NOTÍCIA
Ao ouvir a experiência de instituições que estão há mais tempo atuando em conjunto, educadores perceberam a centralidade de três aspectos: gestão, liderança e compartilhamento de informações
Publicado em 07/11/2018
Por João Otávio Bastos Junqueira* Com colaboração de Fábio Reis**
Nos dias 10 a 12 de outubro de 2018, ocorreu nos EUA, na cidade de Norfolk, Virginia, a 50ª Reunião Anual da Association of Collaborative Leadership (ACL). A ACL congrega dezenas de consórcios e redes educacionais de colaboração com objetivos e campos de atuação diferenciados, algumas delas com mais de 100 anos de existência.
A associação reúne os líderes para instigar a troca de experiências e funciona como uma mentora de boas práticas e modelos de organização e dinâmica das redes. É comum também a ACL apontar caminhos para a captação de recursos e diminuição dos custos operacionais das instituições de ensino superior que participam das redes.
O Semesp é uma dessas instituições associadas e, desde 2016, tem participado ativamente das reuniões anuais com os objetivos de fazer networking e benchmark com as redes estadunidenses, divulgar o trabalho realizado pelas redes de cooperação coordenadas pela entidade e buscar atualizações e novidades que possam ser desejáveis e adaptáveis para nossa realidade nacional.
Por se tratar do jubileu de ouro da ACL, este ano houve uma dinâmica especial em que várias redes foram convidadas a relatar a sua origem e sua trajetória, e isso foi produtivo, pois houve resgates da história e relatos das dificuldades, erros, acertos e conquistas.
Em que pese os tempos e as realidades serem diferentes, a reunião permitiu um belo aprendizado e foi uma oportunidade única de perceber quais cenários, nós do Semesp, já superamos e quais vislumbram-se à frente.
Dentre as inúmeras informações passadas e dos vários insights gerados, gostaríamos de chamar atenção para os que consideramos mais relevantes e que podem nos ajudar. Podemos evitar alguns erros e/ou diminuir as possibilidades de tomarmos decisões que não irão contribuir com a dinâmica das nossas redes de cooperação. O aprendizado irá nos ajudar a intensificar a cooperação, a economizar recursos financeiros e tempo, já que há soluções para problemas que estamos vivenciando.
Em praticamente todos os relatos das redes foi muito recomendada a necessidade de uma estrutura de gestão, que pode ser variável em função do tamanho e complexidade de cada uma das redes, para cuidar exclusivamente dos seus assuntos e interesses. Não recomendam em hipótese alguma que essas questões sejam tratadas apenas quando os representantes das IES se encontram, ou que alguém faça isso quando tiver “tempo sobrando”.
Recomendaram fortemente que as redes, isoladamente ou de forma integrada, criem programas de formação de lideranças que, preferencialmente, sejam aplicados a cada IES de forma itinerante, para “forçar” os encontros e conhecer as realidades de cada uma de suas componentes.
Outra dica importante foi criar um ambiente para compartilhar todas as informações, demandas, ideias, propostas geradas pela dinâmica de trabalho integrado das redes. Quanto mais soubermos uns dos outros, mais chance de sinergia haverá. Com o passar do tempo e a consolidação do espírito de confiança e de colaboração, essas informações transcenderão o ambiente das redes, indo para todas as IES envolvidas.
No decorrer do evento, houve vários relatos de ações bem-sucedidas que geraram grande economia. Um dos consórcios, o Big Ten, que congrega 14 Universidades dentre as maiores dos EUA, relatou que para cada um dólar investido no consórcio, havia um retorno de 34 dólares. Um investimento com altíssima taxa de retorno.
O que podemos trazer como feedback de nossas ações brasileiras é que estamos no caminho certo, já que valorizamos o trabalho colaborativo, buscamos o fortalecimento das nossas IES, apostamos na criação de vínculos marcados pela confiança, num movimento de complementariedade e de visão de longo prazo. Avançamos muito num curto tempo.
Toda IES verdadeiramente comprometida com a qualidade da educação, e por consequência com o futuro do país, deverá ser sustentável e buscar soluções de forma colaborativa para os desafios do Brasil. Por isso a importância dos vínculos com a rede. As ações colaborativas são sempre mais consistentes e geram mais impacto do que a atuação isolada.
Para mantermos a pluralidade e a diversidade do setor, que só faz bem ao país, as pequenas e médias IES precisarão continuar fortes e significativas para a sociedade, e deverão levar adiante os seus diferentes propósitos e missões.
Isso só será possível com união, solidariedade, confiança e cooperação. Esses valores deverão se sobrepor à ganância, à competição desleal e ao crescimento a todo custo, cuja consequência pode ser a ameaça de constituírem-se oligopólios, nocivos a qualquer setor da economia.
As redes de cooperação constituem uma das boas iniciativas do Semesp para seguirmos oferecendo grande e diversificada oferta de ensino superior num país que ostenta baixos índices de acesso aos bancos universitários.
Como dizemos no interior paulista, “capivara que anda fora do bando vira comida de onça”. Unamo-nos, pois as onças estão soltas.
*João Otávio Bastos Junqueira é reitor da Unifeob e diretor de Relações Internacionais do Semesp.
**Fábio Reis é diretor de Inovação Acadêmica e Redes de Cooperação do Semesp.
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