NOTÍCIA

Edição 225

Férias na escola

Colégios oferecem cursos em diferentes áreas para entreter as crianças e auxiliar pais cada vez mais atarefados; medida ajuda a divulgar instituição

Publicado em 12/01/2016

por Juliana Duarte

 

Colégio Evolve: atividades variadas e divertidas para marcar o período de férias

 

Os brasileiros estão trabalhando mais. De acordo com uma pesquisa recente feita pelo Instituto Data Popular, 68% buscaram tarefas adicionais e 45% fizeram hora extra no último ano. Isso implica ter menos tempo para os filhos e, consequentemente, uma dificuldade durante o período de férias escolares: onde deixá-los quando não há aulas? De olho nessa demanda, muitas instituições particulares resolveram oferecer cursos durante os meses de folga, seguindo o que os clubes já fazem há muito tempo. A ideia é auxiliar os pais e ainda proporcionar atividades educativas para as crianças, principalmente as matriculadas na educação infantil.

Mas essa medida não é tão simples como parece. É preciso reorganizar-se para abrir as portas, pois as férias tradicionalmente são utilizadas para serviços de manutenção predial e também para o descanso dos funcionários. “Por isso, o planejamento deve ser feito com antecedência, atenção para não sobrecarregar ninguém nem deixar de fazer melhorias na estrutura física”, afirma Maria Elisa Sperling, diretora do Colégio Santa Amália – Saúde, de São Paulo (SP), que há 12 anos oferece atividades extras. A melhor saída que encontrou foi estabelecer uma programação de 20 a 25 dias em julho e de apenas duas semanas em janeiro, quando os familiares costumam tirar férias de seus empregos e podem ficar com os filhos. Com base nesse calendário, a equipe instituiu um rodízio entre os funcionários – tanto da área administrativa quanto do quadro docente (os educadores que trabalham com as crianças do período integral ficaram responsáveis pela programação). “Assim, ninguém deixa de descansar e não precisamos fazer contratações externas”, explica a profissional.

No Colégio Evolve, também na cidade de São Paulo (SP), a alternativa para possibilitar dias de folga a todos e ainda garantir atividades estruturadas foi deixar a programação sob responsabilidade dos professores auxiliares e dos estagiários. “Eles tiram 15 dias de férias em julho e mais 15 em janeiro, então cumprimos os 30 dias de folga garantidos por lei e ainda temos uma equipe que conhece bem a filosofia da escola, sem a necessidade de incluir profissionais de fora”, explica a diretora pedagógica Rosângela Hasegawa. As tarefas são construídas com antecedência, processo que envolve todos os educadores da instituição, bem como os coordenadores pedagógicos. Criadas com base nas faixas etárias, as oficinas são diferentes de outras oferecidas durante o ano letivo. “Queremos proporcionar novas experiências para as crianças e deixar bem claro que elas estão de férias. A ideia é se divertir”, comenta.

No Colégio Nossa Senhora da Glória, da rede do Grupo Marista, os cursos são oferecidos desde 2013 com o mesmo cuidado: fazer um revezamento dos funcionários que já pertencem ao quadro. Na opinião da professora Regina Pinheiro, assistente do núcleo pedagógico da instituição, as atividades fluem melhor porque as crianças já estão acostumadas com esses profissionais. “Além disso, eles sabem bem o que esperamos e, por isso, seguem o nosso padrão de qualidade”, ressalta.

A revisão dos espaços é outra preocupação recorrente quando se trata da programação extra. Pequenas reformas podem ser realizadas no dia a dia, desde que a área seja isolada para garantir segurança aos pequenos. Já as intervenções maiores devem ser feitas aos finais de semana ou quando as portas estão totalmente fechadas (o que costuma ocorrer no começo de janeiro e no finalzinho de dezembro). “Precisamos fazer um planejamento rigoroso nesse sentido, o que implica listar com antecedência tudo o que precisa ser reparado, contratar os profissionais e agendar os trabalhos previamente”, ressalta Maria Elisa. Assim, pode-se oferecer o espaço integral da escola durante os dias de recreação.

Programação recreativa

As instituições costumam se organizar para planejar as oficinas com pelo menos um trimestre de antecedência, processo que envolve professores titulares, auxiliares e os coordenadores pedagógicos. A programação é definida durante uma série de reuniões – uma boa dica é propor que os educadores levem sugestões para serem discutidas em grupo.

