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NOTÍCIA

Edição 232

Como fica a memória com o avanço da tecnologia

Especialistas discutem como as facilidades tecnológicas estão afetando o cérebro e, sem dúvida, desafiando sistemas tradicionais de ensino

Publicado em 15/09/2016

por Gilberto Stam

neuro1 © Shutterstock

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No começo dos anos 2000, o cientista Gordon Bell, da Microsoft, iniciou um projeto ambicioso: criar um arquivo digital de todas as suas interações com o mundo. Assim, carregou durante anos uma pequena câmera pendurada no pescoço, a SenseCam. Equipado com sensores que detectavam mudanças de luminosidade ou a presença de uma pessoa próxima, o dispositivo era capaz de tirar fotos e gravar vídeos automaticamente. Registrou conversas, passeios, todos os sites que visitou na internet, os documentos em que trabalhava, todo e-mail que enviava. O GPS rastreava continuamente sua localização, permitindo a criação de diários visuais de viagens.

Batizada de MyLifeBits, a extrema empreitada de Bell já não soa tão excêntrica nos dias de hoje, mais de uma década depois. Temos à mão hardwares portáteis para registrar imagens e dados quando quisermos. Muitos de nós já nem lembram direito o próprio número de telefone, e as redes sociais cada vez mais ajudam a lembrar de eventos e aniversários. Estaríamos mais esquecidos ou simplesmente não memorizamos dados que podemos conseguir com facilidade? Basicamente, qualquer informação está acessível para quem está conectado à internet. Não por acaso, sites de busca, como o Google, começaram a preocupar professores, ao menos os mais tradicionais – afinal, do que adianta um aluno copiar, colar e depois esquecer o assunto que pesquisou? Recentemente, profissionais de diversas áreas, inclusive das neurociências, passaram a questionar os efeitos da internet no estudo e na memória, conferindo novas dimensões ao debate. A preocupação central está na subutilização da memória, que, como um músculo, funciona melhor quando exercitada. Estariam as facilidades tecnológicas afetando seu desempenho?

Técnicas de memorização
Incomodado com a sensação de esquecer várias coisas e com o hábito de usar post-its de forma obcecada, o jornalista americano Joshua Foer decidiu exercitar sua memória. Aprendeu uma técnica antiga chamada Palácio da Memória, que consiste basicamente em visualizar um local que se conhece bem – como a casa da infância – e colocar uma imagem visual, de preferência inusitada, em lugares específicos, de forma que ajudem a lembrar itens de uma lista. Por exemplo, o leite de uma lista de supermercado pode ser memorizada como uma vaca colorida em algum local da casa. Graças à técnica, Foer foi campeão de memória dos Estados Unidos em 2006, depois de um ano de treinamento. Nesse tipo de campeonato, os participantes realizam proezas como memorizar dezenas de nomes, a sequência de cartas em um baralho ou um número de 100 dígitos em poucos minutos.

O jornalista conta sua experiência no livro A arte e a ciência de memorizar tudo (editora Nova Fronteira, 2012), no qual faz um panorama histórico da chamada arte da memória e do conhecimento que a neurociência já acumula sobre o assunto. Seriam os exercícios de memória – tema, aliás, que sustenta todo um mercado de publicações e cursos on-line – a solução para a amnésia contemporânea? Aparentemente não, pois, mesmo depois de se sagrar campeão, Foer saiu com os amigos e voltou de metrô, esquecendo que tinha ido de carro. No dia a dia, voltou a usar post-it e a recorrer à internet para se lembrar de informações. Descobriu que sua memória não mudou apenas com o uso de uma técnica específica.

Esquecer, porém, não é necessariamente um problema. “Esquecer e lembrar fazem parte do mesmo processo. Não há como arquivar todas as informações no cérebro, por isso é preciso selecionar”, diz o neurocientista André Frazão, coordenador do Laboratório de Cognição da Universidade de São Paulo (USP). “O problema é que queremos lembrar de tudo e reclamamos quando não conseguimos.”

Mas por que nos esquecemos de uma informação importante? A falha, nesse caso, não está na memória em si, mas na estratégia usada para registrar a informação. “Por exemplo, no estacionamento de um shopping, não adianta nada lembrar a cor do carro do lado. Na realidade, quando esquecemos de algo, é provável que nunca tenhamos registrado de fato a informação”, ressalta Frazão. Da mesma forma que o carro na garagem, que pode ser localizado pelo setor do estacionamento, as lembranças também possuem pistas para a sua localização. Elas são as chamadas associações. Por exemplo, será mais fácil lembrar o tal setor se você perceber que a letra é a inicial de um grande amigo e o número, o primeiro dígito da sua idade. “Lembrar não significa arquivar informações automaticamente, mas construir uma teia de conceitos e dar valor a essas informações”, explica o neurocientista.

