Educação

Colunista

Thuinie Daros

Diretora de planejamento acadêmico na Vitru Educação

Neuroeducação: transformando a maneira de aprender

Ao se dedicar a compreender a relação entre o funcionamento dos processos cognitivos e emocionais e o aprendizado, a neuroeducação oferece uma gama de possibilidades

Neuroeducação Estratégias da neuroeducação facilitam o aprendizado (foto: pexels)

O que acontece no cérebro quando o aluno aprende algo novo?  Como ampliamos o repertório de experiências e conhecimentos dos estudantes?   Quais são as estratégias que mobilizam o potencial cerebral?       

Refletir sobre estas questões evidencia um dos maiores talentos de toda nossa espécie – a capacidade de aprender. 

Vale pensar no fato de que tudo o que conhecemos do mundo não nos foi herdado pelos nossos genes – tivemos que aprender a partir do ambiente que nos cerca. E é na capacidade de aprender e produzir novos saberes que está alicerçada toda a história.

Fazer fogo, projetar instrumentos, plantar, construir, explorar e tantas atividades que garantiram a constante reinvenção da própria humanidade tem a sua raiz na extraordinária capacidade cerebral que permitiu formular hipóteses, selecionar aquelas que combinaram com o nosso ambiente e tornar uma realidade.

Para que a aprendizagem seja bem-sucedida, o cérebro humano deve ter três funções importantes: memória de trabalho para reter informações temporariamente, controle inibitório para resistir a distrações e manter o foco, e flexibilidade cognitiva para adaptar práticas a diferentes contextos e solucionar problemas. 

Nesse cenário, a neuroeducação surge como uma área que se dedica a compreender o intrincado funcionamento dos processos cognitivos e emocionais e a sua estreita relação com o processo de aprendizagem. Ela oferece aos docentes uma perspectiva mais aprofundada e enriquecedora, além de uma ampla gama de possibilidades, visando potencializar ao máximo a capacidade de aprendizagem dos estudantes no âmbito da educação superior.

Para facilitar o aprendizado dos alunos, selecionei três estratégias fundamentadas na neuroeducação que irão ajudá-los a melhorar o desempenho cognitivo.

 

1 – Mobilize o pensamento

Já parou para pensar o motivo pelo qual os professores fazem tantas perguntas em suas aulas?  São as boas perguntas que impulsionam novos aprendizados.  Para mobilizar o aprendizado, construir compreensão, obter informações e encorajar a reflexão, é fundamental que você seja capaz de pensar sobre as possíveis respostas, conectá-las com seu repertório e realizar novas perguntas cada vez mais qualificadas e contributivas para o processo de aprendizagem, apropriando-se de novos saberes, pois como já afirmava Albert Einstein, “Não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas…”

Quando os estudantes buscam respostas para as questões lançadas pelos professores, inicia-se a busca de informações no repertório existente, afinal, o cérebro é responsável por processar e interpretar as informações. Para trazer tais respostas, os neurônios se comunicam e interagem em uma série de processos complexos para realizar a tarefa cognitiva. 

 

Leia: Neuroeducação: estudante precisa de olhar cuidadoso e objetivo

 

Isso significa que, ao tentarmos responder a perguntas, mobilizamos o nosso processo sináptico. Os neurônios se comunicam e interagem para realizar uma série de processos cognitivos complexos, incluindo a busca e recuperação de informações relevantes e a formulação de uma resposta precisa. Quanto maior o poder de reflexão que uma pergunta apresenta, mais qualidade na movimentação das sinapses podemos gerar. Mais movimento sináptico maior é o fortalecimento das rotas neurais.

Por isso é importante elaborar perguntas orientadas que fujam de respostas muito simples, como sim ou não. Faça perguntas aos estudantes que os encorajem a pensar sobre o próprio processo de aprendizagem. Quer um exemplo? Em vez de simplesmente questionar “Qual é a resposta para essa pergunta?”, tente “Como você chegou a essa resposta?” ou ao invés de “entenderam o conteúdo?” procure, “Considerando os pontos apresentados, quais estão lhe fascinando/intrigando até o momento?”. Certamente estes modelos de questionamentos ajudarão os estudantes a refletirem sobre seus próprios pensamentos e ajudá-los a ampliar o repertório de experiências e conhecimentos dos estudantes. 

 

2 – Incorpore a emoção na aprendizagem

 

Foi Platão quem disse “Todo aprendizado tem uma base emocional”. A neurociência demonstra que a emoção vem desempenhando um papel fundamental no aprendizado, portanto, ativar a emoção dos estudantes é uma tarefa crucial para aumentar a motivação, engajamento e consequentemente a apropriação do conhecimento. 

Algumas estratégias que podem ser utilizadas para ativar a emoção dos estudantes em uma aula são:

Conectar o conteúdo com suas experiências pessoais 

Tente encontrar formas de relacionar o conteúdo com situações reais que os estudantes possam se identificar. 

