Quase dez mil egressos foram entrevistados e os resultados reforçam a importância do curso de ensino superior
Publicado em 01/05/2020
A faixa da população brasileira que tem ensino superior é ínfima quando comparada com a de outros países. Um ranking feito pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) com a participação de aproximadamente 40 nações mostra o Brasil nas últimas posições nesse quesito, perdendo apenas para Indonésia e África do Sul. Menos de 20% das pessoas de 25 a 34 anos concluíram um curso superior no país, enquanto no Reino Unido, Austrália, Irlanda, Canadá e Japão o indicador ultrapassa os 50%. Na campeã Coreia do Sul, ele é de quase 70% .
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Com um número tão baixo de pessoas com ensino superior, o diploma ainda é um fator crítico na trajetória de grande parte da população, apesar da crise econômica, do crescimento da informalidade no mercado de trabalho e do discurso que vigora em algumas áreas de que a formação acadêmica se tornou dispensável.
Uma pesquisa inédita feita com egressos que já trabalhavam antes de concluir a faculdade (e que continuam empregados) mostrou que a graduação proporciona um aumento de 162% nos rendimentos, em média. “O salário salta de R$ 2.343 para R$ 6.143”, diz Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp.
O estudo foi feito pelo recém-criado Instituto Semesp, desenvolvido pela entidade para produzir pesquisas, insights e projeções sobre o setor. Este primeiro levantamento contou com a parceria da empresa Simplicity e foi realizado por meio de questionários online aplicados entre outubro e novembro de 2019. Mais de 9,4 mil pessoas participaram, sendo 64,2% delas egressas de instituições privadas e 35,8% de instituições públicas. No total, os participantes representam 481 instituições de ensino superior (confira mais nos gráficos da pág. 34). “As instituições que tiveram uma boa amostra receberam um relatório individualizado para comparar seus resultados com o da amostra total. A margem de erro dessa pesquisa é de 1%. É uma amostra confiável, e seus resultados podem ser usados como fonte de pesquisa e informação”, destacou Capelato.
Os egressos dos cursos de Administração, Direito, Ciências Biológicas, Engenharia Civil e Psicologia reuniram o maior número de respostas. A maioria se formou no período noturno (47,9%), pertence à região Sudeste e tem entre 25 e 29 anos.
A Pesquisa de Empregabilidade do Brasil também colocou em evidência os impactos da crise econômica sobre os egressos. Entre os que se formaram há três anos, 29,5% ainda não conseguiram o primeiro emprego, enquanto que entre os que se graduaram há mais tempo, esse índice é de 8,8%. De acordo com Capelato, os primeiros entraram no mercado de trabalho justamente no pior momento da economia brasileira, daí os resultados negativos.
“O cenário de recessão, de criação de poucas oportunidades, tem levado pessoas experientes a ocupar vagas para recém-formados. Como consequência, os mais jovens ficam sem oportunidade, não conseguem experiência e, sem experiência, não conseguem o primeiro emprego”, aponta. “O programa Verde e Amarelo, que reduz o percentual do FGTS e a cota patronal para incentivar as empresas a contratar os jovens, poderá ajudar a acabar com essa concorrência desleal”, acrescenta, ao se referir à iniciativa lançada pelo governo federal no segundo semestre de 2019. O programa foi instituído por medida provisória e precisa do aval do Congresso até 20 de abril para que entre em vigor definitivamente.
Apesar do desemprego que atinge quase 1/3 dos recém-formados, a maioria conquistou o primeiro trabalho antes de se formar. Essa é a realidade de 38% deles. Na rede privada, esse indicador é ainda maior e chega a quase 50%.
Entre os que não estão no mercado de trabalho, a pesquisa buscou levantar os principais motivos. O fato de estarem estudando foi levantado por 28,9% dos entrevistados. Curiosamente, apenas 5,6% declararam que estão tentando criar um negócio. “Apesar de todas as iniciativas, a vontade de empreender não é forte ainda”, pontua Capelato.
Além de alinharem seus projetos pedagógicos à realidade do setor produtivo, as instituições de ensino podem contribuir de várias maneiras para que seus alunos tenham uma carreira de sucesso. A realização de eventos com representantes de indústrias e empresas tem se tornado frequente para a divulgação de vagas e a realização de palestras.
Contudo, as experiências mais bem-sucedidas, como já mostramos em diversas reportagens da Ensino Superior, são aquelas que resultam de um relacionamento mais duradouro com os empregadores. Nesse sentido, em vez de convidá-los para ações pontuais, as instituições podem optar por manter um diálogo contínuo, incentivando-os a colaborar com o projeto acadêmico. Eles podem propor projetos aos alunos, avaliar os trabalhos desenvolvidos, sugerir temas de estudo e, tão importante quanto tudo isso, conversar diretamente com alunos e professores sobre o mercado de trabalho.
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Dar suporte para os estudantes conseguirem estagiar também tem grande relevância. A pesquisa revelou que, entre os alunos que fizeram estágio (remunerado ou não), 56,1% trabalham hoje na área de formação. Entre os que não fizeram, esse índice é 43,9%.
O grupo Laureate, que mantém nove instituições de ensino superior no Brasil, criou em parceria com a Simplicity um Portal de Carreiras para que seus estudantes consigam se destacar nos processos seletivos.
Kleidson Daniel Leopoldino, gerente nacional de Carreiras, conta que a ferramenta possibilita a divulgação de vagas (algumas delas exclusivas para os alunos do grupo educacional) e a realização de seminários virtuais (webinars) com representantes dos mais diferentes setores. Para dar vazão a um serviço de grande procura, o desenvolvimento do currículo, o Portal disponibilizou um serviço para auxiliar os alunos na tarefa. “São os próprios estudantes que constroem o documento a partir de um passo a passo gamificado”, explica.
Na visão de Leopoldino, as discussões em torno da promoção da empregabilidade ainda precisam amadurecer no Brasil, pois “faltam benchmarks”. “Muitas vezes precisamos olhar para fora quando buscamos referências”, diz.
Com sede em Maringá (PR), a Unicesumar também investiu em um portal de gestão de carreiras, o Plug. Carolina Marrocos, diretora de Gestão Estratégica Corporativa da instituição, explica que a plataforma reúne uma série de conteúdos. “Há desde ferramentas, no estilo de testes, para as pessoas se conhecerem melhor, até cursos livres gratuitos para alunos, egressos e até pessoas que abandonaram o curso”, explica.
O portfólio de cursos é rotativo e há sempre novidades, visto que a instituição tem mais de 700 programas do gênero produzidos. “De tempos em tempos, alguns deles são selecionados e disponibilizados gratuitamente no Plug”, detalha.
Para tornar o portal atrativo para as empresas, a Unicesumar produziu cursos específicos para os profissionais da área de gestão de pessoas. Eles também podem publicar suas vagas e gerenciar os processos seletivos por meio da plataforma. “As empresas de pequeno e médio porte acham esse recurso muito vantajoso, pois muitas delas não têm um serviço próprio para se conectar com os candidatos”, explica.
Marrocos ainda destaca que o Plug sinaliza para os empregadores quais competências os alunos-candidatos já conquistaram desde que começaram o curso. Estas informações são acrescentadas ao final de cada disciplina concluída e funcionam como uma espécie de chancela da instituição para o que o aluno informa no seu currículo. “A empresa tem acesso ao que o estudante escreveu e também à parte da instituição”, conta.
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