Educadores devem criar ambientes em que os estudantes se sintam à vontade para errar, questionar e compartilhar experiências
Estratégia "check-in" reforça vínculo afetivo entre educadores e estudantes (foto: Yuri A/Shutterstock)Você já se perguntou por que algumas turmas se conectam rapidamente e se envolvem profundamente enquanto outras permanecem distantes e desmotivadas? Como criar um ambiente acolhedor e inspirador que motive os estudantes desde o primeiro encontro? Imagine entrar em uma sala de aula cheia de rostos novos, onde o silêncio predomina e a tensão é palpável. Como transformar esse ambiente em um espaço de pertencimento, diálogo e aprendizado significativo?
A integração de novos estudantes é um desafio recorrente para educadores em instituições de ensino superior. Inseguranças, ansiedades e barreiras sociais podem dificultar a formação de laços genuínos. No entanto, pesquisas recentes em neurociência apontam que o vínculo afetivo é o caminho mais eficaz para promover o pertencimento e o engajamento.
Vamos explorar caminhos práticos e baseados em evidências científicas que ajudam educadores a transformar a sala de aula em um espaço emocionalmente seguro, colaborativo e motivador.
Nos últimos anos, a ciência da aprendizagem tem evidenciado como as emoções influenciam os processos cognitivos. Uma máxima cada vez mais comprovada é: “só se aprende aquilo que emociona”. Emoções são reações instantâneas que podem facilitar ou bloquear o aprendizado. Quando um estudante sente ansiedade, por exemplo, sua capacidade de memorizar informações e resolver problemas pode ser prejudicada. Por outro lado, emoções positivas — como curiosidade, entusiasmo e pertencimento — criam uma base sólida para que o conhecimento seja duradouro e aplicável.
A neurociência oferece insights importantes sobre como as emoções estão diretamente relacionadas aos processos de aprendizagem. Quando o cérebro detecta uma situação emocionalmente relevante, ele ativa o sistema límbico, particularmente a amígdala, que regula respostas emocionais. Estudos demonstram que experiências marcadas por emoções positivas geram um aumento na produção de dopamina, um neurotransmissor fundamental para a consolidação da memória e do aprendizado.
Por outro lado, emoções negativas, como medo e ansiedade, ativam o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, liberando cortisol, o hormônio do estresse, que pode prejudicar a capacidade de concentração e memória. Sob essa perspectiva, o ambiente educacional precisa ser emocionalmente seguro para que o aprendizado aconteça de maneira eficaz e sustentável.
Além disso, a neurociência social revela que o ser humano é biologicamente programado para buscar conexões sociais. Pertencer a um grupo reduz a sensação de ameaça e ativa áreas do cérebro associadas ao prazer e à recompensa. Assim, criar um ambiente educacional que promova pertencimento e empatia não é apenas uma questão pedagógica, mas também biológica.
Logo, o papel do educador vai muito além de transmitir conteúdo. Ele precisa criar um ambiente em que os estudantes se sintam à vontade para errar, questionar e compartilhar experiências. Estudos da psicologia educacional apontam que ambientes de aprendizado emocionalmente seguros aumentam a apropriação do conhecimento e reduzem índices de evasão.
Garantir que os estudantes se sintam acolhidos é uma tarefa que exige intencionalidade. Atividades que criam conexões emocionais e promovem a autoconsciência são fundamentais para fortalecer os laços entre estudantes e educadores, contribuindo para um ambiente mais colaborativo e engajador. Vamos explorar duas abordagens essenciais para promover conexões e monitorar o clima emocional da turma.
Conexão e vínculos são fundamentais para que os estudantes se sintam pertencentes à comunidade acadêmica. Quando as pessoas percebem que suas vozes são ouvidas e suas experiências valorizadas, elas se engajam de maneira mais profunda. De acordo com um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2019), um ambiente educacional que favoreça o bem-estar emocional dos estudantes pode melhorar significativamente o engajamento e reduzir o risco de evasão escolar. O relatório também destaca que o sentimento de pertencimento está diretamente relacionado ao desempenho acadêmico e à motivação dos estudantes.
Promover conexões genuínas envolve criar espaços de interação significativa, onde os estudantes podem compartilhar histórias, reconhecer suas emoções e identificar interesses comuns. Essas interações ajudam a quebrar barreiras sociais e promovem um ambiente de confiança mútua, essencial para o aprendizado. Uma prática poderosa para isso é o “círculo de narrativas”, onde os estudantes se sentam em círculo e compartilham histórias pessoais relacionadas a um tema proposto pelo educador, como “um momento em que me senti desafiado”. Essa prática ativa áreas do cérebro associadas à empatia e ao reconhecimento social, fortalecendo as conexões interpessoais. Para que essa dinâmica funcione bem, é importante estabelecer regras claras de respeito e escuta ativa. O professor também deve participar e compartilhar, para que o grupo perceba que todos estão no mesmo nível de vulnerabilidade.
