NOTÍCIA
A professora Melyssa Pinheiro, que vivencia a transição de gênero dentro do ambiente universitário, fala sobre o acolhimento que tem recebido da IES
Publicado em 30/04/2025
Ainda não há pesquisas apontando números ou percentuais, mas a presença de professores e alunos trans nas universidades ainda é rara. A importância do acolhimento para essa população é tema do primeiro episódio do Podcast Gestão do Ensino Superior – Prosas de 2025, que recebe a professora Melyssa Pinheiro.
Aos 47 anos, Melyssa é doutora em comunicação e coordenadora dos cursos de comunicação do campus Mooca da Universidade São Judas Tadeu, leciona há 18 anos no ensino superior e, desde maio de 2024, vivencia a transição de gênero. Um processo lento que, em seu caso, tem sido acompanhado pela comunidade acadêmica da São Judas.
“Venha trabalhar do jeito que você quiser”, foi o que Melyssa ouviu de seus gestores ao contar que participaria do podcast e oficializar sua identidade de gênero para as lideranças da instituição. Foi a partir desta conversa que a docente se sentiu confortável para performar um outro lado de sua feminilidade nos corredores da IES, com mudanças na forma de se vestir. Além dos gestores e professores, a docente conta que a recepção entre os estudantes também foi positiva. “Estou sendo muito bem recebida”, afirma.
“Há alguns dias, a minha coordenadora me perguntou se eu já havia entrado no banheiro feminino da sala dos professores, que também tem um banheiro masculino e outro para pessoas com deficiência. Eu havia começado a usar o banheiro para PCDs, pois ainda não era todo mundo que sabia [sobre a transição], mas todos incentivaram a usar o feminino. Comecei e não tive problema nenhum. Estão todos abrindo as portas”, relata a professora.
Na Universidade São Judas Tadeu, além dos banheiros masculinos e femininos, há também o banheiro “para todas as pessoas”, uma das estratégias que a IES adota para o acolhimento efetivo das diversas identidades de gênero e de sexualidade. Essas ações estão dentro do projeto Plurais. “É um projeto que trata da pluralidade da sociedade, olhando para questões raciais, de gênero, entre outras, e tendo o recrutamento e o letramento como pilares”, cita.
Para aumentar a presença de alunos trans no ensino superior, o projeto de lei de número n. 3109/23, da deputada federal Erika Hilton, prevê 5% das vagas em cursos de graduação nas universidades e outras IES federais para pessoas trans e travestis. Ele ainda está em tramitação no Congresso Federal.
“Infelizmente, na maioria das vezes, pessoas trans e travestis são abandonadas pela família. Aos 12 ou 13 anos precisam trabalhar para se manterem vivas e não vão estudar, ou saem da escola por sofrerem bullying. Com isso, não chegam ao ensino superior. É importante a existência de uma lei que vá defender e abrir as portas para que as universidades recebam de uma forma mais acolhedora essas pessoas que já carregam um sofrimento muito grande”, comenta Melyssa.
Com apresentação dos jornalistas Sandra Seabra Moreira e Gustavo Lima, a conversa está disponível nas principais plataformas de podcasts. Acesse o canal de sua preferência e acompanhe na íntegra.