Utilizar materiais e recursos visuais interessantes 

Utilize recursos visuais como vídeos, imagens, gráficos e infográficos para apresentar o conteúdo de forma visualmente atraente e engajadora.

Realizar atividades práticas 

Atividades práticas, como experimentos e simulações, permitem que os estudantes vivenciem o conteúdo de forma mais realista e prática, o que pode aumentar seu envolvimento emocional.

Contar narrativas inspiradoras

 Utilize histórias que envolvam emoção e inspirem os estudantes a se identificarem com o conteúdo. Isso pode aumentar a conexão emocional com o conteúdo potencializando sua relevância.

Incentivar a colaboração e o trabalho em equipe

Atividades em grupo ou em dupla podem incentivar a colaboração e o compartilhamento de ideias, o que pode aumentar a conexão emocional dos estudantes com o conteúdo e uns com os outros.

 Vale enfatizar que a atenção e memória são processos que estão   intimamente ligados na aprendizagem. A atenção nos permite selecionar informações e a memória irá armazená-las no cérebro.  A atenção é, portanto, um componente essencial, a chave para a aprendizagem, entretanto, o cérebro não apenas memoriza as informações aprendidas durante uma aula, mas também armazena as emoções sentidas. Isso significa que retemos o que vimos, ouvimos e sentimos. Entre as informações transmitidas ao cérebro, as emoções sentidas têm um grande impacto na nossa capacidade de aprender. 

 

3 – Potencialize o aprendizado ativo com estratégias de input e output!

 

Na neuroeducação, o input se refere a todo tipo de informação que o cérebro recebe, seja por meio dos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar), seja por meio de outras fontes, como leitura e interação social. Essas informações são processadas pelo cérebro, que as transforma em conhecimento.

 É importante destacar que o input é mais efetivo quando é significativo e relevante para o estudante, ou seja, quando ele consegue fazer conexões com o que já sabe e com suas experiências pessoais.

Já o output se refere à forma como o conhecimento é expresso pelo estudante, ou seja, como ele demonstra aquilo que aprendeu. Isso pode ocorrer por meio de diversas formas, como verbalização, escrita, desenho, resolução de problemas, entre outras. 

O output é importante porque permite que o estudante consolide o conhecimento adquirido e verifique se realmente compreendeu o que foi ensinado. Além disso, o feedback recebido pelo professor ou pelos colegas pode ajudar o estudante a identificar lacunas em seu aprendizado e a buscar novas informações e esclarecimentos.

 

Leia: Por que a educação personalizada interfere na experiência de aprendizagem dos estudantes?

 

É um fato comprovado que o cérebro muda depois que novas habilidades são adquiridas por meio da neuroplasticidade. No entanto, se o estudante não tiver a capacidade de exercitar o que acabou de aprender, esquece o que acabou de ser ensinado, por isso a neuroeducação promove o aprendizado ativo com estratégias de input e output.

Para o processo de input o docente se dedica a explorar um tema, algumas práticas podem ser implementadas a fim de maximizar a aprendizagem dos estudantes. Leituras cuidadosas, podcasts envolventes, documentários ou vídeos de qualidade e explanações claras são algumas atividades utilizadas. Já o processo de saída de informação, chamado de output, é tão importante quanto input. O aluno precisa ter a chance de trabalhar o conhecimento adquirido e aplicá-lo de forma efetiva. Ele pode, por exemplo, expor oralmente o que aprendeu, gravar áudio notas, criar mapas mentais ou anotações inteligentes para facilitar a revisão do conteúdo. Responder questões, praticar atividades e solucionar problemas reais relacionados ao tema também são excelentes formas de consolidar o aprendizado. Com a combinação adequada de INPUT e OUTPUT, o resultado é um processo de aprendizagem mais eficaz e duradouro.

As três estratégias mencionadas têm a capacidade de despertar a emoção, estabelecer conexões significativas e facilitar o processo de aprendizagem, ao mesmo tempo que proporcionam experiências inesquecíveis aos estudantes. Essas abordagens estimulam o cérebro dos alunos e criam conexões neurais que se transformam em memórias duradouras e positivas. Além disso, aproveitam a plasticidade cerebral, possibilitando que os conhecimentos adquiridos sejam aplicados em diferentes momentos e contextos, tanto profissionais quanto pessoais.

Como uma instituição de ensino superior, é nosso papel estar cientes dessas descobertas e incorporá-las em nossa abordagem educacional para fazer escolhas mais informadas, adaptar e melhorar as oportunidades de aprendizagem disponíveis. Nosso objetivo final é maximizar o aprendizado e o desenvolvimento dos estudantes.

 

Por: Thuinie Daros | 11/05/2023


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