NOTÍCIA
Um navio no espaço: cinema-âncora e o pensar o presente e a educação
Publicado em 12/09/2012
É sempre mais difícil
ancorar um navio no espaço.
(Ana Cristina César, no poema
Recuperação da Adolescência).
O livro A Educação por Vir nos apresenta uma coleção de análises que, partindo de enredos de filmes, procuram ultrapassar os limites atuais da experiência educacional. Falar em coleção significa reconhecer o trabalho dos organizadores na orientação aos autores, implicando-os em um projeto comum que, ao marcar a semelhança no nível da estrutura, produz unidade ao mesmo tempo que confere a cada um dos 18 artigos a liberdade da singularidade.
No texto que funciona como introdução, Aquino oferece ao leitor a explicação sobre a organização interna de cada artigo e esclarece de partida que o objetivo do livro não consiste em esquadrinhar o tema da educação dos filmes escolhidos senão tomá-los como espécies de plataformas (de salto), a fim de “[…] perscrutar criticamente inclinações, propensões, marcas discretas alinhadas a certas proposituras socioculturais que hoje se apregoam, para que seja possível nos lançar rumo ao campo dos possíveis em educação” (p.19).
Tomando filmes que, majoritariamente, são ficções científicas e/ou distopias, duas estratégias se desdobram, ambas ligadas às provocações de autores reconhecidos como pós-estruturalistas (M. Foucault, G. Deleuze, F. Guattari, G. Agamben, N. Rose, entre outros) e expressas nos dois eixos sobre os quais giram as duas partes: a primeira consiste em tomar tais ficções como eloquentes em relação aos limites da experiência do presente – as saturações do controle, ainda que cautelosamente projetadas em futuros, incertos ou distantes, falam daquilo que somos hoje e dos mecanismos que já estão em movimento. Não à toa, os artigos que aparecem nessa primeira parte encontram nas referências bibliográficas amplo apoio para a compreensão das sociedades apresentadas nos filmes.
Mas como reconhecer os limites do que somos é fundamental para que possamos recusar o que somos (conforme a proposição foucaultiana), examinando as fabulações da resistência na segunda parte, procura-se tomar os filmes nas fissuras que abrem, nos temas e problemas que propõem e que nos ajudam a reconhecer os possíveis em nossa experiência atual: as maneiras pelas quais poderemos destravar a armadilha do presente, reativando o caráter agonístico da história. Nesse sentido, no mar discursivo no qual deriva a educação, o que os autores propõem é um desafio ao pensamento: abrir-se a um porvir cujos contornos ainda não são conhecidos, lançar âncoras na direção do impensado de maneira a rasgar no presente os esteios de um futuro outro, forjado na diferença em relação ao atual.
Fabiana A. A. Jardim é professora da área de Sociologia da Educação no Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação (Feusp)