NOTÍCIA
É preciso uma política pública que incentive a inteligência artificial logo no início do ensino fundamental, o que inclui capacitação docente
Publicado em 25/08/2022
Infelizmente, o Brasil está perdendo uma nova onda científica que poderia alavancar o país e, principalmente, aumentar a qualidade de vida da população. Já deixamos passar a onda do hardware, posteriormente a onda do software e agora a grande oportunidade da inteligência artificial (IA). Ela passa e o país não se movimenta para “dropar” esta oportunidade incrível de elevação de patamar.
O mapeamento da Unesco sobre a curricularização da IA para alunos do ensino básico demonstra esta grande oportunidade que o Brasil tem de inserir o conceito de inteligência artificial, machine learning, deep learning e cognificação nas escolas.
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Não aprendemos matemática para nos tornarmos matemáticos. Não aprendemos história para sermos historiadores. Nem aprendemos língua portuguesa para virarmos escritores ou professores de português. Devemos compreender inteligência artificial para nos tornarmos profissionais mais eficientes, para que tenhamos mais segurança, para que possamos economizar tempo com atividades repetitivas. Enfim, para que sejamos mais felizes.
Como demonstra o estudo da Unesco, a implementação da IA em currículos de ensino básico está apenas engatinhando na maioria dos países e, aqui no Brasil, nem sequer nasceu. Daí a grande oportunidade de uma política pública que incentive a implementação – de forma urgente – dos conceitos de inteligência artificial junto com o desenvolvimento do pensamento computacional desde o ensino fundamental.
O primeiro passo para esse projeto ímpar na educação brasileira passa, obviamente, por uma grande oferta de capacitações presenciais e remotas dos professores, com o grande objetivo de desmistificar os conceitos de IA e, principalmente, enaltecer o seu potencial de colaborar com a própria educação do Brasil.
Somente a IA na educação pode proporcionar escolas que implementem de fato o Adaptive Learning, o Agile Learning, o Learning with Cause, o Learn for Real, o Learning To Do, o Reflective Learning e uma Evaluation by Skills. Ou seja, tudo aquilo que os educadores tanto buscam. As soluções cognitivas que aprendem com a utilização podem ser as grandes aliadas dos professores em busca de um ensino que faça sentido para as novas gerações.
Com a popularização dos ensinos remotos assíncronos e síncronos, as capacitações podem ocorrer de forma ágil pelo Brasil todo, atreladas à capacitação. Deve-se criar um programa de incentivo para que os professores busquem e implementem soluções cognitivas em seus currículos. Deve-se despertar no professor a vontade de “como eu posso ensinar história com mais eficiência e prazer utilizando a inteligência artificial”, “como a matemática pode se tornar mais tangível com uma solução computacional cognitiva” e assim por diante. Com estas implementações, o professor começa a aproximar-se e a apropriar-se da IA. Isto faz com que ele tenha mais segurança e predisposição para transferir os conhecimentos de inteligência artificial ao aluno.
O aprendizado para a vida real com o uso da IA pode fazer toda a diferença para as crianças e para os jovens. Ao relacionarem o que estão aprendendo com a vida real, a curiosidade é estimulada e a vontade de saber potencializa-se, pois percebem um conhecimento que poderá ter aplicação imediata e ajudá-los em suas vidas. O multiverso pode trazer tudo isto para os momentos de aprendizado junto com os professores e até com a família.
E, por fim, muito se fala na aprendizagem adaptativa, porém poucas iniciativas são observadas nas escolas, principalmente no Brasil. A aprendizagem adaptativa pode ser apoiada pela inteligência artificial, pois com ela é possível entregar experiências de aprendizagem personalizadas que atendem às necessidades únicas de cada aluno pois, como sabemos, cada indivíduo é único e merece ser tratado assim.
Depois dessa primeira etapa de match entre professores do ensino fundamental e médio com a IA, parte-se para um processo gradativo e cuidadoso de inserção dos conteúdos de IA nas disciplinas de forma transversal, onde todos os professores ensinariam IA dentro de seus programas, sempre em prol de uma sociedade mais eficiente. Com isto, os professores e os alunos poderão ir sentindo como a inteligência artificial pode estar relacionada com matemática, filosofia, biologia, língua portuguesa, geografia, educação física, história etc.
Sabemos o quanto os robôs estão entrando em nossas vidas e nos substituindo em tarefas repetitivas, perigosas e até impossíveis de serem feitas por humanos. Neste contexto, entender os robôs está sendo pré-requisito para os profissionais das mais diversas áreas do conhecimento. Quando iniciamos este aprendizado desde criança, temos muito mais chances de sucesso.
Após estes três movimentos, vem a parte mais fácil que é inspirar os jovens a compreenderem como a IA está presente em nossas vidas e, principalmente, como será o futuro. Podemos até afirmar que o futuro é incerto, mas com toda certeza a IA estará presente nele e o jovem sabe disto.
O aprendizado para a vida real com o uso da IA pode fazer toda a diferença para as crianças e para os jovens
As soluções cognitivas estão por toda a parte e só devem aumentar. Tudo está ficando mais inteligente: carros, relógios, aviões, navios, aparelhos de celular. As cidades estão ficando mais inteligentes em prol de uma Smart Society: uma sociedade construída com base nas fusões das tecnologias exponenciais, visando privilegiar a essência humana. A Smart Society busca dar ênfase à inclusão, à sustentabilidade e à qualidade de vida – tudo o que as novas gerações buscam em seus ideais. Com isto, a inteligência artificial é um grande atalho para soluções nunca antes pensadas.
Com esse movimento cíclico de capacitação de professores, inclusão de IA nos conteúdos e inspiração dos jovens para que juntem suas mentes brilhantes com tecnologia na solução de problemas mundiais, pode-se mudar um bairro, uma cidade e até um mundo.
Não podemos deixar passar a onda da inteligência artificial, seria mais uma perda inestimável para os nossos jovens. Precisamos urgentemente de vontade política para que possamos implementar um projeto para levar a inteligência artificial para todos os alunos do ensino fundamental, principalmente para os mais vulneráveis, porque a IA pode ser o grande atalho para que eles possam ascender socialmente.
Wagner Sanchez é pró-reitor acadêmico do Centro Universitário FIAP. O artigo escrito por ele foi originalmente publicado na edição 287 da Revista Educação.