NOTÍCIA

Ensino edição 227

Estratégias de sobrevivência para as pequenas e médias instituições

Compartilhar profissionais e serviços e apostar no EAD são algumas medidas aconselhadas para superar as adversidades do novo cenário

Publicado em 04/04/2018

por Redação Ensino Superior

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Por Romário Davel

Segundo dados do Censo 2016, o Brasil possui 2.407 instituições de ensino superior (IES). Destas, 2.111 são particulares – e elas estão em expansão. Em relação a 2015, o Censo aponta para 42 instituições a mais.

O crescimento é justificado. Visto que o processo de autorização de uma IES demora, em média, dois anos e meio, aquelas que entraram em operação em 2016 fizeram a solicitação de abertura entre 2013 e 2014, época em que as matrículas cresciam de forma significativa em função do bom momento econômico e, principalmente, do Fies.

Em 2014, o percentual de alunos atrelados ao programa de financiamento governamental ultrapassou a casa dos 30% na modalidade presencial. Esse recurso extra trouxe fôlego para que o ensino superior presencial continuasse crescendo. A partir de 2015, contudo, o cenário mudou drasticamente com a restrição do financiamento público e a consequente queda na captação de alunos nos cursos presenciais – problema que já dura dois anos e que pode ter levado à descontinuidade de 37 instituições que estavam ativas no ano de 2015 e desapareceram no Censo de 2016.

Quanto ao número de estudantes, o ensino superior privado conta com 6 milhões de matrículas (presencial e EAD), o que dá uma média de 2,8 mil alunos por instituição. Porém, a grande maioria não chega a ter essa média. O conjunto de instituições de pequeno porte é considerável: 1,3 mil IES, entre as 2.111 em funcionamento na rede privada, não chegam a 1,2 mil alunos.

Essas instituições são as mais vulneráveis no atual cenário, pois dificilmente se observa equilíbrio econômico em empreendimentos educacionais com quantidade de alunos inferior a 1,2 mil na graduação. Elas são as que mais precisam crescer.

Outro aspecto relevante é a quantidade de pequenas instituições em fase de implantação: 44% apresentam menos de 500 alunos (934 IES). Estas, em sua grande maioria, estão correndo o risco de desaparecer caso não se aliem a um conjunto de instituições menores ou a grandes grupos educacionais. A escala é cada vez mais importante no setor.

A conta é simples: há uma estrutura mínima necessária para o funcionamento e o corte de gastos não pode avançar sobre ela. Uma IES em fase de implantação precisa tanto de um diretor acadêmico como uma IES de grande porte, e isso se aplica para diversas outras funções.

A reforma trabalhista pode ajudar as pequenas IES a contratar esses profissionais de forma fracionada e compartilhada. Resta saber quantas adotarão essa estratégia. A estimativa é que muitas dessas 934 instituições estão ligadas a grupos educacionais ou a uma mantenedora que detém mais de uma instituição, logo, aproximadamente 300 delas podem compartilhar principalmente o BackOffice.

Ao analisar a demanda artificial gerada pelo Fies, podemos encontrar outros desafios: 305 IES de pequeno porte possuem mais de 30% de seus alunos oriundos do Fies. Elas cresceram impulsionadas pelo programa e agora precisam de alternativas para manter o mesmo ritmo de expansão.

Mas a restrição do Fies não afeta somente as pequenas, pois há 646 instituições brasileiras que ultrapassam a casa dos 30% de alunos atrelados ao programa. Estas terão dificuldades para reequilibrar suas contas, visto que as vagas de Fies não estão sendo repostas.

Com a abertura de mercado trazida pela portaria nº 11 de 20/07/17, a pressão sobre as IES de pequeno porte aumentou, pois o governo liberou a abertura de novos polos de educação a distância sem que passe pelo processo de autorização do MEC. Instituições autorizadas no EAD estão na corrida de expansão e passam a competir no mercado já saturado, dividindo ainda mais a demanda.

Novos modelos de operação, como o híbrido, despontam como sendo a bola da vez do processo de crescimento para a educação superior. Esse modelo chega para disputar o aluno que rejeita a modalidade 100% a distância e possibilita a oferta de cursos que normalmente não eram disponibilizados on-line. Estamos iniciando uma competição nacional, em que as instituições podem transitar livremente e instalar uma nova operação de forma muito rápida.

Normalmente, os cursos presenciais ofertados pelas instituições de pequeno porte são de fácil substituição pela modalidade 100% EAD. Com a emergência do modelo híbrido, esse cenário se tornou ainda mais favorável, pois ele pode ser aplicado a uma gama ainda maior de formações. Somente alguns poucos cursos, como Direito, Medicina, Odontologia e Psicologia estarão fora desse movimento.

O que resta às instituições isoladas e pequenas? Algumas desaparecerão, ficando sem condições de competir. Muitas ficarão travadas no processo de regulação e não conseguirão velocidade para promover as mudanças que o mercado requer. Outras desenvolverão parcerias com instituições maiores, com autonomia universitária e credenciamento no EAD, para instalar modelos inovadores de operação, ganhando rapidez na abertura de novos cursos, por exemplo.

Esse movimento é bem conveniente para as grandes e médias instituições, pois elas podem aproveitar a infraestrutura básica existente nessas escolas menores. Seja como for, essa é a estratégia que muitas IES estão utilizando para conseguir ampliar mercado. Há ainda aquelas que encontrarão modos de superar as adversidades unindo forças com instituições de mesmo porte, compartilhando BackOffice e evitando replicação de esforços. Centrais de Serviços compartilhados surgem como alternativas aos menores empreendimentos. Esta é a hora de planejar e rever as estratégias. Esperar mudanças por iniciativa do governo não parece ser a melhor opção no momento.

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Romário Davel é consultor, fundador da Atmã Educar e presidente da D&D Educacional. Foi consultor da Hoper Educação e, em parceria com a Fundacred, está realizando um mapeamento do setor.

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Redação Ensino Superior


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