NOTÍCIA
Em Imaginação e criatividade na infância, Vigotski responde a perguntas básicas sobre os processos psicológicos e a didática do trabalho criativo
Publicado em 05/10/2015
Pequeno livro escrito por Lev Vigotski em 1930 para um de seus cursos de formação de educadores, Imaginação e criatividade na infância destaca-se pelo estilo simples e didático. Sua fonte principal foi o Ensaio sobre a imaginação criadora (1900), de Théodule Ribot, do qual Vigotski extraiu ideias orientadas por uma intensa preocupação teórico-prática.
Os cinco primeiros capítulos diferenciam criação e imaginação, buscando esclarecer a relação entre esses processos, retomando conceitos já apresentados na Psicologia da arte e Psicologia pedagógica, como a “lei da dupla expressão dos sentimentos”. O autor aborda a imaginação como combinação de elementos extraídos da realidade que o aprendiz vivencia, seja mera reprodução, seja nova recombinação desses elementos. Deduzimos que o ato de imaginar está presente nas pequenas ações da vida cotidiana e até nas mais extraordinárias obras de arte e ciência (como exemplos: o conserto de uma pia, o rap de Criolo, o exoesqueleto de Miguel Nicolélis ou os romances de Daniel Galera). Com isso, a imaginação criadora revela-se como processo psicossocial de grande valor objetivo – pois está presente em toda mudança que realizamos em nosso mundo – e subjetivo – pois nos desenvolve como agentes capazes de contribuir com esse mundo.
Os três últimos capítulos do livro tratam especificamente da criação literária, teatral e figurativa, destacando-se pelo debate das posturas mais favoráveis à organização de um meio social criativo. Traz ainda um apêndice bastante didático, com exemplos de desenhos infantis e dos seus estágios entre crianças soviéticas da época de Vigotski. Além disso, o livro está repleto de saborosas descrições da criação coletiva entre crianças da classe trabalhadora, bem como de biografias de crianças-prodígio versus grandes artistas e cientistas.
Imaginação e criatividade na infância, de L. S. Vigotski (Martins Fontes, 144 págs., R$31,40) |
Todavia, mesmo sendo tradução direta do russo, esta edição da Martins Fontes é inferior à lançada pela Ática em 2009. O ensaio introdutório de João Pedro Fróis traz equívocos sobre publicações e conceitos de Vigotski, como a estranha ideia de que o “espaço potencial de desenvolvimento” é “espaço entre a realidade interna e externa” [?], que não corresponde a qualquer conceito originalmente vigotskiano.
A tradução contém erros grosseiros de seleção de termos, separação indevida de parágrafos, e mesmo nas citações, com perdas de aspas ou de referência correta aos autores citados. O leitor pode se confundir tentando diferenciar “obra criativa”, “criatividade” e “criação”, mas são apenas sinônimos de uma mesma palavra em russo, tvortchestvo. Infelizmente, a menos que conheça o original, o leitor desta tradução não terá meios de ficar a salvo de tais problemas.