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Novas perspectivas para o estudo da infância

Pesquisadores se esforçam para entender a infância a partir da ideia de que ela é uma construção histórica e social, e não um conceito ligado à imaturidade biológica

Publicado em 25/03/2013

por Teresa Cristina Rego

Em uma das passagens de A Evolução Psicológica da Criança, publicado originalmente em 1941 pelo médico, psicólogo e pesquisador francês Henri Wallon, encontramos algumas ponderações provocativas e extremamente pertinentes para o pesquisador contemporâneo, dentre elas a que foi escolhida para ser utilizada como epígrafe deste texto de apresentação. Em outra passagem, de modo também muito procedente, Wallon pergunta: “Para a criança, só é possível viver sua infância, conhecê-la compete ao adulto. Contudo, o que irá predominar nesse conhecimento, o ponto de vista do adulto ou da criança?”. É interessante acompanhar sua resposta para a questão: “Rigorosamente falando, não existe observação que seja um decalque exato e completo da realidade. […] Não há observação sem escolha ou sem alguma relação, implícita ou não. A escolha é dirigida pelas relações que possam existir entre o objeto ou o acontecimento e nossa expectativa, em outras palavras, nosso desejo, nossa hipótese ou mesmo nossos simples hábitos mentais […]. A grande dificuldade da observação pura como instrumento de conhecimento é que em geral utilizamos um quadro de referências sem sabê-lo, uma vez que seu emprego é impensado, instintivo e indispensável […]. Caso se trate de observação, a formulação que damos dos fatos em geral corresponde a nossas relações mais subjetivas com a realidade, às noções práticas que usamos para nós mesmos na vida diária. Por isso, é muito difícil observar a criança sem atribuir-lhe algo de nossos sentimentos ou de nossas intenções. Um movimento não é um movimento, mas o que a nosso ver ele exprime. E, a menos que se tenha muita prática, é a suposta significação que registramos, omitindo em maior ou menor medida a indicação do próprio gesto. Todo esforço de conhecimento e de interpretação científica sempre consistiu em substituir o que é referência instintiva ou egocêntrica por um outro quadro cujos termos sejam objetivamente definidos […] Portanto, é de primeira importância definir claramente, para todo objeto de observação, qual é o quadro de referências que corresponde à finalidade do estudo”.


Os trabalhos apresentados neste fascículo traduzem, de certo modo, o esforço de um grupo de pesquisadores que orientam suas ações e investigações na perspectiva apontada por Wallon (mesmo que não o saibam). Por essa razão, quando organizei este volume com o propósito de apresentar, por exemplo, as proposições dos pesquisadores da hoje chamada Sociologia da Infância, imediatamente lembrei-me das colocações pertinentes feitas por Henri Wallon há décadas.

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Objeto de análise
Como explica Anete Abramowicz, em um dos textos presentes nesta revista, a Sociologia da Infância, movimento surgido na Europa e em alguns países de língua inglesa a partir de 1980, busca a compreensão da perspectiva da criança sobre o mundo, já que, geralmente, “do ponto de vista da micropolítica, do espaço local onde se relacionam e vivem as crianças, elas não dizem por elas mesmas, ou seja, são os pais, as professoras, as escolas, os médicos que falam sobre a criança, e às vezes, falam pelas crianças. Este fato indica que na ordem discursiva existem as falas que são consideradas e as falas que não são levadas em conta, como é o caso da fala das crianças e a dos loucos, por exemplo. Em geral, quando as crianças falam, dizemos que ‘é coisa de criança’, que não é algo sério, ou verdadeiro, ou que não é uma fala que faça sentido. E do ponto de vista da macropolítica, as crianças não têm nenhuma representação política e não podem se representar, ou seja, como disse Qvortrup, não são porta-vozes de si próprias”.


