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De volta ao escritório

Envelhecimento da população e lacunas do mercado favorecem o aumento de aposentados no mercado. Estudo mostra que em 2030 os maiores de 60 anos serão quase 20% da população economicamente ativa brasileira

Publicado em 29/02/2012

por Gabriel Jareta





Corbis (RF) / Latinstock

Enquanto a contribuição dos professores aposentados no ensino superior para a Educação Básica ainda é difícil de se definir na prática, nas organizações privadas o especialista aposentado, com décadas de experiência, tempo e disposição para voltar ao mercado torna-se uma figura cada vez mais requisitada. Entre os principais motivos, está o crescimento econômico acelerado e a falta de jovens profissionais que possam ocupar cargos estratégicos nas empresas. Além disso, em alguns setores altamente especializados, como a produção de óleo e gás, por exemplo, o profissional experiente é fundamental para transferir conhecimento para as gerações mais jovens, recém-saídas dos bancos escolares.


“A economia está se readequando à nova realidade”, afirma Alexia Franco, diretora da empresa de recrutamento Hays. Em alguns países que já começaram a lidar com a questão do envelhecimento da população de uma maneira mais direta, casos da França ou da Alemanha, reformas mais profundas nos sistemas de aposentadoria tiveram de ser feitas para equilibrar a previdência social, apesar dos protestos da população. No Brasil, embora ainda não haja um debate amplo sobre a necessidade de alterar as regras da aposentadoria, algumas questões sobre o idoso no mercado já começam a fazer parte da pauta política. Um projeto de lei do senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), em tramitação na Câmara dos Deputados, prevê que o aposentado que retornar ao trabalho possa voltar a receber alguns benefícios que cessam com a aposentadoria, como auxílio-doença e auxílio-acidente.


A preocupação com o retorno dos aposentados ao mercado tem respaldo nos números. De acordo com o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009 apontam que 6,36 milhões de pessoas com 60 anos ou mais estavam trabalhando no período – segundo o Censo 2010, há 20,5 milhões de pessoas nessa faixa de idade entre os mais de 190 milhões de habitantes. Desses idosos ocupados, pelo menos 1,5 milhão estava na condição de empregado (o volume restante inclui desde trabalhadores autônomos e empregadores até empregados domésticos e não remunerados).


A população idosa no Brasil também deve aumentar nas próximas décadas, ocupando uma fatia maior da população economicamente ativa. Segundo estudo realizado pela Hays e pela consultoria Oxford Economics, em 2030 o país deverá somar 16,2 milhões de pessoas com 65 anos ou mais de idade, o que equivaleria a 19,7% dos economicamente ativos. Em números totais, o Brasil é o quarto país do mundo em previsão de crescimento da população idosa. A líder do ranking, China, deverá contar com cerca de 121 milhões de idosos a mais até 2030, seguida por Índia (64,8 milhões) e Estados Unidos (32 milhões).


Na prática
A maior parte da população de idosos no Brasil hoje é formada por pessoas que não atingiram o nível superior – mais do que isso, ficaram longe de alcançá-lo. Segundo dados da Pnad de 2007, apenas 13% da população com 65 anos ou mais contava com pelo menos nove anos de estudo (no Sudeste, onde foi registrado o índice mais alto, essa fatia representava 17%). Embora seja difícil prever como estará a condição de anos de estudo dos idosos em 2030, a realidade atual é de que aqueles profissionais com maior especialização são os mais requisitados no mercado de trabalho. “Temos observado um movimento grande na área técnica, em áreas em que o Brasil precisa de mais mão de obra qualificada, como óleo e gás, energia, saneamento e infraestrutura”, diz Alexia Franco, da Hays.


Segundo Alexia, o que as empresas esperam dos aposentados que retornam ou permanecem no mercado é um papel também de formador das gerações mais jovens. “São duas situações: uma é aquela do profissional com perfil técnico, que vai transmitir know-how aos juniores, e a outra é a do consultor com viés mais forte de gestão, com um perfil de coaching”, aponta. A presença dos mais idosos também exige algumas adaptações por parte da organização, com uma estratégia diferente de abordagem, seja oferecendo horários mais flexíveis, reduzidos, e uma perspectiva de trabalho interessante. “O executivo sênior valoriza muito mais o projeto do que a remuneração”, observa.


A adaptação do pessoal mais velho aos atuais códigos do mercado também não parece ser um problema frequente, de acordo com Alexia. Pelo contrário, esse profissional está maduro o suficiente para lidar com as exigências e a ansiedade dos mais jovens. “Quando a pessoa tem o conhecimento, dificilmente alguém a questiona. Isso a credencia até a contribuir para a formação do mais jovem”, diz. Segundo ela, no entanto, as duas áreas com maior perspectiva de crescimento diante do aumento do número de idosos no país são a da saúde e a da educação. A primeira, por motivos óbvios de cuidado com o avanço dos anos, e a segunda, para preparar esse público para o atual perfil do mercado altamente tecnológico.


Para o professor Marcos Cobra, autor de livros na área de marketing e aposentado da Fundação Getulio Vargas, está se abrindo uma grande possibilidade de educação para profissionais seniores no país, especialmente voltada para aqueles que não têm formação de pós-graduação. O Instituto Latino-Americano de Marketing, que ele preside, passou a oferecer cursos de pós-graduação stricto sensu em parceria com a Universidade de la Empresa, do Uruguai, para atender a esse público mais experiente – que começa a ocupar também as salas de aula de instituições superiores. “Há um grande mercado de professores que são de fato, mas não de direito. Eles têm o notório saber, mas não a titulação”, observa.


Leia mais:

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Gabriel Jareta


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