Revista Ensino Superior | Pesquisa botânica leva Unip à Antártida
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NOTÍCIA

Redação

Pesquisa botânica leva Unip à Antártida

Foram coletadas mais de 50 espécies de briófitas, das cerca de 120 conhecidas na Antártida, para a descoberta de potenciais farmacológicos

Publicado em 14/03/2025

por Sandra Seabra Moreira

DSC_9444_Panorãmica Panorâmica da região antártica que recebeu os pesquisadores brasileiros Foto: Divulgação/Unip

Quando os pesquisadores Mateus Paciência e Amanda Leal da Silva Teodoro chegaram da Antártida com amostras de briófitas antárticas, o musgo antártico, ao Núcleo de Pesquisas em Biodiversidade, o NPBio, da Unip, em São Paulo, trouxeram a expectativa de descobertas que salvam vidas. Das amostras espera-se obter substâncias antitumorais, antibacterianas e uma substância inibidora da enzima acetilcolinesterase, envolvida no processo patogênico do Mal de Alzheimer. Mas não só.

Trouxeram também as aventuras e riscos que vivenciaram, entre eles, atravessar a Passagem de Drake, ou Mar de Drake, entre a América Latina e a Antártida, a bordo do navio polar Almirante Maximiano, o “Tio Max”, da Marinha. A zona marítima é conhecida como a mais perigosa do planeta, por causa das condições meteorológicas, como ventos fortes, além de ondas gigantes.

Foto: Divulgação

A pesquisadora Amanda Leal coletou musgos antárticos para a pesquisa de seu doutorado na Unip (foto: divulgação)

Foi exatamente durante a primeira viagem de Amanda, em 2019, que aconteceu a queda do avião C-130 Hércules, do Chile, e a morte de 38 pessoas. O navio em que estava foi um dos que trabalhou no resgate de destroços e corpos. Da segunda vez, em 2020, Amanda enfrentou quarentenas no navio por conta da Covid, o que não impediu o contágio de todos que estavam a bordo. 

A própria coleta na Antártida, região inóspita, seca, gelada, é uma aventura, e o trabalho dos pesquisadores é basicamente no ambiente externo, às vezes em altas altitudes, acessíveis com a ajuda de especialistas.  Além disso, não se trata de uma única amostra. É preciso quantidade suficiente para se obter uma biomassa que resultará em extratos vegetais com os quais se faz a pesquisa propriamente acerca das substâncias.

 

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As amostras também chegaram, ainda, graças a um detalhado trabalho que cumpre exigências legais. Há uma lista de solicitações – para coletar amostras sobretudo nas áreas de preservação da Antártida e portá-las – e respectivas autorizações, como as que concede o Scientific Committee on Antarctic Research (SCAR), o comitê científico que delibera sobre a realização das pesquisas antárticas. E tudo dentro dos parâmetros pré-estabelecidos internacionalmente, como os do Tratado da Antártida, de 1959. Os recursos para a empreitada vieram da própria Unip, dos órgãos de fomento, como Fapesp e Capes, além da estrutura das Forças Armadas, em especial da Marinha.

Coordenador no NPBio, Mateus Paciência conta que a continuação das pesquisas da Unip junto ao Proantar é de fundamental importância (foto: divulgação)

Por isso, “cada amostra que trazemos para o laboratório tem um valor agregado, pois só o ato de coletar e trazê-las ao laboratório já é muito grande. Chegando ao laboratório adiciona o valor que tem a ver com o conhecimento que é desenvolvido em função daquela amostra”, afirma Ivana Suffredini, professora do PPG-PAE da Unip e uma das líderes do Grupo de Pesquisa certificado pelo CNPq, intitulado “Atividades biológicas, farmacológicas e toxicológicas de Produtos Naturais”, que conta também com a liderança do médico Drauzio Varella. 

 

As parcerias 

É no âmbito do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), que o NPBio, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Patologia Ambiental e Experimental (PPG-PAE) da Unip, coloca o pé na Antártida desde 2018. Especialista em botânica e coordenador do NPBio, Mateus Paciência foi o primeiro a ir à Antártida. Também foi ele quem fez a quarta e última viagem. “Na Antártida, os diversos pesquisadores que integram o Proantar estudam a composição do solo, a camada de gelo antártica, os ecossistemas marinhos, os processos atmosféricos e a biodiversidade da região como um todo”, conta Mateus.

 

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Ivana Suffredini, pesquisadora e líder no projeto Rio Negro, também é responsável pelo laboratório de extratos vegetais (foto: divulgação)

O convite para participar do Proantar veio do Departamento de Biologia da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Católica de Brasília (UCB). O que as universidades de Brasília buscaram na Unip é a expertise de quase trinta anos, em especial na conquistada ao longo do Projeto Rio Negro, criado em 1997, sob a coordenação do médico Drauzio Varella. O trabalho principal é coletar plantas da Amazônia e da Mata Atlântica e, com elas, obter os extratos vegetais. “O projeto acontece de maneira bem estruturada, com cada etapa muito bem pensada em termos de metodologia científica”, afirma Ivana, que também coordena o projeto. 

Já a pesquisadora Amanda veio do mestrado na área de botânica taxonômica, da UnB. “Ela trabalhou com Paulo Câmara, um especialista em briófitas e que atua no Proantar com as briófitas antárticas, um grupo com muita experiência do ponto de vista botânico e ecológico das diferentes comunidades de briófitas que tem na Antártida”, conta Ivana. 

E foi no NPBio que Amanda realizou seu doutorado, pesquisando 24 extratos vegetais e verificando neles o potencial como agentes antitumoral, antimicrobiano, antioxidante e inibidor enzimático.