O artigo que abre a publicação é consagrado ao português Manuel Jacinto Sarmento, professor titular do Instituto de Estudos da Criança (IEC) e da Universidade do Minho em Portugal. Seus trabalhos são apresentados por Ana Cristina Coll Delgado, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas (RS). Além de enaltecer o importante papel divulgador das ideias inovadoras dos estudiosos da Sociologia da Infância junto a pesquisadores brasileiros e portugueses, Ana Cristina destaca as contribuições decorrentes de suas investidas com o propósito de estudar a infância numa perspectiva interdisciplinar, bem como os frutos de seu engajamento e luta no interior da própria Sociologia: “Encontramos na trajetória profissional de Manuel Sarmento um movimento contra-hegemônico de resistência frente às desigualdades geracionais, de classe, de gênero e de etnia que enfrentam as crianças em todos os continentes do mundo.”(…)


Com Manuel Jacinto Sarmento compreendemos que as crianças produzem saberes e conhecimentos sobre as experiências cotidianas das quais participam. Se pensarmos que a curiosidade, o abrir-se para experimentar o mundo, o desejo de viver e conhecer são atitudes importantes na construção de projetos de investigação, podemos inferir que as crianças também são pesquisadoras e, portanto, são competentes para a criação de outras relações sociais no mundo e nas instituições
que frequentam”.


O segundo texto analisa a obra de Alan Prout, professor de Sociologia e Estudos da Infância, no Institute of Education de uma das principais universidades do Reino Unido, University of Warwick. Seus trabalhos estão relacionados ao estudo social da infância, a participação das crianças, as relações das crianças com as tecnologias, o cotidiano infantil e as relações entre educação e saúde. O artigo, elaborado por Ângela Meyer Borba e Jader Janer Moreira Lopes, professores da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, examina o quanto a obra de Prout foi seminal na construção de um novo paradigma para os estudos sobre a infância, causando significativo impacto no cenário científico. O artigo explora também suas contribuições mais recentes, fruto de uma nova fase de pesquisa, potencialmente instigantes para alargar os horizontes da Sociologia da Infância e sinalizar novas necessidades de pesquisa, relacionadas especialmente ao caráter interdisciplinar,  ao diálogo entre diferentes áreas do saber: “Prout reconhece a necessidade de se aprofundar, de se intensificar esse encontro, de se ampliar cada vez mais o diálogo entre o que se tem de base comum e de diferenças. Tal situação torna-se necessária à medida que reconhecemos a complexidade da infância, advinda de seu caráter híbrido, da heterogeneidade da vida social, das redes e mediações de elementos que entram nessa composição, sem dicotomizar pessoas e coisas, natureza e cultura, redes sólidas, frágeis, parciais, perecíveis, que se encontram e desencontram. Nessa composição, a mobilidade e o fluxo que configuram o mundo contemporâneo devem ser considerados: fluxos de pessoas, mercadorias, imagens, valores, os quais atravessam fronteiras, fincam-se em diferentes territórios, criam lugares para a infância, lugares não estáveis, mas em constante processo, como trajetórias que se constituem”.


Perspectiva comparativa
Os instigantes trabalhos do sociólogo norte-americano William Arnold Corsaro, docente da Universidade de Indiana, Bloomington, apresentados no terceiro texto deste fascículo, são explorados pelas professoras Fernanda Müller, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), e por Ana Maria Almeida Carvalho, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). No ensaio, as autoras apresentam suas pesquisas sobre as crianças na sociedade contemporânea em perspectiva comparativa, com base em métodos etnográficos, e principalmente esclarecem as razões de Corsaro ser considerado um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da Sociologia da Infância: “Ao questionar concepções clássicas sobre os processos de socialização, substituindo a visão da criança como receptora passiva pela da criança coconstrutora de sua inserção na sociedade e na cultura; ao sustentar que a compreensão sobre a infância deve ser construída com a criança, e não somente a respeito dela; ao identificar processos sociais complexos e dignos de estudo no mundo da criança, superando assim o foco no desenvolvimento individual em termos de seus desenlaces no futuro, Corsaro contribui para a consolidação da Sociologia da Infância e para a reflexão sobre caminhos alternativos para práticas pedagógicas e políticas públicas de Educação Infantil” .


