NOTÍCIA
Cenário exige das instituições uma capacidade maior de adaptação e análise para diferenciar entre ondas passageiras e tendências duradouras
Publicado em 19/11/2024
Por Iara de Xavier e Maximiliano Damas
As instituições de ensino superior precisam compreender a diferença entre ondas e tendências como premissa para a tomada de decisões estratégicas. Enquanto as tendências fornecem uma direção de longo prazo, as ondas representam oportunidades de crescimento e inovação em momentos específicos, permitindo que as IES ganhem vantagens competitivas e/ou diversifiquem suas fontes de receita. Essa distinção permite que as IES adaptem seus modelos e práticas para responder de forma eficaz às transformações do setor educacional.
Nos últimos 15 anos, três ondas moldaram a educação superior: o Programa de Financiamento Estudantil (FIES), que democratizou o acesso ao ensino superior; a expansão do ensino a distância (EAD), que facilitou o acesso à educação em regiões remotas e reduziu custos; e a ampliação dos cursos na área da saúde, que atendeu a uma crescente demanda por profissionais qualificados no setor. Essas ondas impulsionaram o aumento das matrículas, diversificação de receitas e a consolidação do setor de educação superior privada.
Atualmente, as IES enfrentam o desafio de identificar novas ondas em um cenário de rápidas mudanças tecnológicas e socioeconômicas. Esse contexto exige das instituições uma capacidade maior de adaptação e análise para diferenciar entre ondas passageiras e tendências duradouras, garantindo, assim, um posicionamento estratégico resiliente e sustentável.
O setor brasileiro tem passado por mudanças profundas, impulsionadas por fatores econômicos, sociais e tecnológicos, o que demanda que as IES se adaptem a novas configurações e expectativas do público. Para se manterem competitivas, as instituições precisam integrar novos paradigmas que transcendem o ensino tradicional, incorporando tecnologias inovadoras e oferecendo experiências personalizadas que atendam à sociedade e ao mercado de trabalho em constante evolução.
As cinco ondas de crescimento identificadas para os próximos dez anos são:
Em um mercado que exige adaptação constante, as IES ganham competitividade ao oferecer programas de curta duração e voltados para o desenvolvimento de habilidades práticas.
Tecnologias como inteligência artificial e realidade virtual estão transformando a educação. Instituições que integram essas inovações tanto na gestão acadêmica quanto na gestão administrativa se destacam ao criar experiências mais envolventes, inclusive no processo ensino-aprendizagem.
A globalização e a flexibilidade dos formatos híbridos ampliam o alcance e relevância das IES, que podem atrair estudantes em um ambiente conectado e diversificado.
A revolução tecnológica cria novas necessidades de formação, e as IES que capacitam seus estudantes para as demandas da Indústria 4.0 atenderão uma das demandas mais urgentes do mercado.
Instituições que incorporam responsabilidade socioambiental e sustentabilidade em suas estratégias atraem estudantes que valorizam o impacto positivo da educação.
Essas ondas refletem um futuro em que as IES precisarão adaptar suas estratégias e programações, refletidos no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e nos Projetos Pedagógicos de Cursos (PPC) para se manterem relevantes em um cenário dinâmico e complexo, integrando flexibilidade, inovação e qualidade.
A seguir, proporcionamos um olhar aprofundado sobre essas tendências e oferecemos insights sobre como as IES podem se preparar para “surfar” essas novas ondas de crescimento, adaptando seus modelos de negócios e práticas para garantir sua relevância e competitividade em um ambiente educacional em constante transformação. Ao compreender e implementar as estratégias associadas a essas cinco ondas, as instituições poderão não apenas responder aos desafios do presente, mas também construir um futuro próspero e inovador para a educação superior no Brasil.
Modelos de Gestão: as IES precisarão adotar modelos de gestão ágeis e adaptáveis para oferecer cursos que acompanhem as rápidas mudanças do mercado de trabalho. A gestão deve ser orientada por dados, utilizando sistemas de business intelligence (BI) para identificar áreas de demanda e ajustar rapidamente o portfólio de cursos. A flexibilidade na elaboração de currículos e na oferta de cursos modulares será essencial para responder às necessidades de um público em busca de formação contínua e personalizada.
Formação e capacitação docente: os docentes deverão ser capacitados para atuar em formatos mais flexíveis de ensino/aprendizagem, incluindo metodologias ativas e práticas de aprendizagem que envolvam estudos de caso, resolução de problemas reais, simulações etc. A habilidade de integrar conhecimentos de diferentes disciplinas e oferecer uma abordagem prática e orientada para o mercado será um diferencial para os professores.
Perfil dos estudantes: o perfil dos estudantes que buscam educação continuada é variado, englobando profissionais já inseridos no mercado que desejam atualização e requalificação. São alunos com experiência prévia, que valorizam a aplicabilidade imediata do conhecimento e que desejam soluções rápidas e objetivas para suas necessidades de formação.
