NOTÍCIA
Georgina Gonçalves dos Santos assumiu a reitoria da UFRB em agosto e enfrentará em 2024 as consequências das crises política, social e sanitária
Publicado em 25/01/2024
Georgina Gonçalves dos Santos é reitora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Dirigiu o Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) entre 2011 e 2015. Também foi vice-reitora de 2015 a 2019. Eleita para a reitoria em 2019, não foi empossada. Para além de ameaças e cortes efetivos de verbas, as interferências nos processos democráticos e na autonomia universitária estavam no rol das tentativas de sucateamento das universidades federais.
A posse veio apenas em agosto do ano passado, para um período de quatro anos. Georgina é a primeira mulher a ocupar o cargo na história da universidade. É graduada em Serviço Social pela Universidade Católica de Salvador, mestre em Educação pela Universidade Federal da Bahia e doutora em Sciences de l’Éducation pela Université de Paris VIII.
A UFRB tem 18 anos. “Somos uma das grandes universidades – em tamanho e complexidade – criadas pelo programa de Reestruturação e expansão das universidades federais, o Reuni, em 2006”, conta. Dos cerca de 12.800 alunos, 80% são negros, quase a totalidade deles são do próprio estado, 85% ganham, per capita, um salário mínimo e meio, 73% vieram de escola pública e as mulheres são maioria – 63%. “Temos uma universidade muito representativa dos segmentos sociais que antes não estavam no ensino superior.” Os sete centros de ensino da UFRB situam-se em sete cidades do Recôncavo Baiano: Santo Amaro, Cachoeira, São Félix, Cruz das Almas, Santo Antonio de Jesus, Amargosa e Feira de Santana. São oferecidos 63 cursos de graduação – 35 bacharelados, 20 licenciaturas e oito tecnólogos. Na pós-graduação, são 19 cursos stricto sensu e outros 16 lato sensu.
Se a pós-pandemia ainda é um contexto que traz dificuldades para o setor do ensino superior como um todo, na UFRB não é diferente. A seguir ela relata os principais desafios para este ano, o primeiro de sua gestão.
“A universidade enfrenta as reverberações de uma crise política. Se acrescentarmos como consequência dessa crise política a crise social e, ainda, a crise sanitária, o desafio é enfrentar as dificuldades que vêm como consequência delas. Nossos alunos representam a parcela da sociedade que mais sentiu essas crises. Um dos desafios diz respeito a ter a universidade cheia, vigorosa. Precisamos garantir que a universidade possa de fato retomar os rumos e ser plena de sentidos. Necessário retomar o compromisso com uma universidade criativa, democrática, emancipatória, que possa interferir para organizar um projeto de país.
Precisamos garantir que a universidade pela qual lutamos seja esse lugar de preservação e elaboração de conhecimento, de respeito a outros conhecimentos e saberes, comprometida com avanços sociais, com ações acadêmicas que estejam presentes na vida dessas pessoas. Sendo um lugar representativo, que a universidade seja para o povo do Recôncavo, para a camada da população que antes não frequentava espaço tão importante – a universidade pública, gratuita, laica, autônoma, socialmente referenciada, um lugar de resistência e de sofisticação cultural.”
“Considerando a condição socioeconômica da maioria, atualmente atendemos cerca de dois mil estudantes com bolsa assistência estudantil e 25% deles têm algum tipo de cobertura por meio de programas. Mas a questão da permanência precisa ser entendida para além dos dispositivos relacionados a dimensões materiais. É algo mais complexo. Diz respeito aos modos como os currículos se organizam, como se dá a relação com o saber, o aprender. Temos isso como um dos desafios a enfrentar – garantir um processo de permanência qualificado e, para além da permanência, o êxito. Precisamos aprimorar ações. Há equipes que trabalham em projetos de âmbito mais geral, e há os específicos em determinados cursos, oferecendo suporte ao estudante, incentivando-o até a formatura.”
“Além de projetos no campo da pesquisa que incentivem jovens doutores na produção do seu conhecimento, e os mestrandos na consolidação da iniciação na pesquisa, estamos muito interessados na inserção feminina, de jovens pesquisadoras, sobretudo no campo das ciências exatas, em espaços de conhecimento que são culturalmente destinados aos homens.”
“Passamos por anos de embate com um governo que buscava tirar da agenda governamental o ensino superior como dispositivo garantidor de direitos. Foram períodos muito difíceis, com constrangimentos de natureza econômica e orçamentária. A universidade, em alguma medida, era vista como inimiga. Coisa que não somos, ao contrário. Agora, temos claramente um governo de feição democrática, de frente ampla, sustentado por essa disposição de garantir princípios democráticos.
Ainda que neste momento as garantias não sejam evidentes do ponto de vista orçamentário e financeiro, vivemos um ambiente de mais profundo diálogo com o governo.
Precisamos de fortalecimento de políticas de assistência estudantil, e uma ação vigorosa em relação a financiamentos no âmbito da pesquisa e da extensão. Mas temos algo que é muito caro para nós, esperançoso, importante – a possibilidade de dialogar.”