Anete Abramowicz, professora da Universidade Federal de São Carlos, apresenta os trabalhos da francesa Régine Sirota, nome de destaque da Sociologia da Infância Francesa, que é docente e pesquisadora na Universidade Paris Descartes. Atualmente, além de diretora do Departamento de Ciências da Educação e membro efetivo do Centre de Recherche sur Les Liens Sociaux (CERLIS), em Paris, ela é também membro de comitê internacional de inúmeras revistas. O texto traça um panorama do programa de pesquisa de Régine Sirota traduzido em seu esforço em desenvolver investigações sobre temas ainda pouco explorados (como o estudo das festas de aniversário das crianças entendidas como um processo de socialização e civilidade) e em sua dedicação para constituir o campo da Sociologia da Infância. Com tal propósito Anete apresenta uma síntese de alguns traços importantes reunidos por Sirota que ajudam a definir as características da Sociologia da Infância de língua inglesa e francesa: “Primeiro, a infância é uma construção social. Ou seja, para entender as crianças é preciso analisar de que maneira a infância é vista pela sociedade em questão. A infância não é um fenômeno ligado à imaturidade biológica, não é mais um elemento natural ou universal dos grupos humanos, é histórico e social. Essa desnaturalização da definição, sem negar a imaturidade biológica, enfatiza a variabilidade dos modos de construção da infância em todas as dimensões históricas e reintroduz o objeto infância como um objeto ordinário de análise sociológica. Segundo, a infância é considerada não simplesmente como um momento precursor, mas como um componente da cultura e da sociedade. Terceiro, a infância se situa como uma das idades da vida que necessitam de exploração específica, como a juventude ou a velhice, já que é uma forma estrutural que jamais desaparece, não obstante seus membros mudem constantemente e, portanto, a forma evolua historicamente. Quarto, as crianças devem ser consideradas como atores em sentido pleno e não simplesmente como seres em devir. Quinto, as crianças são ao mesmo tempo produtos e atores dos processos sociais. Trata-se de inverter a proposição clássica, não de discutir sobre o que produzem a escola, a família ou o Estado, mas de indagar sobre o que a criança cria na intersecção de suas instâncias de socialização. Isto quer dizer que a criança é ativa em seu processo de socialização. E, por último, a infância é uma variável da análise sociológica que se deve considerar em sentido pleno, articulando-a a variáveis clássicas como a classe social, o gênero, ou o pertencimento étnico”. 


Metodologias
O quinto texto, elaborado por Maria Letícia Barros Pedroso Nascimento, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp), analisa a profícua obra do dinamarquês Jens Qvortrup, professor emérito da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU), em Trondheim, Noruega, considerado um dos fundadores e principais teóricos da Sociologia da Infância. O artigo possibilita entender não somente os traços da trajetória profissional e do programa de pesquisa de Qvortrup, como também os pressupostos teóricos e metodológicos que sustentam as formulações e conceitos vigentes nesse campo de estudo. Ao analisar as principais teses elaboradas pelo autor, Letícia conclui que elas: “trazem os elementos necessários para a compreensão das crianças como sujeitos sociais, capazes de produzir mudanças nos sistemas nos quais estão inseridas, ou seja, as forças políticas, sociais e econômicas influenciam suas vidas ao mesmo tempo que as crianças influenciam o cenário social, político e cultural”.


O sexto artigo é de autoria de Tizuko Morchida Kishimoto, professora da Faculdade de Educação de São Paulo. Ele trata da obra do pioneiro pesquisador francês Gilles Brougère, estudioso que apresenta uma reflexão muito interessante  sobre o tema do brinquedo e da produção cultural  e também discute a  atual  necessidade de encontrar alternativas pedagógicas que coloquem no mesmo espaço as formas lúdicas e educativas, com a devida clareza sobre as características de cada uma. Nas palavras de Tizuko: “Compreender o significado do brincar na produção cultural infantil e nas interfaces entre o brincar e o educar será o desafio enfrentado neste artigo com o apoio de Gilles Brougère, renomado pesquisador francês que utiliza as Ciências da Educação para esclarecer tais questões. O texto propõe apresentar o pesquisador, discutir suas ideias e pesquisas sobre as relações entre o brinquedo e as culturas da infância e suas implicações na educação.


Importância do brincar
O foco de suas pesquisas incide sobre temas como o brinquedo, a cultura infantil de massa, as relações entre o jogo (abordagens sociológicas e pedagógicas), a educação pré-escolar comparada e a educação informal.