Modelos de gestão: a gestão das IES deverá incorporar tecnologias disruptivas não apenas nos cenários de aprendizagem, mas também nos processos administrativos, na captação de estudantes e na retenção de alunos. Sistemas de inteligência artificial poderão ser utilizados para personalizar a experiência do aluno, desde o momento da inscrição até a conclusão do curso, e para otimizar processos internos, como gestão acadêmica e acompanhamento do desempenho dos alunos.
Formação e capacitação docente: os professores precisarão ser capacitados para utilizar tecnologias como realidade virtual (RV), IA e plataformas de gamificação em suas práticas pedagógicas. A formação docente deve incluir não apenas o domínio dessas ferramentas, mas também o desenvolvimento de competências para criar experiências de aprendizagem interativas e personalizadas.
Perfil dos estudantes: os estudantes de hoje são nativos digitais, acostumados a interações online e a experiências imersivas. Eles esperam que a tecnologia seja parte integrante de seu processo de aprendizagem, e valorizam a personalização, a interatividade e a possibilidade de aprender em seu próprio ritmo.
Modelos de gestão: a expansão da internacionalização exige um modelo de gestão que esteja preparado para lidar com parcerias internacionais, regulamentações diferentes e a necessidade de oferecer suporte a estudantes estrangeiros. A gestão deve ser capaz de integrar atividades acadêmicas, administrativas e culturais em um ambiente que valorize a diversidade e a troca de experiências globais.
Formação e capacitação docente: os docentes deverão estar preparados para ensinar em ambientes multiculturais, inclusive em outros idiomas, e para lidar com diferentes estilos de aprendizagem. O desenvolvimento de competências interculturais e o uso de metodologias ativas que promovam a colaboração e a troca de experiências entre alunos de diferentes origens serão fundamentais.
Perfil dos estudantes: o estudante que busca experiências internacionais é geralmente mais independente e proativo. Ele valoriza a diversidade, a possibilidade de aprender em ambientes multiculturais e a flexibilidade oferecida por programas híbridos que se adaptam a diferentes realidades.
Modelos de gestão: a gestão das IES deverá ser orientada pela inovação e pelo desenvolvimento de parcerias com empresas que atuam na Indústria 4.0. A integração entre academia e setor produtivo permitirá que as instituições se mantenham atualizadas e ofereçam cursos alinhados com as competências exigidas pelo mercado de trabalho.
Formação e capacitação docente: os docentes precisarão ser capacitados para ensinar habilidades técnicas e digitais, assim como para aplicar metodologias que promovam a inovação e o empreendedorismo. Será necessário investir em treinamentos que permitam aos professores se manterem atualizados com as tecnologias e práticas da Indústria 4.0.
Perfil dos estudantes: os estudantes interessados em formação para a Indústria 4.0 são geralmente mais orientados para a prática, valorizam a aprendizagem por meio de projetos e buscam desenvolver competências técnicas que possam ser aplicadas diretamente no mercado de trabalho.
Modelos de gestão: a gestão das IES deverá incorporar práticas sustentáveis e socialmente responsáveis em sua estratégia institucional, criando programas e projetos que promovam o engajamento com a comunidade e o desenvolvimento de competências voltadas para o impacto social.
Formação e capacitação docente: os professores precisam ser preparados para incorporar temas de sustentabilidade e responsabilidade social em suas disciplinas, desenvolvendo projetos práticos que envolvam os estudantes em ações de impacto real. É importante que os docentes sejam capazes de atuar como facilitadores de processos de aprendizagem que incentivem o protagonismo e o engajamento dos alunos.
Perfil dos estudantes: os estudantes que buscam uma educação voltada para o impacto social e sustentabilidade têm um perfil mais engajado e procuram formação que lhes permita atuar em iniciativas que promovam mudanças positivas na sociedade. Valorizam a ética, a responsabilidade e a possibilidade de contribuir para um futuro mais sustentável.
As IES enfrentam grandes transformações tecnológicas, sociais e econômicas, exigindo uma gestão mais flexível, inovadora e orientada por propósitos.
Gestores devem adotar modelos de gestão adaptáveis, com decisões orientadas por dados e uma rápida resposta às mudanças do mercado e das expectativas dos estudantes. Isso implica investir em tecnologias de análise de dados e repensar a organização dos cursos.
A capacitação docente é central nesse processo. O professor atua como facilitador de experiências interativas, utilizando novas tecnologias e metodologias ativas para engajar e inspirar os alunos.
Estudantes buscam não apenas conhecimento, mas experiências práticas que os preparem para um mundo em transformação. As IES precisam responder a essa demanda com ambientes flexíveis, híbridos e orientados por projetos.
Para se manterem competitivas e impactarem positivamente a sociedade, as IES devem adotar postura visionária e proativa, priorizando inovação, flexibilidade, qualidade e responsabilidade socioambiental, considerando a trajetória e a identidade institucional. Ressignificar seu propósito a partir do seu DNA.
Iara de Xavier é doutora em saúde pública. Exerceu cargos acadêmicos e de gestão em IES pública e no Inep/MEC. Maximiliano Damas é engenheiro de computação, mestre em sistemas e computação. Doutor em engenharia de produção. Exerceu cargos acadêmicos e de gestão em IES privadas.
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