Pequenas experiências reflexivas ajudam os estudantes a desenvolverem o comportamento para aprenderem ativamente e de fato aplicarem todo o potencial cerebral na vida pessoal e profissional
Imagine que você é um professor de uma IES e constata desmotivação dos estudantes e consequentemente um maior número de alunos faltosos. Você propõe várias atividades diferenciadas e os estudantes não respondem muito ou interagem. Planeja metodologias ativas que requerem engajamento e motivação, mas ninguém se envolve e presta muita atenção, parece que só estão esperando o tempo passar. Já os estudantes que se envolvem, apresentam dificuldades de gerenciamento das entregas e sempre criam atritos nos grupos. Você já viveu alguma destas situações? Isso desanima qualquer professor.
Na minha atuação como gestora e docente da educação superior, sempre estou em busca de respostas para perguntas como essas: Como tornar a atividade pedagógica mais interessante, divertida e mobilizadora do aprendizado? Como desenvolver a mentalidade criativa dos meus estudantes e professores? Quais são os conhecimentos e estratégias mais assertivas para gerar maior engajamento e motivação para o aprendizado?
Acredito que o domínio de técnicas, métodos e recursos são os maiores ativos dos professores da contemporaneidade. As estratégias de ativação utilizadas em conjunto com os conhecimentos relevantes e atuais e abordagens de aprendizagem ativas serão capazes de promover a inspiração, a confiança e a criatividade respeitando as singularidades e agregando novas experiências ao repertório dos estudantes.
Muitas vezes, uma abordagem ativa não gera o resultado esperado, justamente porque os estudantes não aprenderam habilidades comportamentais básicas para trabalhar em grupo, por exemplo, e no processo de execução da metodologia acabam desviando-se do objetivo.
As estratégias de ativação são experiências intencionalmente planejadas com foco na intensificação do desenvolvimento e melhoria contínua das habilidades humanas, em um determinado contexto de aprendizagem.
São atividades dinâmicas e exercícios que auxiliam na consciência do papel como estudante do século XXI. Eu gosto de chamar de pequenas experiências reflexivas habilitadoras da mentalidade criativa. O objetivo é ajudar os estudantes a desenvolverem o comportamento para aprender ativamente e de fato aplicar todo o potencial cerebral na vida pessoal e profissional.
Eu acredito que a aplicação de estratégias de ativação auxiliará no estabelecimento de modelos mentais mais assertivos. Essas estratégias fornecem justamente a estrutura essencial capaz de gerar novas ideias e, como impacto, transformar seus estudantes em criadores confiantes.
As estratégias de ativação para mentalidade criativa estão classificadas em quatro pilares, sendo que cada pilar tem como objetivo mobilizar uma habilidade específica.
Sabemos que os problemas ocorrem de modo recorrente independente do momento ou lugar. A questão é como encará-los e finalmente resolvermos. Fomos habituados a perceber que os problemas são como males a serem eliminados rapidamente, e não como oportunidades. O fato é que o próprio problema já traz consigo a solução. Basta estarmos abertos e seguir com os próximos passos.
O pilar “resolução criativa de problemas” propõe desenvolvimento de estratégias de ativação que promovem o modelo mental para que os estudantes estejam atentos a identificar problemas e oportunidades. A ideia é que sejam mais assertivos na proposta de resolução criativa de um problema.
É preciso considerar que a matéria-prima da criatividade são os problemas. Quando se busca por soluções criativas, nós nos abrimos para infinitas possibilidades, isto é, percorremos por situações diferentes para resolver problemas que afetam o trabalho ou a vida pessoal e impedem de alcançar os resultados desejados.
Sem estratégias que auxiliam a gerar o pensamento divergente e, na sequência, o convergente, sem clareza do objetivo e do problema ou oportunidade que precisa resolver, os estudantes podem encontrar soluções nada exequíveis, como a do meme de um motorista que usou mortadela no lugar do extintor.
É até bem criativo e engraçado e de fato o objetivo foi atingido, afinal ele conseguiu livrar-se da blitz, mas o extintor só é um elemento obrigatório por estar relacionado à segurança. Vale a reflexão consciente sobre como as propostas de solução precisam gerar valor e estar sobre princípios éticos e não somente resolverem algum tipo de problema.
