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NOTÍCIA
Em meio à repercussão do relatório de riscos globais do Fórum Econômico Mundial, que apontou a desinformação, pela segunda vez consecutiva, como o maior risco global, a presidente do Conselho Diretor do Palavra Aberta, Patrícia Blanco, falou à Ensino Superior
Publicado em 27/03/2025
Por Sérgio Rizzo
Em meio à repercussão do relatório de riscos globais do Fórum Econômico Mundial, que apontou a desinformação, pela segunda vez consecutiva, como o maior risco global, a presidente do Conselho Diretor do Palavra Aberta, Patrícia Blanco, defende a inserção da educação midiática em todos os cursos de graduação, na medida em que ela é necessária para o desempenho do cidadão e da cidadã. “Principalmente a licenciatura, que lida justamente com a formação do professor que vai para a sala de aula. Quando a gente fala do curso universitário de medicina, por exemplo, o profissional vai lidar com a desinformação no aspecto pessoal, e depois na relação com o paciente.”
Patrícia Blanco, presidente do Conselho Diretor do Palavra Aberta, afirma que “precisamos preparar todo profissional para lidar com esse ambiente poluído, polarizado, em que a desinformação ganha terreno” (foto: Instituto palavra Aberta)
Ao completar 15 anos de atividades em 2025, o Instituto Palavra Aberta mantém-se como uma organização referencial para os debates sobre comunicação e liberdade de expressão no Brasil. Fundada pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), pela Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e pela Associação Brasileira de Agências de Publicidade (ABAP), a organização tem parceiros acadêmicos — como a Universidade de São Paulo (por meio do Núcleo de Comunicação e Educação e do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura) e a ESPM — e uma aliança com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Patrícia Blanco falou à Ensino Superior e abordou, também, uma pauta estratégica para o instituto, a alfabetização midiática e o combate à desinformação, trabalhada pelo programa EducaMídia, cujo principal objetivo é “fornecer suporte e ferramentas para que crianças e jovens desenvolvam as habilidades necessárias para consumir informação de forma segura e responsável”. Um desdobramento desse programa é o EducaMídia 60+, voltado a pessoas com mais de 60 anos de idade.
Olha, essa é a pergunta de um milhão de dólares. Chamo de desinformação toda informação que chega de uma certa forma enviesada, quando você não consegue identificar corretamente a origem, o propósito, o objetivo da informação. E é tão difícil você conceituar desinformação porque entre o verdadeiro e o falso você tem milhares de nuances. Você tem uma informação que, mal comunicada, pode desinformar. Você tem uma informação construída para convencer de algo que não é verdadeiro. Acho que é também por isso que existe tanta dificuldade em criar uma lei que puna a desinformação. Sendo mais objetiva, para mim, desinformação é a informação que causa algum dano no sentido de você não conseguir interpretar corretamente ou não conseguir avaliar se aquela informação é de fato verídica ou não. Não sei se respondi. Realmente eu não tenho uma definição clara do que é desinformação.
Essa é uma preocupação global. Sempre que começa o Fórum Econômico Global, eles soltam aquelas pesquisas de preocupações, principalmente dos CEOs de empresas. E as principais preocupações são desinformação e crise ambiental. Vamos considerar três pontos fundamentais da nossa vida afetada pela desinformação. Primeiro, ela afeta a democracia, na medida em que gera desconfiança em relação às instituições. Quando você começa a duvidar das instituições ou a não ter confiança nelas, você acaba também tendo desconfiança em relação à democracia propriamente dita.
O segundo ponto entra na questão do bem-estar da sociedade. Por exemplo, a questão do PIX, que a gente vivenciou aqui. Ela tinha uma informação verdadeira, um núcleo verdadeiro com uma desinformação no sentido da construção de opiniões a partir de pressupostos falsos de que aquilo poderia gerar uma taxação. Há um impacto na sociedade como um todo. Ela deixa de utilizar o mecanismo de pagamento, que é tão democrático e tão popular, por conta de uma desinformação. O terceiro ponto é no nível individual. Por exemplo, de impacto na saúde. Você pode acreditar em conteúdos desinformativos que levam você a adquirir determinado produto, ou a não tomar uma vacina, ou a fazer escolhas que são prejudiciais para a sua vida, para a sua saúde.
O fomento à desinformação tem principalmente dois interesses, o econômico e o político. No interesse econômico, vem muito essa questão de você tentar convencer, ter ganhos econômicos a partir de conteúdos desinformativos. Mas o ponto que mais preocupa é o aspecto político, de defesa de causas e de interesses, que acaba gerando a polarização. Então, o interesse político, que não é só o interesse político-partidário, mas pode ser o interesse político a partir de ideologias ou de crenças, utiliza maneiras de buscar convencer o outro usando mecanismos desinformativos. E aí vem uma questão muito complicada, a diferenciação entre o que é fato e o que é opinião. Aquele cenário nebuloso entre o falso e o verdadeiro. Porque você pode, a partir de um núcleo verdadeiro da informação, construir narrativas falsas. Você consegue manipular tanto aquela informação que você convence o outro de que aquilo é verdadeiro.
Sempre falo que a opinião não é falsa. Ela pode ser estúpida, pode ser idiota, mas não é falsa. Só que ela é construída a partir de bases falsas. E aí é muito mais difícil você combater, porque entra naquela definição do Dicionário Oxford de 2016, quando colocou pós-verdade como a palavra do ano. O que é pós-verdade? É quando crenças e ideologias superam fatos. Eu brinco que a minha pergunta de mestrado seria: como combater a desinformação se a verdade não importa? As pessoas estão querendo acreditar naquilo por crença, por ideologia, e a verdade nem sempre importa para a tomada de decisão.
A primeira coisa que eu diria: abra espaço para incluir a educação midiática em todos os cursos, porque ensinar a leitura crítica, ensinar a produção de conteúdo responsável e a participação dentro desse eixo, vale para qualquer profissão. A gente vive imersa no universo informacional digital, instantâneo, rápido, e a gente não vai sair dele. Então, precisamos preparar todo profissional para lidar com esse ambiente poluído, polarizado, em que a desinformação ganha terreno. Vamos ver de que forma é possível incluir uma disciplina eletiva nos anos iniciais, ou logo na entrada. A educação midiática é fundamental para o exercício da cidadania.
Sim, esse é um desafio. A licenciatura lida justamente com a formação do professor que vai para a sala de aula. Quando a gente fala do curso universitário de Medicina, o profissional vai lidar com a desinformação no aspecto pessoal, e depois na relação com o paciente. Mas, nas licenciaturas, o profissional vai formar outros profissionais. Acredito muito que, se avançarmos na introdução da educação midiática nos cursos de licenciatura, teremos um ganho para a qualidade desse professor, para o entendimento desse universo da informação, de modo que ele possa levar isso adiante. O nosso interesse no Palavra Aberta em trabalhar a educação midiática se deu por conta de um currículo de formação de professores elaborado pela unidade de Information Literacy (alfabetização midiática) da Unesco.
Esse currículo foi revisto e ainda não está traduzido para o português, mas temos trabalhado muito nisso. Temos um curso livre sobre o assunto. E temos trabalhado para buscar apoio para que cursos de licenciatura adotem esse currículo, pegando um pouco do currículo da Unesco, um pouco do que oferecemos no Palavra Aberta e um pouco de outras iniciativas no Brasil que já começam a ganhar corpo. Temos conversado no Conselho Nacional de Educação para que, nas discussões sobre ensino superior, sejam estabelecidas diretrizes, um marco mais formal mesmo, para a introdução da educação midiática em cursos de licenciatura.