NOTÍCIA
Formas e conteúdos para ensinar e engajar o aluno estão sendo adaptados com recursos que lembram entretenimento
Publicado em 18/09/2018
A criação do YouTube em 2005 mudou radicalmente a nossa maneira de consumir informações. Com a ajuda das redes sociais e com a popularização de outras plataformas, como Netflix e Vimeo, os vídeos se tornaram a mídia preferida do público para divulgar e acessar notícias, entretenimento e, claro, conhecimento acadêmico. Pesquisa realizada pela PUC-RS com jovens de 18 a 34 anos mostra que eles buscam tutoriais e outros conteúdos on-line para se qualificar para o mercado de trabalho.
Não que as videoaulas sejam novidades. De fato, desde os primórdios do EAD, as instituições apostam nos vídeos para levar conhecimento. O que está mudando é a linguagem dessas aulas. Principalmente nas escolas de cursos livres, o que se vê são cada vez mais aulas gravadas de diversos ângulos, em ambientes externos e editadas com recursos que as fazem parecer entretenimento.
Essas adaptações estão sendo feitas para seduzir o público que se habituou com o tom, o ritmo e narrativa de jogos, séries e TED Talks (série de conferências que se tornou famosa pela clareza e objetividade dos palestrantes). Em outras palavras, essas escolas – e há algumas instituições de ensino superior nesse grupo – estão desenvolvendo novas habilidades midiáticas para promover o aprendizado a partir do novo perfil de alunos.
Edição cinemotográfica
Com 130 mil cadastrados e uma oferta de mais de 1,4 mil cursos, a EduK dá a dimensão do sucesso que os vídeos estão conquistando entre aqueles que querem aprender. A plataforma conta com 10 estúdios temáticos de gravação para suas aulas, que podem ser acompanhadas ao vivo. “Investimos até mesmo na preparação do profissional para lecionar dentro de um estúdio, com luzes e equipamentos. Muitos são ótimos professores, mas nem todos são desenvoltos na frente das câmeras”, conta Emilio Mesquita, presidente da EduK.
A transmissão ao vivo da aula, explica Emilio, é um diferencial da plataforma, já que nesse momento é possível interagir com o público por meio de chats. A edição cinematográfica, as técnicas de storytelling,os caprichados elementos visuais e recursos gráficos deixam as aulas semelhantes a documentário e reportagens.
Quem também tem bons exemplos é a Descola, plataforma de cursos on-line com 37 mil pessoas cadastradas. À frente da startup, André Tanese conta que, para chegar ao modelo atual, vários formatos foram testados. O que se consolidou foi o dos vídeos com duração máxima de sete minutos, aproximadamente, estruturados em um ciclo de aprendizado que contempla momentos estimulantes, inspiradores, de trabalho e de exercícios.
O Descola oferece 47 cursos, que atraem principalmente pessoas que querem se aperfeiçoar rapidamente no campo profissional. “Há um mundo de oportunidades”, incentiva o CEO, que faz questão de destacar que há outros recursos que podem ser combinados com as videoaulas e melhorar o aprendizado, como gráficos, materiais de leitura complementar ou até mesmo outros vídeos. “A nossa proposta é quebrar a ideia de ensino a distância e transformar em ensino on-line”, enfatiza.
Entre as instituições de ensino superior, o Senac se destaca com a criação de estúdio onde trabalham uma centena de profissionais, entre eles pedagogos, ilustradores, animadores, operadores de câmeras, cenografistas, entre outros. “Vamos avançando conforme a evolução da tecnologia. Hoje, quando falamos em vídeo, temos 15 formatos que podem ser explorados. Mas não adianta o vídeo pelo vídeo; a produção tem de fazer parte de um projeto pedagógico”, afirma Regina Helena Ribeiro, assessora em educação a distância do Senac São Paulo.
Apoio para inovar
“Esse é o nosso trabalho, fazer a ponte entre conteúdo, forma e educação. As instituições de ensino entram com o conteúdo e nós entramos com a parte de como contar essa história”, diz Eduardo Mitelman, que fundou a DNA Conteúdo de olho no potencial vídeos educacionais. “Para muitas IES faz muito sentido essa nossa aposta”, explica, já que elas estão lidando com um público fortemente arraigado no universo digital e enfrentam dificuldades para engajá-los.
Mitelman destaca que, apesar da identificação dos jovens com os vídeos, eles só valorizam os materiais que têm qualidade e bom conteúdo. Outro aspecto importante é variar a edição para que o conteúdo possa adquira formatos que interesse a pessoas de diferentes perfis.
A SambaTech também está apostando nesse nicho. “A gente acredita que o vídeo vai revolucionar todos os negócios e a educação é o principal deles”, diz Pedro Fillizola, diretor de marketing. A plataforma criada pela start-up se dedica exclusivamente à distribuição dos vídeos, sem participação na produção deles. “A maneira que uma IES tem de se expandir, sem precisar construir prédios, é pelo EAD. Ao longo do tempo, vimos que o público desse serviço precisa ser engajado e nosso produto pode contribui para esse engajamento”, finaliza.
Leia também:
https://revistaensinosuperior.com.br/universidadecombatedesigualdade-christineortiz/