NOTÍCIA
É preciso avaliar o quanto a pesquisa acadêmica tem contribuído com as práticas
Publicado em 05/05/2014
É notório o crescimento da pesquisa em educação no Brasil nas últimas décadas, como atestam a ampliação de associações de pesquisa – em especial a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) –, a diversificação de temas e linhas de pesquisa e o consequente aumento do número de periódicos científicos voltados à divulgação de estudos e de pesquisas relacionadas às temáticas educacionais. Contudo, essa ampliação exige, cada vez mais, a superação de alguns problemas históricos e o enfretamento de desafios tanto em relação à produção, como à consistência na divulgação da produção científica.
Destacam-se, aqui, os frequentes problemas de transposição de aportes teóricos de outras ciências humanas ou afins, sem as necessárias adaptações e precauções. Não se trata de desconsiderar as teorias e concepções de outros campos de conhecimento – aliás, a pesquisa em educação sempre foi tributária de matrizes conceituais próprias da filosofia, sociologia, psicologia – mas de destacar e delimitar objetos e questões de pesquisa que tenham como foco a temática educacional, não a tomando apenas como mero pretexto de pesquisa.
Por outro lado, é comum observarmos que boa parte das reflexões e pesquisas educacionais sucumbe aos atrativos ideológicos presentes no discurso educacional, como bem lembra Bernard Charlot. Descrever, por exemplo, ou mesmo afirmar que uma dada unidade escolar possui (ou não) uma “gestão democrática” não significa necessariamente ter descoberto ou comprovado características reais inerentes a uma dada escola. No termo “gestão democrática” repousam muitos e diversos significados, havendo, ainda, a possibilidade de criar outros mais. Contudo, o que parece ocorrer é o contrário. Essas expressões são tratadas como se fossem simples slogans educacionais esvaziados de significado ou de maiores pretensões descritivas.
Nesses termos, é inadiável avaliarmos o quanto a pesquisa educacional tem contribuído para a produção de conhecimento cientificamente rigoroso e como subsídio relevante às políticas e práticas educacionais. A tarefa é urgente face ao contexto atual no qual, a despeito do crescimento da pesquisa em educação, outros campos de saber específicos, como a economia, têm se dedicado, cada vez mais, às temáticas educacionais, com um evidente destaque e de forma bastante parcial e discutível. Talvez esse espaço esteja sendo ocupado por estar vago ou por substituir algum tipo de discurso e matriz de conhecimento que não seja forte o suficiente para ser reconhecido como fundamental.
*Vandré Gomes da Silva é pedagogo, mestre e doutor em Educação pela Faculdade de Educação da USP. É pesquisador da Fundação Carlos Chagas e professor do programa de mestrado em Educação da Universidade Católica de Santos.
Especial aniversário – o leitor na revista | |
Para comemorar seus 17 anos, Educação convidou seus leitores para escrever na revista. Aqui estão publicadas as opiniões de um professor, uma diretora de escola, um pesquisador e uma aluna de pedagogia sobre o que consideram os maiores desafios em suas áreas. |