Revista Ensino Superior | Educação Superior caminha para ser clube de ricos

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Formação

Educação Superior caminha para ser clube de ricos

Novas políticas podem significar que milhões de jovens perderão a oportunidade de obter um diploma universitário e construir um futuro financeiramente mais seguro

Publicado em 29/10/2025

por Ensino Superior

EUA Imagem: Shutterstock

Por Denise Forte e Sameer Gadkaree/The Hechinger Report

Neste verão, os legisladores de Washington e o governo Trump aprovaram um importante pacote legislativo que cortará o financiamento de programas que ajudam estudantes de baixa renda, tornando muito mais difícil para esses estudantes custear e concluir o ensino superior. Os líderes por trás desses cortes alegam que eles são necessários para conter o desperdício de recursos e manter o ensino superior responsável. Mas essa linha de raciocínio é lamentavelmente equivocada — e destrutiva.

Essas mudanças tornarão o ensino superior ainda mais exclusivo. E os republicanos da Câmara divulgaram uma proposta orçamentária que reduziria ainda mais o financiamento. Esses legisladores estão, na prática, transformando o sistema de ensino superior em um condomínio fechado para os ricos. Se continuarem assim, milhões de jovens perderão a oportunidade de obter um diploma universitário e construir um futuro financeiramente mais seguro para si e suas famílias. E a força de trabalho ficará carente de profissionais qualificados, o que sufocará a economia do país.

É hora de investir em uma população ágil, adaptável e educada. É importante reconhecer que, mesmo sem nenhuma mudança vinda de Washington, estudantes de baixa renda já enfrentam dificuldades para acessar e concluir o ensino superior. As disparidades na frequência e conclusão do ensino superior, de acordo com a renda familiar, são persistentes e significativas.

Isso se deve em parte à redução do investimento nos programas que mais ajudam. Tomemos como exemplo o programa Pell Grant, que oferece auxílio crucial a mais de 6 milhões de estudantes por ano. No seu auge, na década de 1970, o valor máximo do Pell Grant cobria mais de 75% do custo de um curso superior público de quatro anos. Atualmente, cobre menos de 30%.

 

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Em média, os estudantes que recebem a Bolsa Pell federal — em sua grande maioria provenientes de famílias com renda inferior a US$ 40.000 — ainda têm quase US$ 10.000 em necessidades não atendidas. Essa lacuna exige tantas horas de trabalho para ser preenchida que se torna praticamente impossível para esses estudantes concluírem a faculdade no prazo previsto.

Os legisladores federais poderiam optar por concentrar seus esforços em solucionar esses desafios. Em vez disso, estão tornando o ensino superior inacessível para estudantes de famílias pobres.

Uma análise mais detalhada do pacote de reconciliação recentemente aprovado, ou o chamado “One Big Beautiful Bill Act“, deixa claro que ele colocará em risco o programa Pell, aumentará os custos do pagamento de empréstimos estudantis, tornará a dívida mais cara e arriscada e levará alguns estudantes a desistirem da faculdade.

Em resumo, o pacote corta US$ 300 bilhões do apoio federal para estudantes e mutuários do ensino superior. Mais especificamente, abre caminho para que mais programas de curto prazo, de alto custo e baixa qualidade, participem do programa de bolsas Pell, colocando em risco a estabilidade financeira do programa.

A proposta também elimina planos de empréstimo federais de longa data e os substitui por um sistema que provocará aumentos imprevisíveis nos valores das parcelas . Muitos mutuários de baixa renda provavelmente pagarão mais sob as novas condições de pagamento do que com seus planos de pagamento baseados na renda (IDR, na sigla em inglês) existentes.

 

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E isso vale para os estudantes que ainda recebem empréstimos federais. Os novos limites levarão muitos estudantes a contrair dívidas privadas com menos proteções — e custos mais altos para os estudantes e suas famílias. Como resultado, os futuros estudantes podem considerar os empréstimos muito arriscados e desistir da faculdade.

Além disso, o pacote legislativo reduziu drasticamente os benefícios do Medicaid e do SNAP. Agora, milhões de estudantes universitários correm o risco de perder o acesso a cuidados de saúde e alimentação acessível, o que torna muito mais difícil para eles concluírem seus cursos. Isso também pode levar muitos estudantes a ingressarem diretamente no mercado de trabalho para começar a gerar renda, sacrificando ganhos a longo prazo por necessidades imediatas.

Enquanto isso, muitos legisladores estaduais — que agora esperam menos apoio federal — estão se esforçando para reconfigurar os orçamentos. Isso pode resultar em menos verbas para o ensino superior — que historicamente sofre cortes quando os orçamentos estaduais são apertados.

Enquanto isso, o presidente Trump e os republicanos da Câmara querem intensificar as políticas que impedirão estudantes de baixa renda de ingressarem na universidade. O orçamento do presidente para o ano fiscal de 2026 e a mais recente proposta orçamentária da Câmara sugerem a eliminação completa das Bolsas Federais Suplementares de Oportunidade Educacional (FSEOG, na sigla em inglês) — que ajudam estudantes de baixa renda a complementar a verba destinada às bolsas Pell e outros auxílios financeiros quando estes não cobrem o custo total da universidade.

 

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As propostas também cortariam o CCAMPIS — serviços de creche no campus que atendem principalmente estudantes de baixa renda. Atualmente, cerca de um em cada cinco estudantes de graduação é pai ou mãe.

Os cortes propostos também ameaçam ainda mais o Fundo para o Aprimoramento do Ensino Superior, que ajuda a encontrar estratégias para que mais estudantes concluam o ensino superior. Esses programas poderiam ser aprimorados, mas reduzi-los drasticamente aumenta o endividamento e diminui a matrícula nas universidades.

Essas mudanças serão desastrosas para o “sonho americano”. Pesquisas mostram consistentemente que um diploma universitário é o principal fator de mobilidade econômica. O acesso reduzido ao ensino superior significa aprisionar milhões de pessoas na pobreza.

 

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Isso também significa devastar a economia do nosso país. Se os jovens não se matricularem na faculdade agora, nosso país em breve enfrentará uma grave escassez de professores, enfermeiros, operários e profissionais de TI.

Com a inteligência artificial e as mudanças tecnológicas prestes a alterar fundamentalmente o mercado de trabalho, não podemos simplesmente esperar que a próxima geração consiga se virar com mais dívidas de longo prazo, menos conhecimento e menos habilidades do que a anterior.

É incompreensível que Washington esteja tornando um sistema de ensino superior que já favorece os ricos ainda mais exclusivo. Precisamos mudar nossa trajetória — e rápido.

*Denise Forte é presidente e CEO da EdTrust. Sameer Gadkaree é presidente e CEO do Instituto para Acesso e Sucesso Universitário.

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