Outra estratégia eficaz é a “cartografia de interesses”, que explora hobbies, paixões e curiosidades dos participantes. Cada estudante preenche um formulário com suas preferências e compartilha com os colegas, criando um mapa coletivo de interesses comuns. Isso facilita a descoberta de afinidades, promovendo um senso de pertencimento e ativando o sistema de recompensa do cérebro. Esse mapa pode ser usado como referência ao longo do semestre para planejar atividades que explorem esses temas, criando uma experiência de aprendizagem mais personalizada e envolvente.
Os check-ins emocionais são uma ferramenta simples, mas poderosa, para monitorar o clima emocional da turma. Eles permitem que os estudantes expressem emoções, alinhem suas expectativas e se sintam acolhidos desde o início do encontro. Essa prática não apenas melhora a regulação emocional dos estudantes, mas também permite que o educador ajuste a dinâmica da aula de acordo com o estado emocional do grupo, criando um ambiente mais seguro e propício ao aprendizado.
Check-ins frequentes ajudam a identificar padrões emocionais que podem influenciar o desempenho acadêmico. Quando um educador faz check-ins regulares, ele passa a ter um termômetro do estado emocional coletivo, podendo intervir de maneira mais eficaz em situações que exigem acolhimento ou incentivo. Esse monitoramento contínuo permite que o professor compreenda como fatores externos e internos estão afetando a turma e promova ajustes para melhorar o engajamento.
Um exemplo de check-in emocional é a “nuvem do clima”. O educador pergunta: “Se o seu humor fosse o clima de hoje, como ele estaria?” Essa abordagem facilita o reconhecimento das emoções de forma leve e criativa. Expressar emoções reduz o impacto do estresse e ativa áreas do cérebro responsáveis pelo autocontrole e regulação emocional. Com base nas respostas, o educador pode adaptar a dinâmica da aula para alinhar-se ao humor predominante, promovendo um ambiente mais acolhedor.
Outro exemplo é o “termômetro de energia”, onde os estudantes avaliam seu nível de disposição em uma escala de 0 a 10. Essa prática permite que o professor ajuste o ritmo da aula conforme o nível de energia do grupo. Quando os estudantes têm consciência de seu estado emocional, eles conseguem se adaptar melhor às demandas acadêmicas. Se o nível de energia estiver baixo, o educador pode começar com uma dinâmica interativa para elevar o ânimo, garantindo que todos estejam mais preparados para o aprendizado.
A estratégia do check-in não apenas cria um espaço de escuta e acolhimento, mas também reforça o vínculo afetivo entre educadores e estudantes. Quando as pessoas se sentem vistas e ouvidas, sua motivação e disposição para aprender aumentam significativamente, criando um ambiente de sala de aula mais colaborativo, seguro e engajador.
Pesquisas da Gallup indicam que apenas 47% dos estudantes se consideram engajados em suas experiências educacionais. Isso acontece principalmente porque muitos deles não conseguem enxergar uma conexão prática entre o conteúdo acadêmico e suas vidas. Porém, outro fator determinante é a falta de pertencimento — sentir-se aceito, respeitado e valorizado dentro do ambiente educacional.
Esse pertencimento é especialmente importante para estudantes adultos, que frequentemente precisam conciliar estudos, trabalho e família. Criar espaços onde esses estudantes possam compartilhar experiências e desafios, sem medo de julgamento, é essencial para promover o engajamento e reduzir a evasão.
A integração de novos estudantes nas IES é mais do que um rito de passagem; é uma oportunidade de criar conexões que impactem positivamente sua experiência acadêmica. O ambiente educacional precisa ir além do conteúdo programático e valorizar as emoções, experiências e histórias de cada indivíduo.
Ao priorizar práticas que valorizem as emoções e promovam o pertencimento, os educadores tornam-se agentes de mudança, capazes de transformar o ambiente educacional em um espaço seguro, engajador e afetivo. O resultado? Estudantes mais motivados, engajados e prontos para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.
Educar não é apenas ensinar conteúdo. É criar experiências que conectem intelecto, emoção e prática.
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Por: Thuinie Daros | 14/01/2025