NOTÍCIA
Faculdade gaúcha adota a pedagogia da alternância para dar oportunidade aos jovens que precisam estudar, mas não podem abrir mão do trabalho
Publicado em 01/11/2019
Por Ana Júlia tiellet
No Rio Grande do Sul, o número de pessoas que vivem no campo caiu 37% nos últimos 30 anos. No Brasil todo, apenas 15% da população brasileira vive em áreas rurais, de acordo com o IBGE (Pnad, 2015). A falta de interesse das novas gerações em assumir a propriedade rural de suas famílias é uma das causas da evasão rural.
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Conforme pesquisa realizada pelo Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) com 743 filhos de agricultores do estado, o baixo interesse se deve, prioritariamente, à falta de incentivo da família, ao não investimento em modernização e tecnologias para o trabalho e à falta de autonomia ou abertura para que eles participem de forma mais determinante na gestão dos negócios.
Nesse cenário, as formas tradicionais de ensino superior apenas acirram as diferenças geracionais e colaboram para que os jovens deixem o campo. Para vencer esse problema, é preciso uma mudança de mindset da parte dos educadores.
Essa foi a aposta da Faculdade Santo Ângelo (FASA), localizada no Rio Grande do Sul. Com apenas um ano de funcionamento, a instituição iniciou seus trabalhos oferecendo uma solução diferente aos jovens da zona rural. Considerando que o modelo tradicional de ensino os afasta de suas famílias e até mesmo do ensino superior, a instituição adotou a pedagogia da alternância, criada na França, em 1935, pelo sacerdote Abbé Granereau.
Nesse modelo, que foi repaginado e ampliado pela FASA, as aulas são oferecidas de modo concentrado durante uma semana (manhã, tarde e noite), com possibilidade de o estudante hospedar-se no campus. Nesse período, eles participam de aulas práticas e teóricas, visitas técnicas e leituras. Os professores trabalham com metodologias ativas e aprendizagem baseada em projetos.
Após a semana de aulas, o aluno retorna para casa por três semanas. Nesse período, ele realiza projetos e estudos e, principalmente, tem a oportunidade de dar continuidade ao trabalho na propriedade da família e aplicar o conhecimento adquirido em sala de aula. A opção está disponível para as graduações de Medicina Veterinária e de Agronomia.
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“Criamos uma oportunidade para que os jovens do campo continuem seus estudos, aprofundem conhecimentos e, ao mesmo tempo, mantenham-se no seio familiar e potencializem a produção de suas propriedades”, argumenta o diretor-presidente da FASA, Rafael Rossetto.
A agricultora Emanueli Klatt, 19 anos, já havia cursado alguns semestres de outra graduação, em outra instituição, mas não continuou os estudos justamente por não poder ausentar-se da propriedade rural da família. “Hoje, graças à alternância, consigo fazer o que realmente planejei para minha vida.”
“A inteligência artificial, o Big Data e tantas outras tecnologias estão ao nosso alcance, mas de nada adiantam se não alcançarmos cada um desses jovens que estão no campo e querem aprender mais, para que a vida deles e de suas famílias seja melhor. O futuro será dos robôs, mas é nosso também”, finaliza Rossetto.
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