O sétimo texto aborda as instigantes ideias do revolucionário educador italiano Loris Malaguzzi, um autêntico representante da força criativa das experiências pedagógicas das escolas de Reggio Emilia para a primeira infância. O artigo, escrito pela professora  Ana Lúcia Goulart de Faria da Faculdade de Educação da Unicamp e por Adriana Alves Silva, doutoranda na mesma instituição, apresenta, de modo envolvente e apaixonado, traços presentes na trajetória do pesquisador, marcado pelas diversas relações afetivas e políticas com diferentes atores sociais do complexo campo da educação (inclusive relatam sua amizade com Paulo Freire) e, principalmente, as bases  e princípios em que se assentam  a pedagogia malaguzziana. Na avaliação das autoras, em sua trajetória:  “ele manteve um profícuo diálogo com a política em suas mais diversas facetas, buscando a participação popular; enfrentando os desafios do trabalho coletivo, em especial incentivando a importância da pesquisa, do estudo, da exigência rigorosa e constante na formação de professores e professoras; e principalmente inovando na consciência coletiva das cem linguagens das crianças através de um projeto estético que revolucionou toda uma experiência histórica em educação” (…)


Experiência italiana
A partir da década de 1970, é intensificado o trabalho de continuidade da participação das famílias na administração das escolas de Reggio Emilia como um valor imprescindível, tendo como base o protagonismo das crianças e a formação exigente e constante das professoras. Dessa forma tornavam-se possíveis os estudos e as pesquisas acerca da experiência local, que ficou conhecida em toda a Itália, consolidando uma pedagogia da escuta, das relações e das diferenças que estava sendo construída no norte italiano.


O oitavo texto, elaborado pela professora Flávia Schilling, da Faculdade de Educação da USP, apresenta uma introdução ao pensamento do autor espanhol Jorge Larrosa Bondia, professor titular de Teoria e História da Educação na Universidade de Barcelona. Seus textos, ainda pouco conhecidos entre aqueles que estudam a primeira infância, costumam ter grande receptividade em seu pais de origem, no Brasil e na América Latina de modo geral. Eis a proposta do artigo de acordo com Flávia: “Seu trabalho com a literatura como lugar do pensamento, da experiência na prática pedagógica, suas leituras sobre o dispositivo pedagógico, sobre a diferença, mostram um autor inquieto, que busca, como ele próprio diz, contradizer-se. Ou melhor, dizer-se de outras maneiras, a partir de outras perguntas que emergem, pois vivendo se aprende e o que se aprende é fazer maiores perguntas.


Neste pequeno texto introdutório, apresentaremos sua proposta de um método, o ensaio, como um lugar possível para pensar o presente. A seguir, continuando seu caminho, traremos uma apresentação dos dispositivos pedagógicos, das linhas de força que se reiteram nas práticas educacionais. Concluiremos com algumas reflexões sobre a literatura e o pensamento, a liberdade e o riso. Este texto terminará com um convite à leitura dos trabalhos e ensaios de Jorge Larrosa e da literatura”.


O penúltimo texto que compõe esta publicação foi elaborado por Tatiana Noronha de Souza, professora da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Jaboticabal), e Maria Clotilde Rossetti Ferreira, professora da Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto). Ele analisa traços da vida e obra da prestigiada  italiana Tullia Musatti, que é pesquisadora no Instituto de Psicologia do Conselho Nacional de Pesquisa (CNR), em Roma, orientadora de teses de doutorado em Psicologia da Interação, Comunicação e Socialização, na Universidade La Sapienza, em Roma, e professora nos cursos de mestrado voltados para coordenadores pedagógicos de instituições de educação infantil, na Universidade de Milão e na de Florença. Além de realizar estudos sobre temas relevantes relacionados  à qualidade de vida das crianças nas instituições educativas (dentre eles:  interações, organização dos espaços, avaliação de instituições, sistemas educacionais e políticas para a infância), é uma profissional engajada, que  atua politicamente em diversos espaços, em defesa da educação infantil e realiza  consultorias em sistemas de creches e pré-escolas de várias cidades italianas. Num texto generoso em informações e rico em detalhes, as autoras avaliam a relevância e originalidade dos trabalhos de Tullia:”Podemos, então, observar que Tullia iniciou seu trabalho de pesquisadora com questões pontuais da Educação Infantil, tais como desenvolvimento e interação de crianças e formação de professores e encaminhou suas pesquisas para questões globais do atendimento infantil, tais como as políticas e avaliação de sistemas de educação infantil. Verificamos em suas pesquisas que trata da criança em sua cultura, e não uma criança “pinçada” descontextualizada do seu meio. Trata-se de uma criança em relação ao ambiente em que se encontra, que nele se desenvolve, e a preocupação com a qualidade das experiências que lhe são propostas passa a ser de fundamental importância.


