NOTÍCIA
Resultados de editais lançados pelo MEC devem ditar as tendências para 2025
Publicado em 07/03/2025
O ano de 2025 será marcado por um cenário de grande disputa pelos cursos de medicina no Brasil. Seja por conta dos reflexos da judicialização ou pela disputa pelos cerca de 90 novos cursos e municípios previstos no Edital n° 1/2023, que retomou o Programa Mais Médicos. Segundo especialistas ouvidos no guia Tendências no Ensino Superior para 2025, a oferta dos cursos de medicina neste ano também deve ser objeto de transformações profundas, impulsionada por inovações tecnológicas, mudanças pedagógicas e a necessidade de adaptação das IES às novas demandas do mercado. Entre os aspectos destacados, cinco grandes temas surgem como tendência para o futuro dos cursos médicos no país.
Em 2024 foram observados os desdobramentos da intensa judicialização pela abertura de novos cursos e novas vagas de medicina e com a autorização de novos cursos em todo o Brasil. Além disso, o Ministério da Educação retomou o Programa Mais Médicos com a publicação de dois editais: um para seleção de mantenedoras de IES, outro para a habilitação de hospitais de excelência que já possuam faculdade credenciada pelo MEC e desejam ter seu próprio curso de medicina.
Segundo o Padre João Batista Gomes de Lima, reitor do Centro Universitário São Camilo, a publicação dos editais foi uma “importante sinalização” da tentativa do MEC de retomar para si a prerrogativa do ato autorizativo de abertura dos cursos de medicina, “evitando assim a avalanche de liminares e ações judiciais.” Na visão de Silvio Pessanha Neto, vice-presidente do Grupo Yduqs, o ano será marcado pelo resultado dos editais. “No segundo semestre, as mantenedoras selecionadas enfrentarão o desafio de concretizar os projetos aprovados”, afirma Neto.
Simone Horta, presidente da Conaes, acredita que os resultados dos editais impactarão no aumento da judicialização dos cursos de medicina no país. Os especialistas destacam ainda que a abertura de novos cursos de medicina impactará também na forma e na qualidade da oferta desses cursos. Para Silvio Pessanha, com o crescimento do número de vagas de medicina em diversas regiões do país, os cursos precisarão se diferenciar para que possam se manter competitivos. “Investindo em atributos de qualidade, ampliando os cenários de prática, captando, treinando e retendo os melhores docentes, promovendo a internacionalização e, principalmente, investindo em pesquisas acadêmicas, translacionais e clínicas.”
Já Jeferson Vinhas Ferreira, CEO do Grupo Integrado, indica uma “pressão no ticket médio dos cursos de medicina” com a aceleração da demanda por meio da abertura dos novos cursos judicializados ou pelo Mais Médicos, “o que levará a uma acomodação dos preços em patamares menores que aqueles vistos até 2024”. Segundo ele, estratégias comerciais mais agressivas também serão determinantes para continuar garantindo um bom ingresso de calouros.
Com o aumento da oferta de cursos de medicina, o diferencial das IES será o investimento em novas ferramentas tecnológicas com o intuito de agregar a experiência de aprendizagem do aluno. Nesse sentido, Margareth Galvão, diretora acadêmica das Faculdades Pequeno Príncipe, destaca que a tecnologia está revolucionando a educação médica, oferecendo ferramentas como simuladores médicos, realidade virtual e plataformas online. “Essas ferramentas proporcionam experiências mais imersivas, preparando os estudantes para os desafios da prática clínica. Além disso, a inteligência artificial está sendo utilizada para auxiliar no diagnóstico de doenças, no desenvolvimento de novos medicamentos e na personalização de tratamentos, tornando a medicina mais precisa e eficiente”, afirma. Jeferson Ferreira acrescenta que, em um mercado mais competitivo, ter um curso que investe um bom percentual do seu resultado em inovação do seu próprio “produto” se torna essencial.