Para que as ideias ocorram com maior naturalidade é preciso um ambiente de fluidez. Neste processo, é natural que as primeiras ideias sejam incipientes, sem refinamento e facilmente descartáveis. No entanto, para que sejamos capazes de compartilhar estas ideias, será essencial que nos sintamos acolhidos e conectados ao grupo, visto que, ao nos expressarmos, as singularidades serão expostas.
Para serem capazes de movimentar e explorar a imaginação, os estudantes precisam demonstrar comportamentos para que os demais se sintam aceitos, ouvidos, reconhecidos na suas singularidades e ativos no grupo, a partir das suas contribuições. Por isso, este é um pilar altamente impactante no processo de aprendizagem
Sempre quando mostro este meme para meus professores e estudantes, é motivo de muito riso, justamente porque ocorre a rápida identificação. Quem nunca?
Na verdade, parte da razão pela qual os estudantes desistem de tentar aprender e promover soluções mais criativas é porque acham difícil e pensam que estão sozinhos nesse esforço. Quando os estudantes trabalham juntos, têm a oportunidade de se conectarem uns com os outros. Conectando com as ideias dos outros, por sua vez, desenvolvem um nível mais alto de compreensão, mas isso precisa ser ensinado.
É fato, as competências e habilidades socioemocionais ainda são um grande desafio para os professores e gestores e colocá-los para trabalhar em grupo é uma excelente alternativa. Mas, quando se fala de trabalho em grupo, muitas dúvidas e preocupações surgem na cabeça dos professores.
As estratégias de ativação com foco no desenvolvimento de habilidades para o trabalho em grupo se constituem de dinâmicas e diferentes abordagens que criam condições favoráveis para o debate, discussão, resolução criativa de problemas, definição de papéis e responsabilidades e tomada de decisão de forma coletiva, por meio da qualificação da relação e criação de conectividade no grupo. Não dá para os estudantes seguirem trabalhando assim, não é mesmo?
Integrar pessoas com ideias, repertórios e experiências diferentes com o intuito de construir algo em conjunto é uma excelente maneira de motivar os estudantes. Eles podem aprender com a troca de experiências e refletir sobre o que está sendo ensinado em sala de aula, no trabalho ou em outros contextos de aprendizagem.
Não adianta identificar o problema, gerar ideias, estabelecer conexões colaborativas e não ser capaz de transformar em realidade ou mesmo não gerar valor.
Para materializar as ideias geradas é preciso produtividade. Vale lembrar que ser considerado produtivo não significa necessariamente ter a capacidade de realizar muitas tarefas ao mesmo tempo.
É, na verdade, realizar de modo assertivo com o máximo de qualidade possível e com o uso eficiente dos recursos disponíveis. Estabelecer a meta aberta para quando atingirmos a meta a dobramos, não faz sentido algum! Por isso, é essencial desenvolver habilidades que impulsionam, mas materializam a performance criativa para geração de valor.
Vale mencionar que enquanto a produtividade requer foco e concentração, a criatividade muitas vezes se beneficia de um estado de fluxo mais livre, portanto é preciso ter recursos para tomada de decisão e consolidação da atividade tendo em vista o objetivo.
Ser produtivo e criativo ao mesmo tempo pode parecer desafiador, pois ambos os estados mentais têm características distintas. No entanto, este pilar ajudará os estudantes a refletirem sobre como equilibrar esses dois aspectos que vão desde a definição de metas claras, específicas e mensuráveis, criação de um ambiente propício como organização do espaço de trabalho de maneira que seja inspirador e livre de distrações, gerenciamento do tempo até obterem estratégias que auxiliam no equilíbrio entre foco e fluxo.
É preciso foco no desenvolvimento do potencial criativo dos estudantes ou mesmo dos colaboradores, pois o desenvolvimento da criatividade e inovação são elementos basilares para qualquer modelo institucional da contemporaneidade.
Afinal, o mundo contemporâneo demanda que os modelos tradicionais vigentes sejam reinventados e qualquer mudança, por menor que seja, requer pessoas capazes de imaginar e criar um futuro diferente.
Fonte Consultada: Daros, Thuinie. Mentalidade criativa: preparando estudantes para serem inovadores e resolutivos: Porto Alegre. Penso:2023.
Por: Thuinie Daros | 12/06/2023