 

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A pesquisa na Antártida terá prosseguimento, pois, como diz Ivana, o interesse científico é “brutal”. Esse interesse se relaciona tanto com as briófitas antárticas quanto com as plantas das florestas tropicais e subtropicais, estudadas no projeto Rio Negro. 

Mateus detalha que “assim como os organismos biológicos polares em geral, as plantas antárticas apresentam profundas transformações evolutivas e adaptativas no que diz respeito à sua composição química, quando comparadas a plantas subtropicais ou tropicais. Dentre as mais notáveis está a capacidade de produzir enzimas que auxiliam no processo de não congelamento das células, mantendo ativo o metabolismo celular mesmo durante os invernos mais rigorosos, com temperaturas negativas extremas, que facilmente chegam a ultrapassar 40°C negativos”.

O potencial químico destas plantas antárticas ainda é pouco explorado. “É de se imaginar que constituam objetos únicos de estudo. Em dezembro de 2024, retornei à Antártida em busca de novas plantas. A continuação das pesquisas da Unip junto ao Proantar é de fundamental importância para que novas descobertas venham a surgir, chamando a atenção do mundo para a relevância das espécies da flora antártica e, portanto, colaborando para os esforços globais de proteção da biodiversidade de uma das regiões mais vitais, frágeis e desconhecidas do planeta”, explica.

 

Os resultados

“Até o momento, foram coletadas mais de 50 espécies de briófitas das cerca de 120 conhecidas na Antártida; uma delas, a Sanionia uncinata – a que foi utilizada no trabalho de doutoramento da aluna Amanda – é a que foi mais investigada, em termos do potencial farmacológico, em nossa pesquisa, mas outras espécies ainda podem entregar bons resultados no futuro próximo”, conta Mateus.

Para Ivana, “a partir do esforço de colaboração das universidades, cumprimos uma das principais funções de um programa de pós-graduação: formar pessoas altamente capacitadas que têm condições de resolver problemas da sociedade. Essa é a grande intenção disso tudo. Um dos problemas que a sociedade quer saber é: como o Brasil está contribuindo para o aumento do conhecimento na região Antártida. Essa é a nossa função neste projeto. Ajudar a contextualizar o Brasil dentro do programa, dos tratados antárticos”. 

Amanda já defendeu sua tese e gerou um artigo científico, em colaboração com a equipe, publicado em 2024 nos anais da  Academia Brasileira de Ciências. Outro artigo, acerca do conhecimento químico, está sob análise. “São dois produtos que devolvemos para a sociedade e que foi parte de todo o nosso estudo e esforço até então, para responder parte das perguntas que nós, como uma equipe que tem várias instituições envolvidas, queremos responder.”

 

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As coleções

Nos laboratórios de extração do NPBio, Ivana coordena a elaboração dos extratos vegetais retirados das amostras de plantas. “Temos cerca de 2.450 extratos. Eles têm um valor bastante grande. É uma coleção talvez única entre as universidades particulares, uma extratoteca muito valiosa.  Fazemos questão de testar todos os extratos obtidos exatamente do mesmo jeito, para ter um referencial comparativo. Temos trinta anos de estudos envolvidos nesta extratoteca e a formação de dezenas de pessoas altamente qualificadas, mestres e doutores, e os da iniciação científica também.”

“Pensando só nesse trabalho da Unip, especificamente de extração e testes contra células tumorais e agente infecciosos e Mal de Alzheimer, temos aí mais ou menos 2.500 extratos. Disso podemos tirar que perto de 1.200 a 1.500 desses extratos pertencem a espécies diferentes, a maioria de espécies amazônicas”, detalha Mateus. 

“Há ainda o laboratório de fitoquímica, onde se descobre se há moléculas importantes no extrato. São vários os laboratórios, e lá na parte inicial de tudo tem o herbário. O que há ali é a coleção botânica”, explica Mateus. 

Qualquer que seja a pesquisa realizada, é necessário que o material coletado seja registrado numa coleção botânica, explica Mateus. “Você não consegue hoje uma autorização para fazer um determinado trabalho que envolva um organismo biológico sem que haja a designação da destinação desse material testemunho para uma coleção biológica. Por exemplo, uma parte das briófitas antárticas que coletamos, cerca de 150 gramas, vira extrato. Uma pequena fração disso não vai virar extrato, vai ficar armazenado nessa coleção biológica chamada herbário.”

 

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O Herbário da Unip, desde 1997, abriga a coleção botânica. “Temos hoje no herbário cerca de 12.500 plantas catalogadas, nem todas elas serviram ou servem à produção de extratos. Ali fazemos outros tipos de pesquisa, como identificação e classificação das plantas, estudos de ecologia e botânica aplicada.”

Na coleção, cerca de metade das plantas são oriundas da Amazônia, cerca de mil vêm da Mata Atlântica, e outras mil do Cerrado. Diferentemente dos extratos vegetais, as plantas secas perdem suas características, não dão acesso ao seu patrimônio genético e podem eventualmente ser intercambiadas localmente e internacionalmente. “Fazemos muitas trocas com herbários internacionais, o que reforça a pesquisa. Temos material da China, Croácia, Chile, Argentina, de várias partes do mundo.” 

Hoje em dia, conta Mateus, as trocas são cada vez mais raras, pois as coleções são digitalizadas. A coleção do Herbário da Unip tem cerca de 8 mil plantas digitalizadas e disponíveis na internet.   

Conheça parte da coleção digitalizada: Imagens de plantas catalogadas pela Unip no Herbário Virtual Reflora

 

 

 

Autor

Sandra Seabra Moreira


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