Silvio Pessanha acredita que o arsenal tecnológico disponível aos médicos precisará ser cada vez mais incorporado às salas de aula, permitindo que os estudantes não apenas se familiarizem com as ferramentas que encontrarão ao se formarem, mas também potencializem o processo de ensino-aprendizagem. Entre os principais exemplos destaca-se a telemedicina, que já está sendo utilizada na graduação para ampliar as vivências e a exposição dos estudantes de medicina a uma grande diversidade de casos e discussões clínicas.
O crescimento dos cursos de especialização (pós-graduação lato sensu) na área médica também se apresenta como forte tendência para o ano de 2025. Jefferson Vinhas Ferreira destaca a existência de movimentos de instituições investindo em cursos livres, de pós-graduação, especialização e aperfeiçoamento da prática médica. “O que era particular de algumas instituições nichadas tende a se tornar a regra para quem quiser se destacar na educação médica.”
Já Silvio Pessanha ressalta que o número de egressos de cursos de medicina cresce anualmente, mas apenas metade desse contingente encontra correspondência em vagas de residência médica. “Diante disso, parece fundamental a tendência de fortalecer e expandir os programas de residência, especialmente em especialidades com alta demanda e carência em determinadas regiões do Brasil. Acredito que há uma tendência de investimento no aumento de vagas de residência médica e de qualificação de programas complementares de especialização médica para suprir as lacunas de médicos especialistas nas diferentes regiões do país.”
Sob uma perspectiva acadêmica, Margareth Galvão destaca a ênfase na utilização de pesquisas científicas para embasar decisões médicas. “O ensino com pesquisa é uma metodologia que favorece o estudante a tornar-se pesquisador curioso, criativo e reflexivo. A medicina baseada em evidências garante que as decisões clínicas sejam tomadas com base em dados científicos confiáveis”, diz. Jefferson Ferreira entende que o internato será um grande diferencial e poderá impactar a decisão do aluno ingressante por determinado curso. “A IES que tiver um modelo de internato que garanta o exercício da prática do curso com a maior variedade de especialidades possível, com a maior qualidade de preceptores e com a melhor estrutura hospitalar conveniada ou própria, terá enormes vantagens”, diz.
Na análise de Silvio Pessanha, para que as discussões sobre a qualidade da formação avancem, será necessário avaliar o egresso do curso de medicina. “Razão pela qual será essencial o desenvolvimento de ferramentas que permitam aferir o atingimento dos objetivos educacionais, visando a formar profissionais de excelência”, acrescenta. Em sua visão, o foco na qualidade deve enfatizar a urgência de alcançar uma formação médica mais humanizada, que esteja, ao mesmo tempo, alinhada com os avanços científicos e tecnológicos e com as demandas do mercado de trabalho.”
Entre as tendências apontadas para os cursos de medicina em 2025, observa-se também a necessidade de priorizar a humanização no atendimento ao paciente e o foco na saúde pública e prevenção de doenças. Margareth Galvão destaca que os futuros médicos estão sendo preparados para atuar de forma mais proativa, promovendo hábitos saudáveis e prevenindo doenças, além de tratar as já existentes. “Desse modo, disciplinas como comunicação, ética e bioética visam formar profissionais mais empáticos e capazes de estabelecer relações mais humanizadas com seus pacientes. A medicina personalizada busca oferecer tratamentos específicos para cada paciente, levando em consideração suas características genéticas e moleculares, e essa abordagem permite tratamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais”, afirma.
No mesmo sentido, o Padre João Batista entende que o curso de medicina deverá enfatizar ainda mais a importância da empatia, da comunicação eficaz e do cuidado centrado no paciente. “Habilidades interpessoais serão cada vez mais valorizadas, preparando os futuros médicos para lidar com a complexidade das relações humanas e as necessidades emocionais dos pacientes e de seus familiares. Além disso, com a crescente ênfase na prevenção de doenças e na promoção da saúde, o curso de medicina deverá integrar mais conteúdos relacionados à medicina preventiva e à saúde pública”, complementa.
Esses especialistas são alguns dos 81 nomes reunidos na edição de 2025 do guia Tendências no ensino superior, elaborado pelo Semesp e pelo Consórcio STHEM em parceria com a revista Ensino Superior. O documento visa orientar as decisões relacionadas ao planejamento institucional das IES e está disponível para download gratuito. Acesse.