Sua trajetória nos mostra um grande engajamento na melhoria da qualidade de vida das crianças, e indica que devemos olhar para questões mais amplas, além daquelas que ocorrem dentro das instituições. Será somente a atuação em todas as dimensões e o olhar para a criança em sua completude, que poderão levar à melhoria da qualidade de vida da infância”.


A criança filósofa
Encerra o volume o inspirado artigo escrito por Walter Omar Kohan,  professor  de filosofia da educação na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj),  sobre o rico legado de Matthew Lipman. O filósofo e educador norte-americano, recém-falecido, ficou conhecido em várias partes do mundo por ter idealizado um programa de filosofia para crianças. Seu propósito era auxiliar as crianças a pensar, a estabelecer relações, fazer críticas, esclarecer conceitos, discutir as razões, explorar pontos de vista alternativos, identificar os pressupostos, consequências, ou inferências que se seguem do que elas pensam. São bastante elucidativas as reflexões realizadas por Walter sobre os esforços de Lipman:


“Nas últimas páginas da sua autobiografia, Matthew Lipman pergunta se sua empreitada teve êxito. Ele não tem dúvida em responder afirmativamente. Sustenta que, uma vez instalada nos currículos do Ensino Fundamental, a filosofia ali permanecerá por muito tempo; porque, embora possam surgir outros programas de filosofia diferentes do seu, outras perspectivas filosóficas além da sua, ele considera que nenhuma disciplina pode fazer o que a filosofia faz:  ajudar as crianças a pensar de forma crítica, criativa e cuidadosa sobre si mesmas e o mundo que as rodeia. Este é o legado de Matthew Lipman e da sua fundação, sólida e aberta ao mesmo tempo, e que excede amplamente a forma específica que ele desenhou e pela qual lutou incansavelmente para ver a filosofia praticada nas escolas.


Como uma criança, Matthew Lipman perturbou o mundo da filosofia e da educação. Fez o que não se esperava dele. Foi um infante no tão adulto mundo da academia filosófica. Por sobre todas as coisas, foi um educador sério e comprometido que, para além de seu programa, educou na filosofia e na infância, abriu um mundo nelas para os que tivemos a alegria de conhecê-lo. Seguramente, depois que ele se meteu em nossas vidas, já nada foi da mesma maneira. O mundo se tornou, em certo sentido, mais infantil e, em outro sentido, mais filosófico. E tudo por tentar levar adiante um contrassenso. Como uma criança irreverente…”.


Foi um bom desafio organizar esta revista. É com prazer que apresento todo este rico material ao público leitor, com a esperança de que ele permita a educadores e pesquisadores conhecer não só a pluralidade de tendências, como também algumas das principais mudanças de rumos que marcam os estudos relacionados à infância nas últimas décadas. Quem sabe isso nos ajude a ampliar nossos olhares para as crianças, sempre tão encantadoras e surpreendentes.


Referência bibliográfica
Wallon, H. A Evolução Psicológica da Criança. Trad. Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, [1941] 2007.

Teresa Cristina Rego é professora livre-docente da Faculdade de Educação da USP e coeditora da Revista Educação e Pesquisa (Feusp). É mestre e doutora em Educação pela USP e pós-Doutora pela Universidad Autónoma de Madrid. É autora, entre outros, de Vygotsky: uma Perspectiva Histórico Cultural da Educação (Vozes, 22ª. ed., 2011) e Memórias de Escola: Cultura Escolar e Constituição de Singularidades (Vozes, 2003). Pela editora Segmento coordenou as coleções Biblioteca do Professor (2008), Pedagogia Contemporânea (2009), História da Pedagogia (2010) e Educadores Brasileiros (2009 e 2010).

Autor

Teresa Cristina Rego


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