Revista Ensino Superior | Como evitar o ecocídio?

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Redação

Como evitar o ecocídio?

“Políticos populistas são negacionistas, quase todos, com raríssimas exceções. Eles não querem admitir que estamos numa emergência climática e ambiental nunca vista."

Publicado em 30/04/2025

por Sandra Seabra Moreira

pexels-simon73-1694083 Foto: Pexels

 

Durante entrevista concedida à revista Ensino Superior para falar sobre a COP30, publicada na edição 292, o climatologista Carlos Nobre mencionou a questão política em meio aos problemas que emperram os projetos de mitigação das emissões de gases do efeito estufa. Para ele, na atualidade, o negacionismo ambiental de Donald Trump é parte de um problema que se agrava com votações cada vez mais expressivas de políticos populistas, em todo o mundo. 

“Políticos populistas são negacionistas, quase todos, com raríssimas exceções. Eles não querem admitir que estamos numa emergência climática e ambiental nunca vista. Eles querem prometer aos seus eleitores – ‘os cientistas estão exagerando, não tem nada disso, eu cuido de tudo, não tem problema’ – e muitas pessoas acabam elegendo esses políticos. Estamos correndo um risco enorme, porque esses políticos são negacionistas.”

Ele aconselha:

“Não importa sua ideologia política – direita, centro ou esquerda – não vote em políticos negacionistas ou faremos o ecocídio.”

 

O CO2-Index

Um estudo inédito – divulgado em primeira mão pela Agência Bori – mostra que o Congresso Nacional teve papel decisivo no agravamento da crise ambiental no governo Bolsonaro. A pesquisa, conduzida pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem), criou o CO2-Index, um índice que mensura o quanto cada deputado federal contribuiu para aumentar ou mitigar (ou seja, reduzir) a emissão de gases de efeito estufa no Brasil, com base em suas votações, discursos e projetos de lei. Os resultados mostram que 93 das 165 votações relevantes analisadas foram favoráveis a propostas emissoras.

 

Leia: Crise climática eleva importância da biologia marinha

 

Uma das principais conclusões é a correlação entre ideologia partidária e impacto ambiental: deputados de direita apresentaram, em média, índices mais altos de emissão que os de esquerda. O ranking individual mostra o deputado Paulo Ganime (Novo-RJ) como o mais emissor, e Nilto Tatto (PT-SP) como o mais mitigador.

O índice atribui pontuações a cada parlamentar da 56ª legislatura (2019-2022) a partir da relação entre suas ações e os setores da economia mais emissores de gases, como agropecuária, energia, mineração e indústria. Para construir o índice, os pesquisadores analisaram 617 votações nominais, 370 proposições legislativas e 2.453 projetos de lei, identificando quais ações favoreciam ou contrariavam a emissão de gases poluentes. Os dados foram normalizados e interpretados com apoio de um painel de especialistas. Os dados da pesquisa estão disponíveis na plataforma Harvard Dataverse.

Fonte: Agência Bori 

 

Fortalecimento de instituições e pesquisadores amazônicos

As unidades de conservação (UCs) são territórios protegidos pelo poder público com o objetivo de preservação da biodiversidade e diversidade cultural. Nelas, o protagonismo das comunidades tradicionais – povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e agricultores familiares – na gestão do território é fundamental. A ciência já tem dados suficientes para comprovar que as atividades destas comunidades preservaram – e continuam preservando – esses espaços. Entretanto, para essas comunidades das unidades de conservação, há mais tensão do que escuta.

As comunidades tradicionais permanecem excluídas de poderes decisórios – na criação e gestão da UCs –, o que fere o direito dessas populações e gera impactos negativos justamente nos objetivos a que se propõe a criação: conservação ambiental e de modos de vida. 

Esta foi uma das conclusões dos pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFBA), Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Universidade da Integração Nacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB) e do Instituto Tecnológico Vale (ITV) – publicado recentemente no periódico Journal for Nature Conservation (Elsevier).

Em “Socio-environmental Conflicts and Traditional Communities in Protected Areas: A Scientometric Analysis” – “Conflitos socioambientais e comunidades tradicionais em áreas protegidas: uma análise cienciométrica”, em tradução livre – os pesquisadores analisaram conflitos socioambientais nas UCs em 263 artigos, publicados no mundo entre 1990 e 2024, constantes nas bases de dados Scopus e Web of Science.

Na divulgação enviada à redação, os autores destacam outros resultados importantes, como a sub-representação de povos indígenas na produção científica sobre conservação e os efeitos invisibilizados de práticas de “ciência de paraquedas”.

 

Leia: As vozes da floresta na Science

 

“Embora a maioria dos estudos analisados tenha como foco os países do Sul Global, como Brasil e Índia, a liderança na produção científica ainda se concentra em instituições do Norte Global. Esse desequilíbrio expõe uma prática conhecida como ‘ciência de paraquedas’, em que pesquisadores estrangeiros conduzem estudos em territórios biodiversos sem muitas vezes possibilitar o envolvimento efetivo de cientistas e das comunidades locais, deixando pouca contribuição duradoura para a região e tratando muitas vezes seus habitantes como meros coletores de dados ou objeto de estudo.”

Os autores mencionam a necessidade de fortalecer a ciência produzida na Amazônia, para garantir maior “protagonismo, autonomia e justiça epistêmica na definição das agendas de pesquisa e conservação”.  Para isso, é preciso investir em institutos e pesquisadores amazônicos. A aproximação com as populações tradicionais e a construção de diálogos “tornam a ciência mais eficaz e útil para a floresta”.

A pesquisa insere-se no âmbito das ações do INCT-SynBiAm – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sínteses da Biodiversidade Amazônica e do PPBio-AmOr Programa de Pesquisa em Biodiversidade da Amazônia Oriental. 

“Valorizar a ciência realizada na Amazônia é essencial para desenvolver soluções mais justas, eficazes e sustentáveis para toda a região. No conjunto, essas ações contribuem para expandir o entendimento sobre o bioma amazônico e reforçam os esforços de conservação da sua extraordinária biodiversidade”, destaca o professor Leandro Juen, da UFPA, um dos autores do artigo. O objetivo, diz o professor, é “alinhar o conhecimento científico à conservação e ao desenvolvimento sustentável das comunidades tradicionais, promovendo estratégias eficazes para a gestão das áreas protegidas e a valorização dos saberes locais”. 

Leia: Socio-environmental Conflicts and Traditional Communities in Protected Areas: A Scientometric Analysis

 

 

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Sandra Seabra Moreira


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