14 objetos de avaliação, mas com um nível de exigência maior. Os principais elementos que pesarão na avaliação da Dimensão 1 referem-se a:
- Material didático;
- Gestão da aprendizagem;
- Emprego supervisionado de inteligência artificial;
- Ações de acolhimento estudantil;
- Mecanismos de acompanhamento de egressos;
- Programas de inserção no mercado de trabalho;
- Estímulo à internacionalização.
Dimensão 2: corpo docente
A avaliação do corpo docente será reestruturada de 16 indicadores para 8 objetos de avaliação, com destaque para os seguintes pontos:
- Fomento à inovação e empreendedorismo;
- Atuação do mediador pedagógico;
- Oferta de capacitação continuada;
- Fortalecimento da autoavaliação;
- Processo bem evidenciado de melhoria contínua.
Dimensão 3: infraestrutura
Com a redução de 18 indicadores para 9 objetos de avaliação, a “dimensão 3” traz novos pontos de atenção:
- Recursos para trabalho remoto de docentes e mediadores pedagógicos;.
- Programas de qualidade de vida e bem-estar para equipe acadêmica;
- Salas de aula flexíveis;
- Design universal com ampla acessibilidade;
- Fortalecimento da autoavaliação.
Dimensão 4: requisitos específicos por área (CINE Brasil)
Esta é uma dimensão totalmente nova, com objetos de avaliação que serão específicos para cada uma das 10 áreas da CINE Brasil. Os principais avanços observados são:
- Fortalecimento do estágio;
- Valorização de parcerias com ambientes profissionais;
- Maior impacto dos laboratórios específicos no conceito final do curso;
- Incentivo ao ensino de metodologias de trabalho específicas de cada área, preparando os egressos para as demandas do mercado.
Balanço geral: avanços, desafios e pontos de atenção
A proposta do Inep traz uma série de melhorias potenciais, mas também levanta preocupações que precisam ser consideradas.
Avanços e pontos positivos
- Maior previsibilidade para as IES com um calendário de avaliação fixo e trienal;
- Eficiência operacional ao realizar visitas simultâneas por área, otimizando o processo;
- Relatórios potencialmente mais fidedignos, combinando a visão de avaliadores presenciais e remotos;
- Redução da subjetividade devido à maior granularidade dos instrumentos (objetos, atributos e qualificadores);
- Valorização da inovação, do empreendedorismo e do aprendizado prático (estágios e laboratórios);
- Destaque inédito para a promoção da qualidade de vida e bem-estar da comunidade acadêmica.
Desafios e preocupações
- Dinâmica complexa e potenciais conflitos operacionais em visitas que envolvem múltiplos cursos simultaneamente;
- Necessidade de preparar sistemas e capacitar todos os atores para mudanças paradigmáticas no processo avaliativo;
- Ausência de um período de adaptação ou transição, o que pode prejudicar as primeiras IES a serem avaliadas no novo modelo;
- Alto volume de evidências documentais exigidas;
- Possível disparidade no nível de exigência da Dimensão 4 entre as diferentes áreas.
Conclusão: uma nova era na avaliação

O novo modelo representa uma transição da avaliação, que abre caminho para um processo avaliativo mais justo, comparável e formativo. Ele exigirá das instituições maior planejamento, consistência documental e maturidade na gestão acadêmica. A questão fundamental, portanto, é como cada instituição responderá a esse novo desafio.
*Antonio Esteca é CEO na Faculdade Metropolitana e avaliador do Inep/MEC.
Por: Avaliação e regulação | 16/12/2025