NOTÍCIA
Conselho Editorial compartilha o que fará a diferença nas universidades
Publicado em 26/12/2023
Ao longo de 2023, o Conselho Editorial da Ensino Superior contribuiu com pautas e discussões sobre as principais tendências da educação superior brasileira. Para encerrar o primeiro ano de colaboração, os oito especialistas compartilham o que fará a diferença nas universidades em 2024. Baseados em suas vivências no universo acadêmico, os conselheiros passam por temas como o ensino a distância (EAD), Inteligência Artificial (IA) e financiamento estudantil. Confira as análises.
“Há quatro pontos que, embora não sejam novos, devem ser fortalecidos e continuados: o primeiro é a atualização de portfólio. Existem skills de que as empresas precisam muito, mas não necessariamente são encontradas no mercado dos cursos regulados. O segundo ponto diz respeito à flexibilização de entradas. A maioria das IES permite uma ou duas entradas por ano, enquanto a minoria permite mais do que duas entradas. O terceiro aspecto é a aproximação das IES com as demandas corporativas. Os profissionais precisam falar com os empresários, gestores e tomadores de decisão para compreenderem do que as empresas precisam e oferecer novas soluções. E o quarto ponto é, em termos de tecnologias, metodologias e portfólio, dar sequência à melhora da experiência na educação a distância.”
“É essencial que as IES priorizem a relevância dos cursos que oferecem. Isso significa assegurar que o conteúdo não seja apenas teoricamente sólido, mas também diretamente aplicável ao futuro profissional. A personalização do ensino se tornará um diferencial para atender a tais expectativas. Investir em inovação e tecnologia deve ser uma prioridade institucional. A incorporação de ferramentas avançadas, como a IA, não deve ser vista como um complemento, mas como um elemento central na estruturação dos processos de ensino-aprendizagem. Outro ponto crítico é o resgate e a promoção de valores humanos. Essa premissa talvez seja a base das ações para 2024. Em um mundo cada vez mais volátil, a conscientização acerca dos impactos sociais e ambientais está em ascensão. É imperativo que as IES destaquem valores como ética, responsabilidade social e sustentabilidade em todas as atividades que compõem a jornada do aluno. E para que tudo isso se torne realidade, é imprescindível uma intensa valorização, investimento e capacitação docente.”
“O ensino superior precisa abraçar as outras áreas da educação. Como ter uma perspectiva menos assistencialista e arrogante para o que pode ser aprendido, transformado e dialogado com as experiências do ensino médio, da rede básica e da educação profissional tecnológica? Esse é o grande desafio. O ensino superior deve sair de um pedestal de status – que faz parte da formação da universidade brasileira – para que o olhar não seja direcionado apenas ao âmbito superior, mas também sobre outros campos do trabalho em educação e pesquisa.”
“É necessário um esforço no sentido de estancar e, de preferência, eliminar a evasão, que nos tem feito perder muita energia. Se não encontrarmos um meio de impedi-la, teremos um prejuízo muito profundo em praticamente todo o universo educacional. Outro aspecto seria essa tentativa de adequar o EAD ao ensino presencial. Temos visto essa migração rápida e muito profunda para o EAD, ao mesmo tempo que vemos e ouvimos que a qualidade não tem acompanhado essa expansão mercadológica na mesma velocidade. Sem um controle e um olhar de atenção adequados, consolidaremos uma pendência que prejudicará demais a educação em seu resultado final.”
“As IES devem entender como incorporar temas de tecnologia em todos os cursos de maneira transversal. Todo profissional do futuro precisa saber de tecnologia, não importa se ele seja da área de odontologia, direito, psicologia ou jornalismo. Todo mundo precisa estar antenado e conhecer a tecnologia para não ser um simples usuário. Os profissionais devem ter mais protagonismo no desenvolvimento das aplicações.”
“Do ponto de vista do cenário macroeconômico, as perspectivas não são catastróficas, mas também não indicam um grande crescimento. Os juros devem cair mais um pouco, mas os principais institutos e economistas preveem um crescimento econômico da ordem de 2% para menos. Não será um ano de uma super-retomada mas, diante do que vivemos na pandemia, certamente o cenário será melhor para as IES. Com isso, imaginamos também que os índices de emprego aumentem. Acredito que as ferramentas de IA continuarão avançando rapidamente, então é importante que as instituições estejam de olho e, na medida do possível, já comecem a incorporá-las nas suas atividades. Certamente o EAD continuará crescendo. Agora, a grande incógnita é em relação às políticas públicas para financiamento. O Brasil precisa muito de uma retomada em relação ao financiamento estudantil. Acredito que o ideal seria um modelo diferente do que era o Fies, mesmo no seu auge. Mas o governo não tem demonstrado que fará algo nesse sentido a curto prazo. É possível que tenhamos algum tipo de retomada no financiamento estudantil, porém ainda não sabemos em que modelo, moldes e escala.”
“Falamos de ensino a distância e ensino presencial como mundos totalmente distintos. Talvez o que vá distinguir uma instituição seja conseguir usar o melhor desses dois mundos e trazer um modelo inovador para os mais jovens, que combine momentos de presencialidade com momentos a distância. Além disso, dado que nós temos carência de políticas públicas de acesso e a população estudantil ainda é muito pobre, um dos grandes desafios para as IES é encontrar soluções financeiras para que os alunos mais carentes tenham condições de ingressar e se manter no ensino superior. As IES devem pensar em crédito educativo, em cesta de programas de acesso como ProUni e Fies, tudo combinado ao mesmo tempo. Não é fácil porque não é uma questão trivial, mas pensar em soluções que permitam acesso também é algo que trará um diferencial para as instituições.”
“As instituições devem estar atentas para a revolução digital–industrial, para toda essa inovação que tem acontecido e para as novas profissões. Há áreas que precisam de profissionais qualificados em setores para os quais não temos ninguém qualificado, e que eles trazem de fora do país. Quem melhor para qualificar esse pessoal do que as IES? Mas o ensino superior deve estar atento e inovado. Tem que saber de tudo o que está acontecendo. Portanto, seria uma boa ideia estar coligado com as empresas e indústrias –. ‘O que é que falta? Qual é a qualificação que vocês precisam?’ – ou, então, ‘qual é a qualificação que vocês vão precisar para quando meus alunos e alunas estiverem se formando?’ Porque, além de tudo, se os estudantes estiverem começando o curso em 2024, só vão se formar alguns anos depois e muita coisa terá mudado. O ensino superior tem de estar extremamente bem informado o tempo todo. A educação continuada existe porque ela muda a cada instante e as pessoas precisam estar atentas a essas novidades.”