NOTÍCIA
Bolsista de iniciação científica colabora no estudo e publica artigo
Publicado em 27/10/2025
(Foto: Shutterstock)
Uma sólida cooperação entre o par de cuidadores oferece aos adolescentes um modelo de interação social saudável e seguro. Esse contexto pode garantir sintomas psicológicos positivos nos adolescentes. Essa sãos conclusões do estudo Personalidade, coparentalidade e sintomas psicológicos em filhos adolescentes, realizado por pesquisadoras do Núcleo de Estudos em Casais e Famílias (NECAF), vinculado ao programa de pós-graduação de psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul.

Larissa Enriconi Benini, “depois que entramos na pesquisa é difícil querer sair” (Foto: arquivo pessoal)
Resultados da pesquisa, realizada com 217 responsáveis por jovens de 12 a 16 anos, geraram o primeiro artigo acadêmico de Larissa Enriconi Benini, 27 anos, publicado pela revista Paidéia, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da USP. Bolsista de iniciação científica por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC, do CNPq, o artigo é parte de seu trabalho de conclusão de curso (TCC), ao final da graduação em psicologia.
As co-autoras são Clarisse Pereira Mosmann, orientadora de Larissa e coordenadora do NECAF, e Luiza Dalla Corte Euzebio. “Eu auxiliava nas pesquisas, principalmente na pesquisa da Clarisse – Variáveis individuais dos pais, coparentalidade e sintomas psicológicos. – e fiz um recorte. Entre essas variáveis, estudei a personalidade”, conta Larissa.
O estudo investigou as relações entre personalidade, coparentalidade e os sintomas psicológicos nos adolescentes, relacionando contextos e avaliando o papel mediador da coparentalidade por meio de abordagem sistêmica. De acordo com as autoras, a pesquisa “contribuirá para a literatura da área, visto que materiais produzidos sobre a relação entre as variáveis em questão ainda são escassos.”
Para o estudo da personalidade dos respondentes, Larissa utilizou o modelo dos Cinco grandes fatores da personalidade, “o mais aceito”: extroversão, amabilidade ou socialização, conscienciosidade, abertura a novas experiências e neuroticismo.
“Descobrimos que a personalidade dos responsáveis influencia para a formação de sintomas psicológicos nos filhos, mas, em maior medida, o que influencia é a coparentalidade”, explica Larissa. Entre as características de personalidade, duas delas se destacam no que se refere à contribuição delas para a cooperação: a conscienciosidade e a socialização. A conscienciosidade é o comportamento voltado para metas – planejar, ser perseverante no alcance dessas metas. Já a socialização é um vetor que se relaciona a mais empatia, mais confiança nas outras pessoas.
“Essas duas características de personalidade super contribuem para a formação da cooperação coparental, que é justamente resolver os problemas juntos, olhar com empatia para o outro e pensar ‘bom, talvez você esteja precisando de ajuda nesse momento, talvez tenhamos de trabalhar juntos para resolver essa questão do nosso filho’.”
A presença dessas características, auxiliadoras na cooperação coparental, resulta em sintomas psicológicos positivos nos adolescentes. “Eles terão comportamento pró-social, pois o ambiente é mais estável e conseguirão se desenvolver. Esses cuidadores serão os reguladores das emoções dos adolescentes.”
Larissa conta que, no Brasil, o termo ‘coparentalidade’ era mais usado no contexto jurídico – ao lado da parentalidade e conjugalidade. “‘Coparentalidade’ é a relação de dois adultos para cuidar de um terceiro que pode ser filho, sobrinho, ou seja, dois adultos que estão prezando pelo bem estar e desenvolvimento pleno de uma criança ou adolescente. É interessante porque não necessariamente precisa ser pai e mãe, um casal heterossexual. É sempre uma dupla de cuidadores. Pode ser, por exemplo, uma mulher e uma amiga dela, uma mulher e sua mãe. A coparentalidade também acontece entre casais divorciados.”
Há poucas referências acerca da coparentalidade no Brasil, diz Larissa. A pesquisa utilizou estudiosos dos EUA. No modelo adotado pela pesquisa, a coparentalidade abarca três dimensões: conflito, cooperação e triangulação. Conforme o artigo, “o conflito envolve discussões e desacordos entre o casal sobre as formas de criar a criança/adolescente, a combinação de rotinas e o grau de aprovação ou desaprovação dos cuidados prestados pelo outro. A cooperação refere-se ao quanto um dos pais ajuda o outro e respeita as decisões e características do outro. Por fim, a triangulação ocorre como resultado das discussões entre o casal e consiste na inclusão de um terceiro (filho ou filha) na situação.”
Quanto mais a cooperação está presente na dupla de cuidadores, menos conflitam. “Por isso também esses adolescentes possivelmente são menos submetidos a brigas e a conflitos explícitos na frente deles.”
As entrevistas não aconteceram com casais ou duplas, foram individuais. As mães constituíram a maioria entre os 217 respondentes (89,30%). “Os homens são menos acessíveis, é um padrão que a gente vê quando há pesquisas relacionadas à família – as mães, as mulheres respondem mais.”
Na mesma amostra, a maioria dos respondentes tem nível de pós-graduação, é casada oficialmente, ganha salário mensal, tem vida estável. “Por isso, também apontamos, no final, que nas próximas pesquisas seria interessante ter uma amostra mais diversificada, até com nível de escolaridade diferenciado. Isso porque já há pesquisas que apontam que a coparentalidade melhora quando o nível de escolaridade é alto, porque as pessoas têm mais arcabouço para o diálogo.
A análise dos dados foi realizada por meio da Modelagem de Equações Estruturais. “Essa modelagem permite testar diferentes modelos, diferentes formas de se juntar as variáveis. Além disso, é mais precisa. Em toda medição estatística há uma probabilidade de erro, por exemplo, tantos por cento podem fugir à regra. Essa modelagem já coloca o valor desse erro embutido ali, por isso fica mais fidedigna e consegue maior grau de predição, em relação, por exemplo, a um aspecto influenciar outro.”
Atualmente, Larissa cursa especialização em psicologia sistêmica de casais, indivíduos e famílias. “Na psicologia, é preciso um foco. Se fizer com a abordagem psicanalítica, a leitura é uma; se for com a cognitiva comportamental, é outra leitura. Sempre olho a partir da sistêmica e escrevi meu artigo a partir dela. Quis ir para a pós primeiro para ampliar ainda mais meu conhecimento na abordagem sistêmica para depois passar para outras abordagens.”
O mestrado virá em seguida. “Depois que entramos na pesquisa é difícil querer sair, porque é muito bom entender melhor as coisas, poder explicá-las. Dúvidas, curiosidades sempre temos como ser humano, e a pesquisa é o lugar em que podemos ir atrás dessas curiosidades. O engraçado é que pesquisamos uma coisa e sempre aparecem mais perguntas.”
Leia o artigo na íntegra: Personalidade, coparentalidade e sintomas psicológicos em filhos adolescentes.