A memória, nesse processo, é apenas um dos fenômenos por trás da lembrança. “Além dela, também são importantes a atenção, as emoções e a percepção”, diz Hamilton Haddad, professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da USP. A própria memória não é uma só, podendo ser dividida em vários tipos. Em uma competição de memória, é usada a memória declarativa. Temos também a implícita, que é a memória de coisas que sabemos fazer, mas não sabemos explicar.

Aprender X Decorar
Mas, se vencer um campeonato ou lembrar onde o carro ficou estacionado tem uma função óbvia, o que promove a memória no caso do aprendizado? “Uma das motivações fundamentais pode ser o prazer da descoberta, graças ao poder explicativo da ciência”, afirma Frazão. Conforme o conhecimento se acumula, uma das dificuldades pode ser abrir mão do antigo para investir em coisas novas. “O conteúdo do ensino já está muito avançado, por isso a escola deveria dedicar uma parte do tempo a se debruçar sobre problemas novos, como a neurociência ou a violência nas cidades”, diz o neurocientista.

Sair da decoreba para preconizar o aprendizado significativo pode implicar para alguns, no entanto, mudanças no cumprimento do currículo escolar. “Quando a escola deixa de focar a quantidade, dá para ensinar de forma vivenciada através de experimentos e leitura crítica, o que ajuda a formar memórias de longo prazo”, diz Sérgio Américo Boggio, diretor de tecnologia aplicada à educação do Colégio Bandeirantes, em São Paulo.

O aprendizado significativo funciona porque ajuda a criar novas associações, assim como a usar o conhecimento prévio do aluno, uma ideia amplamente difundida na pedagogia construtivista. “A memória é construída em redes e se vale de informações anteriores. É mais fácil aprender o que é mexerica quando já se conhece a laranja. Mas a informação arquivada precisa ser interpretada. Lembrar é um processo ativo em que a memória ativa o córtex visual e gera padrão semelhante ao da visão”, pontua Frazão. Por essa razão, relacionar o conteúdo com a própria vida ou a própria experiência ajuda a lembrar o que foi aprendido.

Entre o antigo e o novo
Outro fator importante na memória é o lado emocional. O aluno leva para a escola as suas concepções infantis do mundo e aos poucos vai questionando a validade delas e formando novas concepções. O problema é que, geralmente, crianças têm um grande vínculo afetivo com as concepções anteriores, porque, até ali, elas foram suficientes para explicar o mundo. Por que então deixá-las para trás e adotar outras visões?

Essa resposta tem muito a ver com a atuação do professor, que funciona como uma ponte entre o antigo e o novo. Quando o professor demonstra interesse e afeto pelas crianças, elas se sentem mais confortáveis para ouvir o que ele tem a dizer. Quando ele explica de maneira clara o conteúdo, elas se sentem mais atraídas para deixar o antigo para trás e adotar o novo.

Tudo isso não significa, no entanto, que métodos antigos tenham perdido a validade. A repetição também ajuda na memorização, sendo fundamental em alguns casos, como no aprendizado de línguas estrangeiras. E novos estudos demonstraram que as provas continuam sendo ferramentas importantes não só na avaliação, mas também no aprendizado. “Os testes, sejam para avaliação ou simplesmente para revisar o conteúdo, são uma forma mais eficiente de aprender do que simplesmente estudar”, afirma Luciano Buratto, neurocientista da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Além disso, estudos mostram que a prática espaçada como estudar menos, mas em intervalos de tempo maiores, e escalonar o conteúdo, ou seja, fazendo uma revisão de tópicos antigos, também ajuda na assimilação do conteúdo.

Criatividade 
Estratégias de estudo são um ponto-chave também para lidar com as novas tecnologias. Grande parte dos alunos não sabe como identificar as informações confiáveis no Google. “Da mesma forma como antes o aluno precisava comparar diversos autores, hoje também é necessário comparar fontes e verificar a compreensão do que foi lido”, diz Célia Sampaio, diretora do Mater Dei, em São Paulo. “O processo de aprendizado permanece fundamentalmente o mesmo, só que hoje é mais rápido. Por mais incrível que a internet seja, ela nunca criou nada de novo. Para isso, é necessária uma mente humana”, destaca Célia.

Por outro lado, é difícil acompanhar a evolução da tecnologia. “Em geral, ela é subutilizada, já que pode oferecer condições para outro tipo de ensino e de aprendizagem. A questão que se coloca é: como usar essa tecnologia para formar um cidadão mais crítico, criativo e mais participativo?”, questiona Alvaro Chrispino, diretor de gestão estratégica do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) Celso Suckow da Fonseca, no Rio de Janeiro. “Longe de inibir, a tecnologia estimula o exercício da memória e o desenvolvimento do aluno. O importante é saber usá-la”, diz o neurocientista Ivan Izquierdo, da PUCRS, um dos maiores especialistas em memória do mundo.

Autor

Gilberto Stam


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