De líder anti-apartheid a presidente da África do Sul, uma história sobre respeito em versão ilustrada
Publicado em 01/08/2013
“São 10 mil marchando unidos contra o aumento do preço da passagem do ônibus que os leva para o trabalho. Nelson está com eles. Repetem a mesma coisa nas manhãs seguintes. No 9º dia, finalmente conseguem a vitória!” Esta parece a história que se viu nas grandes cidades brasileiras em junho de 2013, mas é sobre os moradores da favela Alexandra, na África do Sul de 1943. O trecho é uma passagem do livro Mandela: o africano de todas as cores, de Alain Serres.
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Chamado de Rolihlaha, expressão que significa “criador de caso” na língua xhosa, é pelo nome cristão Nelson Mandela, imposto a ele na escola, que o menino da aldeia de Mvezo fica conhecido em todo o mundo. Sua trajetória de luta e respeito às diferenças é retratada pela narrativa ágil e poética de Serres, escritor francês que tem mais de 80 títulos publicados para o público infantojuvenil e foi professor na educação infantil por mais de uma década.
A obra parte da infância de Mandela, dedicada aos estudos nas verdes colinas da África do Sul, passa pela mudança para Joanesburgo – então, a cidade do sofrimento para mineiros negros e da vida mansa para as poucas centenas de brancos – e chega ao momento em que entra em vigor a legislação segregacionista, que controlava a circulação da população negra no país a partir de 1948. Nesse ponto, a partir do qual retrata os protestos, o livro transmite o clima de tensão vigente por meio do jogo de cores.
Após um protesto pacífico que acabou com 69 negros mortos, Mandela e seus amigos explodem o hospital dos brancos, um dos símbolos da dominação do apartheid. A perseguição a ele e outros militantes, sua prisão em 1962, a condenação por um tribunal só de brancos, e o período de detenção, que vai até 1990, são ilustrados pelo francês Zaü com tons que remetem à penumbra do cárcere. A partir de 10 de fevereiro daquele ano, as cores quentes voltam ao livro para acompanhar a narrativa que passa pela eleição de Mandela para presidente em 1994. Ao final, há um glossário que explica o que foi o regime do apartheid, a atuação da organização política chamada Congresso Nacional Africano, que tem hoje como um dos líderes o atual presidente Jacob Zuma. Além disso, traz dados socioeconômicos recentes, importantes para entender os desafios ainda presentes na primeira potência econômica da África, que tem um índice de 25% de desemprego.
Os desafios sociais, as lutas e as características geográficas do país são detalhados no livro África: terra, sociedade e conflitos, que trata de todo o continente africano. Na obra, a África do Sul é parte de um capítulo sobre a África Meridional e a atuação de Mandela aparece como um dos fatores que levaram à afirmação de uma “nação do arco-íris”, como ele mesmo dizia, baseada na noção de cidadania em lugar da segregação.
+ Outras leituras
O pescador de histórias, de Heloisa Pires Lima, ilustração de Élon Brasil (Melhoramentos, 48 págs., R$ 48)
A obra se vale de dois narradores que se completam. Um deles é o pescador de histórias, que narra em primeira pessoa os fatos que presencia entre as populações ribeirinhas dos rios africanos Níger, Nilo, Orange e do lago Nakuru. O texto do pescador é entrecortado pelo narrador em terceira pessoa, que desvenda ao leitor como o pescador de histórias encontra os personagens dos contos e o que sente em relação a eles.
Kaputu Kinkila e o sócio dele, Kambaxi Kiaxi, de José Luandino Vieira, ilustração de Marilia Pirillo (Melhoramentos, 24 págs., R$ 29)
A fábula contada pelo escritor angolano é sobre como os negócios do pássaro Kaputu com o cágado Kambaxi colocam em xeque a amizade dos dois quando um deles resolve ser ganancioso e não cumprir com o combinado. Nos diálogos, aparecem duas palavras em kimbundu: muzua (rede de pesca) e nga (senhor). Elas aparecem misturadas ao português, a língua do colonizador que se tornou o idioma oficial de Angola.
Plantando as árvores do Quênia: a história de Wangari Maathai,texto e ilustração de Claire A. Nivola (Edições SM, 32 págs., R$ 30)
A bióloga queniana Wangari Maathai foi a primeira mulher africana a receber o Prêmio Nobel da Paz (2004), doze anos após Mandela ter sido laureado. Com linguagem simples e belas ilustrações, a obra conta a atuação de Wangari em sua terra natal quando retorna de seus estudos nos EUA e encontra uma paisagem devastada em lugar das “montanhas de ricas florestas, com vacas e ovelhas pastando”.