Reitor do Mackenzie, Benedito Guimarães, considera a resolução ilegal por ferir a LDB. Já Luiz Curi, presidente do CNE, enxerga benefícios para o setor
Publicado em 12/06/2019
Os cursos de pós-graduação lato sensu, que incluem as especializações e os MBAs, são tradicionalmente realizados por instituições de ensino superior e escolas de governo. Porém, novos competidores devem entrar nesse mercado: as instituições do mundo do trabalho, que poderão oferecer esses cursos de acordo com uma resolução publicada pelo CNE (Conselho Nacional de Educação) em abril de 2018.
A redução do percentual de mestres e doutores no corpo docente, que caiu de 50% para 30%, e a substituição do trabalho de conclusão de curso por outros projetos e atividades foram outras novidades anunciadas no documento.
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O CNE está preparando uma nova resolução para estabelecer as normas de avaliação e credenciamento das empresas e demais institutos interessados em entrar no setor.
A nova regra divide especialistas. O presidente do CNE, Luiz Curi, alega que o objetivo é flexibilizar e expandir o setor. Outro benefício é a oferta de programas alinhados com as demandas do mercado.
Já para o reitor da Universidade Mackenzie, Benedito Guimarães Aguiar Neto, a ação é ilegal. “Fere frontalmente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que estabelece que a educação superior será realizada exclusivamente por instituições de ensino superior. Isso é preocupante”, critica. Por conta disso, o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, presidido por Aguiar Neto, pediu ao MEC a revisão da resolução.
O presidente da Abipg (Associação Brasileira das Instituições de Pós-Graduação), Marcelo Saraceni, vai na linha de Curi: ele é a favor da resolução por entender que diversas instituições do mundo do trabalho têm condições de oferecer cursos de alta qualidade.
As especializações estão crescendo no Brasil, o que realça a importância do debate. Aguiar Neto contou que houve uma retração na procura por cursos de pós-graduação no Mackenzie no ano passado. Neste ano, contudo, o cenário se inverteu. Na modalidade EAD, o aumento foi de 72%, e no presencial, de 28%.
E por falar em modalidade de ensino, o reitor acredita que os cursos presenciais latu sensu tendem a desaparecer. “Não faz sentido com a realidade dos cursos híbridos que hoje são o destaque”.
A força dos cursos híbridos também é vista por Daniel Castanho, presidente do conselho de administração da Ânima Educação. “Acredito que os cursos serão híbridos e a avaliação não será mais em prova e sim por feedback, porque um modelo de ensino superior baseado exclusivamente em conteúdo não se sustenta mais. Hoje o conteúdo está em todo lugar”, alertou.
Em relação à não obrigatoriedade do trabalho de conclusão de curso, a assessoria jurídica do Semesp, Roberta Lins Estevam, enxerga que “as instituições de ensino terão mais autonomia para inovar nos cursos e vinculá-los ao mercado de trabalho, o que é uma vantagem”. No lugar do tradicional TCC, elas poderão, por exemplo, incentivar a criação de startups ou a entrega de um produto ou serviço.
Todas as fontes citadas participaram de um evento realizado pelo jornal Folha de S. Paulo com patrocínio da Universidade Mackenzie sobre o tema, que também contou com a presença do diretor-executivo do Santander Universidades, Steven Assis. Ele revelou que o grupo já investiu globalmente 2,6 bilhões de euros em educação, principalmente em bolsas de estudos, e deu um conselho: “a empresa que não olhar para a educação ficará para trás”.
Em função do contexto político, o seminário também abordou as medidas do governo Bolsonaro para o setor. “Lamentamos os cortes feitos pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que são chamados de contingenciamento, mas são cortes. As pesquisas custam muito”, criticou o reitor do Mackenzie, Benedito Guimarães.
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