Segundo Maria Elisa, o objetivo da equipe é exclusivamente oferecer recreação para os alunos, por isso a programação não é vinculada ao currículo tradicional. “Queremos que eles aproveitem ao máximo essa experiência e nem lembrem que estão no ambiente escolar. Com certeza, a troca será rica e muito mais proveitosa do que o entretenimento com jogos eletrônicos”, enfatiza. No Colégio Santa Amália – Saúde, por exemplo, os cursos, disponíveis para estudantes matriculados até o quinto ano do ensino fundamental, dispensam uniforme. Geralmente feitos em período integral, os encontros envolvem aprendizados ligados à culinária, música, arte, sustentabilidade e teatro, entre outros temas.

Assim como a programação, o calendário de atividades não pode ser enviado aos pais de última hora. Eles precisam se organizar com certa folga para decidir o que farão com os filhos. No comunicado, é importante constarem os horários, quais serão os tipos de oficinas oferecidas e os valores cobrados. Caso haja a necessidade de conversar pessoalmente, é sempre bem-vindo agendar pequenos encontros para explicar qual será a didática no período de férias. “Também costumamos convidá-los a dar uma passadinha na escola para observar as atividades e ver como as crianças ficam animadas com todas elas. Essa troca com os familiares é muito importante”, comenta Marta Cesaro, coordenadora pedagógica do Colégio Madre Alix. A instituição oferece, desde 2015, oficinas de tênis, caça ao tesouro, customização de roupas e desfile de fantasias, entre outras (serviço oferecido para o período integral e também para crianças do 1º ao 5º ano do ensino fundamental).

O principal ganho desses encontros nas férias é a socialização, uma vez que as crianças conhecerão colegas de outras turmas sempre a partir de atividades em grupo. Criar em equipe, compartilhar objetos e trocar informações são sempre importantes na infância, sobretudo aos alunos da educação infantil. Como estão na fase das descobertas, o contato com pares estimula as habilidades de fala, expressão corporal e respeito com o próximo. “É exatamente isso que levamos em consideração ao elaborar as oficinas: o protagonismo e a interação entre as crianças”, comenta a professora Regina. Todos os anos, a equipe do Colégio Marista Nossa Senhora da Glória elege um tema central para a realização das atividades. Em 2015, por exemplo, o escolhido foi “a fazenda” e todas as atividades seguiram por essa linha – as crianças conheceram novos animais e descobriram como cuidar de cada um deles, entre outras oficinas. Além das atividades normais, a programação ainda ganha sessões de cinema, passeios externos, piquenique, circuito de bicicleta e piscina.

Vantagens para a escola

Incluir uma programação de férias na rotina não foi um problema para o Colégio Objetivo Indaiatuba, que oferece tal possibilidade há mais de dez anos. Setores como portaria, recepção, coordenação, limpeza e cozinha, por exemplo, estão sempre na ativa devido aos cursos pré-vestibulares ministrados ao longo do ano pela instituição. “Aproveitamos essa estrutura para oferecer o serviço, destinado a alunos de até seis anos de idade”, comenta a mantenedora Loide Rosa. O berçário, que recebe crianças de até três anos, não para nunca. “A equipe não tem pausas justamente para facilitar a rotina dos pais”, ressalta. Uma das vantagens desse tipo de serviço, na opinião dela, é aproximar a comunidade escolar dos familiares – eles passam a vê-la como uma parceira capaz de auxiliá-los no dia a dia.

Para Maria Elisa, os benefícios dos cursos extras vão além da comodidade. Quando a participação de familiares ou de amigos é permitida nas oficinas, mais pessoas conhecem a infraestrutura, a filosofia e as práticas da instituição. Isso resulta em novas matrículas e numa divulgação mais ampla. Os custos destinados à programação são baixos, principalmente porque a equipe existente estará envolvida. “Além de auxiliarmos os pais, também apresentamos a escola a outras pessoas sem gastar muito”, afirma.

Como programar
Para abrir as portas durante as férias, as escolas precisam se organizar. Confira algumas sugestões de como fazer isso com base na experiência de outras instituições:

► Defina as atividades em conjunto com a equipe. É importante que isso seja feito um trimestre antes das férias, no mínimo;

► Recomende que todos pesquisem e levem sugestões para as rodadas de discussão;

► Ofereça atividades diferentes das realizadas durante o ano letivo, mas que sejam educativas e contribuam para o desenvolvimento cognitivo das crianças;

► Faça uma escala para os funcionários. É fundamental que todos descansem, por isso o revezamento deve ser planejado com bastante atenção e cuidado. Vale consultá-los sobre as preferências de períodos, o que deixa o processo mais transparente;

► Programe com antecedência a realização de reformas, reparos e alterações estruturais. Deixe para os fins de semana os serviços maiores, o que dará mais mobilidade e segurança para os alunos.

► Informe os pais alguns meses antes para que eles tenham condições de se programar;

► Abra o curso para a participação de amigos e familiares, o que contribui para a divulgação das práticas da escola.

Autor

Juliana Duarte


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