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NOTÍCIA
Em face da hegemonia de uma, sempre convém evocar outras
Publicado em 09/12/2013
Em Platão, a formação educacional é descrita como análoga a um caminhar – lento, difícil e muitas vezes penoso – que leva o caminhante das sombras da caverna à luz do Sol. Em Rousseau, o processo educativo é comparado ao lento e cuidadoso cultivo de uma planta, de forma que, ao respeitar a natureza do ser que floresce, o educador o auxilia a se desenvolver em toda sua humanidade. Em Locke, a criança é comparada a uma folha de papel em branco sobre a qual os sentidos e a educação inscrevem informações, conhecimentos e hábitos que a constituirão como sujeito. Cada um desses pensadores, a partir de suas concepções e interesses teóricos, procurou veicular uma metáfora educacional por meio de uma imagem cuja analogia deveria elucidar a complexidade do processo educativo.
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Em todos eles, a metáfora é menos uma explicação do que um convite a se buscar o sentido da analogia veiculada. Ela jamais nos diz precisamente em que consiste a semelhança sugerida e sua fecundidade depende da capacidade que o leitor tem de dela extrair, a um só tempo, uma compreensão adequada do processo educativo e um princípio de ação capaz de guiá-lo em suas tarefas cotidianas. As metáforas educacionais têm, pois, um duplo papel: elas descrevem e prescrevem. Elas nos apresentam a natureza de um fenômeno e sugerem uma forma de ação que consideram adequada ao processo educativo. Assim, à metáfora que descreve a criança como um ser que floresce corresponde à do professor como um jardineiro cujo dever é cuidar de cada planta a fim de que ela se desenvolva de acordo com a sua natureza.
Não é surpreendente, pois, que essa metáfora tenha se transformado numa contraposição recorrente a discursos educacionais de recorte autoritário, cujos preceitos tendiam a obscurecer o fato de que o aluno não é um objeto amorfo e destituído de qualquer singularidade, mas um sujeito em interação com sua história e condição social. Por outro lado, sua aceitação acrítica tem, há décadas, cooperado para uma visão que reduz a importância do professor, de suas responsabilidades e de seus compromissos para com o conhecimento e as instituições públicas. Ao jogar a luz sobre a singularidade daquele que aprende e se desenvolve, a metáfora obscurece que o desenvolvimento – cognitivo, afetivo, motor – pode ter infinita variedade de formas; que nem todas elas têm o mesmo valor educativo ou significado social. E que a opção entre um ou outro rumo exige a referência a princípios éticos e compromissos sociais.
Assim, a fecundidade de uma metáfora educacional não se dissocia de um contexto. Se em certas circunstâncias ela pode ser elucidativa, noutras pode obscurecer aquilo que seria preciso ressaltar. Por isso, em face da hegemonia de uma metáfora, sempre convém evocar outras. Ao pensar a educação e o ofício docente, Max Black sugeriu a imagem de um escultor que não ignora a singularidade de cada pedra ou madeira sobre a qual exerce sua arte, mas que tampouco ignora que o resultado de seu trabalho depende da clareza de seus objetivos e da precisão de seus movimentos. A educação não é, assim, concebida como o pleno desenvolvimento de uma natureza inscrita no ser, mas como a ação da cultura sobre um sujeito.
*José Sérgio Fonseca de Carvalho
Doutor em filosofia da educação pela Feusp e pesquisador convidado da Universidade Paris VII jsfc@editorasegmento.com.br