Educação

Colunista

Thuinie Daros

Diretora de planejamento acadêmico na Vitru Educação

Expectativas e tendências do papel do professor diante da evolução da IA

Com o frenesi provocado pelos chatbots, muitas vezes perde-se o foco do que é importante e de como os recursos de IA poderão contribuir com as IES

IA Conheça cinco tendências que impactarão as expectativas do papel docente diante da evolução da IA (Foto: Freepik)

Desde o lançamento do ChatGPT, a Inteligência Artificial se popularizou, passou a ser assunto principal dos gestores, professores e estudantes e chegou às salas de aula. A IA é fascinante e, embora não se resuma ao ChatGPT, promove uma série de avanços em todas as áreas devido à natureza do aprendizado de máquina – o processamento de linguagem natural e o uso das redes neurais artificiais. Vale considerar que a era da IA não começou agora, apenas observamos sua aceleração. 

Ocorre que, com o frenesi provocado pelos chatbots, muitas vezes perde-se o foco do que é importante e de como os recursos de IA poderão contribuir com as IES. 

Isso também não significa que robôs poderão substituir professores, mas a ideia é que as tecnologias educacionais continuem sendo aliadas poderosas que agregam valor ao trabalho docente.

Neste contexto, selecionei cinco tendências que impactarão diretamente as expectativas do papel dos professores diante da evolução da IA na educação.

 

1. O papel docente na construção da autonomia do estudante para autoaprendizagem 

 

A tecnologia da IA oferece recursos poderosos que podem auxiliar os alunos em sua jornada de aprendizagem autônoma. Sistemas de tutoria inteligente, por exemplo, podem adaptar o conteúdo de acordo com as necessidades individuais de cada estudante, oferecendo um suporte personalizado.

Essas ferramentas fornecem feedback imediato, identificam lacunas de conhecimento e sugerem recursos adicionais para aprofundar a compreensão. Com isso, os educadores podem atuar como facilitadores, orientando os estudantes sobre como aproveitar essas tecnologias para aprimorar sua aprendizagem. Vale destacar que a autoaprendizagem é uma forma contemporânea de educação que permite a uma pessoa educar-se com habilidades e conhecimentos que serão úteis em suas atividades formativas.

No entanto, o papel do docente vai além de apenas apresentar essas tecnologias aos alunos. A construção da autonomia para a autoaprendizagem requer a presença ativa dos professores que desempenham papel fundamental na orientação, motivação e desenvolvimento das habilidades necessárias para a aprendizagem autodirigida e no comportamento autorregulado.

 

2. O papel docente no desenvolvimento da mentalidade criativa

 

Na era da IA, em que máquinas podem realizar tarefas cada vez mais complexas, o papel do professor é ainda mais essencial do que nunca, especialmente quando se trata do desenvolvimento da mentalidade criativa dos estudantes. 

A IA pode fornecer respostas prontas e soluções eficientes, mas é a mente criativa humana que desencadeia a inovação e a transformação. Enquanto as máquinas se concentram na lógica e na eficiência, os seres humanos têm o poder único de sonhar, imaginar e questionar. E é nesse poder que o docente desempenha um papel de extrema relevância. 

A educação não deve ser reduzida a uma mera transmissão de informações. Ela deve nutrir a criatividade inata de cada aluno, inspirando-os a questionar o status quo, explorar novas possibilidades e criar soluções para os desafios do mundo real. É o docente que desperta essa faísca criativa, fomentando um ambiente de aprendizagem estimulante, repleto de oportunidades para a expressão criativa.

Portanto, nessa era de avanços tecnológicos exponenciais, o papel docente no desenvolvimento da mentalidade criativa se torna crucial. Os professores têm a missão de movimentar a imaginação, cultivar a curiosidade e encorajar a busca por soluções inovadoras. Eles têm o poder de nutrir os talentos criativos dos alunos, capacitando-os a se tornarem líderes e criadores de um futuro brilhante e transformador.

 

3. O papel docente no próprio desenvolvimento da autonomia autoral digital

 

Na era da IA, o protagonismo docente no desenvolvimento da autonomia autoral digital é de extrema importância. A autonomia autoral digital docente é a capacidade do professor procurar desenvolver e aplicar as competências e habilidades da fluência digital, por meio do uso de ferramentas e recursos tecnológicos digitais para atender os objetivos de aprendizagem, potencializando e qualificando a experiência de aprendizagem dos estudantes. 

 

4. O papel docente na economia da atenção

 

A atenção é um recurso escasso. É a área da economia da atenção que descreve nuances da disputa da concentração humana em meio ao bombardeio constante de informações.

