Revista Ensino Superior | A dor da vida escolar - Revista Ensino Superior
Personalizar preferências de consentimento

Utilizamos cookies para ajudar você a navegar com eficiência e executar certas funções. Você encontrará informações detalhadas sobre todos os cookies sob cada categoria de consentimento abaixo.

Os cookies que são classificados com a marcação “Necessário” são armazenados em seu navegador, pois são essenciais para possibilitar o uso de funcionalidades básicas do site.... 

Sempre ativo

Os cookies necessários são cruciais para as funções básicas do site e o site não funcionará como pretendido sem eles. Esses cookies não armazenam nenhum dado pessoalmente identificável.

Bem, cookies para exibir.

Cookies funcionais ajudam a executar certas funcionalidades, como compartilhar o conteúdo do site em plataformas de mídia social, coletar feedbacks e outros recursos de terceiros.

Bem, cookies para exibir.

Cookies analíticos são usados para entender como os visitantes interagem com o site. Esses cookies ajudam a fornecer informações sobre métricas o número de visitantes, taxa de rejeição, fonte de tráfego, etc.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de desempenho são usados para entender e analisar os principais índices de desempenho do site, o que ajuda a oferecer uma melhor experiência do usuário para os visitantes.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de anúncios são usados para entregar aos visitantes anúncios personalizados com base nas páginas que visitaram antes e analisar a eficácia da campanha publicitária.

Bem, cookies para exibir.

NOTÍCIA

Exclusivo Assinantes

A dor da vida escolar

O aluno que encarna o fracasso exibe à escola e ao professor sua inaptidão para ensinar

Antes de tornar-se um romancista internacionalmente reconhecido, Daniel Pennac foi professor de francês no ensino fundamental e médio de escolas públicas francesas. E antes de tornar-se professor, Pennac havia sido o que os franceses, pejorativamente, chamavam de “cancre”: um aluno lerdo, com dificuldades de aprendizagem e cujo desempenho sempre beira o sofrível. Foi da dor da memória desse tempo de aluno estigmatizado como incapaz e sem futuro e da esperança de suas lutas como professor de jovens tão estigmatizados como ele que brotou sua decisão de escrever Chagrin d’école (no Brasil publicado com o título Diário de escola, que omite um elemento central da obra: a “dor” ou “tristeza” que costuma marcar a experiência escolar desses jovens).

Ao narrar as dificuldades pelas quais passou e ao refletir sobre seu trabalho junto a alunos das periferias de Paris, Pennac toma o ponto de vista daqueles que, por não aprenderem no mesmo ritmo de seus colegas, já não mais se reconhecem no direito de aprender e tornam-se cativos desse lugar social: o do aluno que encarna o fracasso escolar e, ao assim fazer, exibe à escola e ao professor sua inaptidão para ensinar. Uma inaptidão cujo potencial efeito mobilizador tem sido neutralizado pelas certezas das explicações sociológicas que nos asseguram que seu fracasso é fruto da baixa escolaridade dos pais e de suas condições de vida. Explicações que, ao lado das lamúrias moralizantes e dos diagnósticos psicológicos, asseguram à escola e ao professor que eles estão isentos da responsabilidade por esses destinos.

#R#

A resposta de Pennac – o professor – a essa tragédia anunciada não é a renovação didática (ele admira e não abre mão do ditado e da correção ortográfica!), mas a sacralização do encontro pedagógico. É a ênfase “no presente do indicativo”, de forma que o aqui e o agora não se rendam à suposta inexorabilidade da carga do passado. O que salva os fracassados de um novo fracasso não é a compreensão de sua situação pregressa, mas o ensino da matéria. O único caminho para livrá-los da repetição do passado é uma aula que ateste sua capacidade presente para resolver uma equação, escrever uma redação ou compreender um texto filosófico. A aula de um professor inteiramente absorvido pela sua tarefa presente.

Não que seja uma tarefa fácil: “A ideia de que se possa ensinar sem dificuldade está ligada a uma representação etérea do aluno. A sabedoria pedagógica deveria representar o lerdo (o “cancre”) como o aluno mais normal possível: aquele que justifica plenamente a função do professor, porque nós temos de lhe ensinar tudo, a começar pela necessidade mesma de aprender! Ora, isso não é pouco.

Desde a noite dos tempos escolares, o aluno considerado normal é o que opõe a menor resistência ao ensino. “Um aluno já conquistado que nos poupa a pesquisa de vias de acesso à sua compreensão […], um aluno que teria compreendido que o saber é a única solução: solução para a escravidão em que nos manteria a ignorância e consolação única para a nossa ontológica solidão.”

Ao ler Pennac não encontramos receitas didáticas nem exortações moralizantes. Deparamo-nos com alguém cujo destino de ser um fracasso na vida foi transformado pela ação de professores. E que, por isso, jamais acreditou em destinos preestabelecidos. E que por isso, jamais abdicou de ensinar.

* José Sérgio Fonseca de Carvalho
Doutor em filosofia da educação pela Feusp e pesquisador convidado da Universidade Paris VII jsfc@editorasegmento.com.br

Autor

José Sérgio Fonseca de Carvalho


Leia Exclusivo Assinantes

DSC_0018

Escolas oferecem disciplinas para facilitar ingresso em universidades...

+ Mais Informações
Maria Montessori

Pedagoga e psicanalista apostaram em experiências educativas libertárias...

+ Mais Informações
Gerundio 1 iStock_000005825672

O “gerundismo” é fruto de influência do inglês?

+ Mais Informações

Mapa do Site

Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.