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O tema da experiência do estudante está presente na agenda dos gestores, mas ainda de forma esparsa para a maioria das IES
A reflexão que faço é sobre ensino superior, mas vou iniciar o texto com uma referência sobre um momento memorável que experimentei. Recentemente vivenciei uma experiência incrível ao visitar uma vinícola, com a esposa e familiares. A degustação de vinho foi feita com música, na tentativa de harmonizar diferentes sons com a degustação de diferentes vinhos. A proposta era: a música deveria combinar com o vinho e despertar sensações entre sabores, equilíbrio e harmonia. A visita à vinícola foi além das expectativas e vivenciamos uma experiência integral, em que houve sintonia entre os vinhos, a infraestrutura e a identidade institucional.
A história da vinícola combina com os rótulos dos vinhos e com os seus fundadores. As bisnetas dos fundadores estão na gestão do empreendimento e possuem formação em biologia e história, com isto, a vinícola possui um centro de estudo do solo, investe em tecnologia e tem projetos que buscam monitorar como será a vinícola nos próximos anos, em uma região desértica, onde certamente haverá ainda mais escassez de água. A vinícola tem uma clara coerência entre a sua história, o seu desenvolvimento e o que pretende ser.
Volto à harmonização que foi realizada em uma antiga mas modernizada adega, com as garrafas de vinhos que remontam à origem da vinícola. Fomos instigados a opinar e a participar de forma ativa da degustação, através do diálogo e da troca de experiências sobre nossas percepções durante a degustação. A nossa guia conduziu a harmonização como uma mentora. Ela nos orientou, sem dar respostas prévias. Tudo combinou: identidade da vinícola, projetos atuais, ambiente da degustação, qualidade do vinho (não sou especialista, mas estava tudo muito bom), música, conexões entre os participantes e condução da mentora. Sim, foi uma experiência memorável, pois degustamos belos vinhos ouvindo Frank Sinatra, Beethoven, Mercedes Sosa, entre outros.
Ao retornar ao hotel fiquei pensando se nós, que atuamos no ensino superior, oferecemos experiências memoráveis aos nossos estudantes, de forma planejada, organizada e sistêmica. O tema da experiência do estudante (EE) está presente na agenda dos gestores de IES, todavia, acredito que ainda de forma esparsa para a maioria das IES.
Há projetos e iniciativas de EE que provavelmente vão se estabelecer com o tempo. Os gestores precisam entender que eventos e festas proporcionam experiências agradáveis e geram engajamento dos estudantes, todavia, não oferecem experiências memoráveis duradouras se forem iniciativas isoladas. Aliás, quando buscamos nas evidências bem-sucedidas de EE, os projetos estão desenhados e institucionalizados e não apenas na “cabeça de alguns”. Realizar uma ação social, monitorar o comportamento dos estudantes, dar suporte para as suas demandas são ações bem-vindas, mas se não estiverem planejadas e detalhadas, o efeito não será tão efetivo.
A EE pode ser entendida, de maneira geral, como a percepção e o engajamento do estudante em relação aos serviços educacionais, administrativos, sociais, esportivos, entre outros, da IES. Através de métricas, os gestores podem verificar a forma como o aluno se relaciona e opina sobre os serviços da instituição. Verificar o nível da EE requer análise de dados, compreensão de comportamentos, verificação do atendimento das demandas, de forma holística. Portanto, se um gestor de IES quer fazer um trabalho sério, ele não pode se contentar em proporcionar ações fragmentadas e sem métricas, pois o aluno está em contato com diferentes áreas em seu cotidiano.
Poucos resultados serão obtidos se as métricas não gerarem ações. Da mesma forma, um conjunto de ações com pouca sinergia diminui o potencial de gerar uma experiência memorável para os estudantes. Fazer um trabalho sério de EE requer pensamento estratégico, gente dedicada, planejamento, orçamento e melhoria contínua de uma série de serviços. Temas como modelo acadêmico, aprendizagem, saúde mental, engajamento social, infraestrutura que proporciona convivências, suporte estudantil eficiente e conexão com o mundo real se tornaram muito relevantes quando pensamos na EE.
A vinícola que visitamos ganhou recentemente o World´s Best Vineyards 2023, ao ser considerada a melhor do mundo. Nossas IES não precisam ganhar o prêmio de melhor do mundo, todavia, precisam qualificar a gestão e definitivamente ter o estudante como o centro do “negócio”. Educação supõe formação de pessoas, que precisam de aprendizado e de experiências memoráveis.
Atualmente não basta o estudante entrar em uma IES, sentar em uma sala de aula, ir para o intervalo, voltar para a sala e depois retornar para a sua casa, para considerarmos que ele teve uma experiência memorável. O mundo pós-pandemia, a mudança do perfil dos estudantes, as demandas da sociedade e dos empregadores, a queda das matrículas, o receio dos jovens e das famílias em investirem no ensino superior, a tecnologia, as outras ofertas de formação profissional, a concorrência e a escassez de recursos exigem dos gestores de IES outras competências se comparadas há poucos anos atrás. A gestão de uma IES definitivamente se tornou mais complexa.
Ficamos encantados com a vinícola, porque há uma ação institucional integrada, da recepção à degustação e à aquisição de vinhos. Vivenciamos uma experiência memorável, durante o tempo que permanecemos ali. Há experiências exitosas nas IES de EE, no Brasil. As melhores experiências serão sempre aquelas em que cuidar do estudante é algo que está na alma da IES e que pulsam energia com foco na satisfação e no aprendizado. Falsas intenções com os estudantes geralmente têm vida curta e o sucesso é passageiro. Espero que possamos realmente fortalecer ou iniciar ações de EE, harmonizar os setores institucionais, projetar jornadas memoráveis para os estudantes, no ensino presencial e no virtual e gerar sensações de alegria, satisfação, engajamento e aprendizado pleno.
Por: Fábio Reis | 19/07/2023