A IA desempenha um papel significativo nesse jogo, fornecendo algoritmos avançados que buscam atrair e reter nossa atenção. No entanto, é o docente que pode se tornar o guardião das mentes dos estudantes, guiando-os para o desenvolvimento de um senso crítico e uma consciência sobre o uso da tecnologia.

O papel do docente transcende o simples fornecimento de conteúdo. Ele é responsável por educar e capacitar os alunos a serem consumidores críticos e conscientes das informações que consomem. O papel docente, neste contexto, é de apoiar os estudantes a entenderem como a IA é projetada para manipular a atenção, destacando os mecanismos ocultos por trás das plataformas digitais e ensinando-os a discernir entre informações confiáveis e desinformação.

Além disso, o docente tem o poder de modificar os hábitos de atenção dos alunos. Em um mundo repleto de notificações instantâneas e distrações constantes, é o educador que pode ensinar técnicas de foco e concentração, atenção plena e gestão do tempo, com o intuito de desenvolverem habilidades valiosas para resistir às distrações digitais e direcionar sua atenção para atividades significativas de aprendizagem.

A inteligência artificial pode oferecer recursos e ferramentas que auxiliam no processo educacional, mas é o docente que possui a capacidade de promover uma conexão humana autêntica e empática.

Em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia, somente os docentes são capazes de criar um ambiente de aprendizagem estimulante, baseado na interação e no diálogo, onde os estudantes se sentem valorizados e motivados a se engajarem de forma mais profunda e significativa.

 

5. O papel docente na promoção do letramento de futuros

 

Hoje, escutamos de forma equivocada que o avanço da IA será responsável pela geração de manchetes que trata do “End of Humanity” que, a meu ver, não representam a realidade.  Vale lembrar que softwares e robôs não terão vida própria a ponto de decidir por toda eliminação da raça humana, como é comum ver em filmes de ficção científica. Mas, entende-se que todo este receio do avanço tecnológico é, sobretudo, uma reação humana impulsionada pela publicidade negativa, filmes, etc. e naturalmente construídas pelo ideário social, como resultado dos problemas trazidos pela modernidade.

Por isso, em contextos de avanço de tecnologias exponenciais, o letramento de futuros se torna uma das habilidades mais relevantes. Faz parte do letramento de futuros desmistificar construções de ideias de futuro distópico. É na capacidade de saber como imaginar o futuro e por que ele é necessário que nasce a possibilidade de criar os futuros desejáveis. Mas do que se trata e como promover o letramento de futuros? 

A criação de futuros refere-se ao processo de conceber e desenvolver cenários, ideias e ações que possam moldar e influenciar as ações do presente para o futuro de maneira intencional e positiva. É uma ação proativa que envolve imaginação, visão e planejamento para concatenar e direcionar os eventos em direção aos resultados desejados. Entendemos que todo este avanço tecnológico pode ser assustador apenas se nós não projetarmos de maneira  intencional, ética e inclusiva, e se não for um desejo nosso.

No passado, invenções como Inteligência Artificial, Nanotecnologia, bots e softwares eram praticamente impensáveis. No entanto, estamos presenciando um aumento significativo das possibilidades à medida que enfrentamos novas necessidades. 

 

Leia também: Ética e sustentabilidade são pilares para o uso das IAs

 

Na medida em que nossa capacidade de pensar é altamente submetida com criações que nos sugerem apenas estes modelos, consequentemente, passamos a acreditar nestas imagens, o que influencia as ações no presente. Na prática, isso significa que passamos a considerar suposições e projeções de tendências atuais, desconsiderando necessariamente o que se deseja conscientemente para o futuro.

Diante dos cinco elementos apresentados, acredito ser improvável que a IA substitua os professores devido à sua incapacidade de recriar a experiência educacional na mesma escala que os professores humanos. Ainda assim, vale considerar que a tecnologia de IA tem mostrado um grande potencial para mudar para melhor o papel docente, reduzindo sua carga de trabalho e tornando sua instrução mais eficiente.

Como professora e gestora, acredito que sem a tecnologia não se evolui, mas sem desenvolvimento humano, também não. Portanto, um importante alerta é que a falta de compreensão do potencial e das limitações das tecnologias de IA por parte dos docentes pode fazer com que as IES não se engajem de forma significativa nas estratégias de inovação. E se tornem rapidamente obsoletas. 

Revista Educação | Aulas no metaverso e ChatGPT já são realidade em colégios particulares

Por: Thuinie Daros | 28/06/2023


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