Revista Ensino Superior | Gente que nasce longe de casa - Revista Ensino Superior
Personalizar preferências de consentimento

Utilizamos cookies para ajudar você a navegar com eficiência e executar certas funções. Você encontrará informações detalhadas sobre todos os cookies sob cada categoria de consentimento abaixo.

Os cookies que são classificados com a marcação “Necessário” são armazenados em seu navegador, pois são essenciais para possibilitar o uso de funcionalidades básicas do site.... 

Sempre ativo

Os cookies necessários são cruciais para as funções básicas do site e o site não funcionará como pretendido sem eles. Esses cookies não armazenam nenhum dado pessoalmente identificável.

Bem, cookies para exibir.

Cookies funcionais ajudam a executar certas funcionalidades, como compartilhar o conteúdo do site em plataformas de mídia social, coletar feedbacks e outros recursos de terceiros.

Bem, cookies para exibir.

Cookies analíticos são usados para entender como os visitantes interagem com o site. Esses cookies ajudam a fornecer informações sobre métricas o número de visitantes, taxa de rejeição, fonte de tráfego, etc.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de desempenho são usados para entender e analisar os principais índices de desempenho do site, o que ajuda a oferecer uma melhor experiência do usuário para os visitantes.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de anúncios são usados para entregar aos visitantes anúncios personalizados com base nas páginas que visitaram antes e analisar a eficácia da campanha publicitária.

Bem, cookies para exibir.

Notícias

Gente que nasce longe de casa

Somos responsáveis por aquilo que fizermos com aquilo que fizeram de nós

Publicado em 10/09/2011

por José Pacheco

Num aeroporto afectado pela "crise" e na ressaca da tragédia de Congonhas, eu deveria efectuar um voo de conexão e tentava explicar o óbvio: Minha senhora, repare que eu já tenho cartão de embarque, não preciso de vir para esta fila.

Se lhe disseram para vir para esta fila, é porque tem de vir – nesse diálogo de surdos, a funcionária voltou-me as costas, sem me dar tempo a replicar.

Meia hora decorrida e muita impaciência acumulada, cheguei ao balcão. Mostrei o cartão de embarque: "O senhor não precisava de vir aqui para esta fila. E, agora, já fechou o check-in do seu voo – disse-me, sem me olhar. Telefonou, teclou, entregou-me um novo cartão de embarque para um voo que partiria três horas depois. Cabisbaixa, disse-me: Foi o máximo que pude fazer. Em silêncio, afastei-me.

Enquanto aguardei o tardio voo, observei os passos em volta: gente cochilando, reclamando, apática, ou resignada, tal como eu. Tive tempo para meditar, "transgredindo a ordem do superficial", e concluir que, nos grandes aglomerados humanos, as pessoas se submetem a uma forçada convivência, toleram o outro sem o aceitar, suportam um "aturai-vos uns aos outros" num incómodo mal disfarçado.

La Rochelle disse que "a cidade não é a solidão porque a cidade aniquila tudo quanto povoa a solidão – a cidade é o vazio". Um vazio com raízes que eu busco esclarecer. Inevitavelmente, a minha cultura profissional isolou as raízes de uma instituição geradora de vazios: chamou a Escola à colação. As escolas onde as funcionárias do aeroporto e os seus clientes se formaram eram arquipélagos de solidões povoados por rituais vazios de significado.

Educar é assumir responsabilidade social, solidarizar-se eticamente. Somos marcados pela incompletude, geneticamente sociais e geneticamente históricos, porque, como diria Walon ou Freire, criamos vínculos. A arte de conviver (viver com) exige uma atitude de abertura, o reconhecimento do outro e o respeito pela pessoa do outro. Mas onde se poderá aprender essa arte? Na Escola? Na Família? Na televisão? Na internet?

A educação do homem percorre caminhos sinuosos. Antes de ser escolarizada, a criança já esteve exposta a milhares de horas de televisão, sem agir criticamente sobre as mensagens, sem discernimento para se proteger de programações imbecis. Forma-se o solitário adulto espectador no vazio da indiferença: "Militares americanos bombardearam uma aldeia afegã. As bombas visavam matar talibans, mas assassinaram crianças. Para os militares o raid aéreo foi um sucesso, fundamentando: "Quem nos garante que esses meninos não viriam a ser perigosos talibans?"

Sartre estava certo de que, se não somos responsáveis pelo que fizeram de nós, somos responsáveis por aquilo que fizermos com aquilo que fizeram de nós. E eu opto por pensar nos professores que conheço, que já vão trocando uma profissão solitária por uma profissão solidária. E não se trata de uma mera troca de uma consoante por outra consoante. Trata-se de uma profunda mudança cultural. O primeiro passo dessa reconversão consiste em os professores se sentarem à volta de uma mesa, ou na relva de um parque, para se transformarem numa equipe. Um projecto faz-se com pessoas conciliadas consigo e com os seus pares, privilegiando laços afectivos.

Com esta reconfortante reflexão, aquieto-me. E o tempo de espera pelo voo fica mais breve, mais suportável. Embora saiba que ainda há muita gente distante de si própria! Como diria a Maria, "às vezes, há gente que nasce longe de casa…"



José Pacheco – Educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal)



josepacheco@editorasegmento.com.br


Autor

José Pacheco


Leia Notícias

pexels-thisisengineering-3861969

Inteligência artificial pede mão na massa

+ Mais Informações
pexels-george-milton-6953876

Mackenzie cria estratégia para comunicar a ciência

+ Mais Informações
Doc Araribá Unisagrado

Projeto do Unisagrado na Ti Araribá faz 26 anos e ganha documentário

+ Mais Informações
pexels-andrea-piacquadio-3808060

Mais de 100 IES foram certificadas com selo de incentivo à Iniciação...

+ Mais Informações

Mapa do Site

Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.