NOTÍCIA

Edição 286

Tecnologia e diversidade se articulam à tradição da UCSal

Na UCSal, tradição e inovação articulam-se para criar ambientes tecnológicos e com diversidade

Publicado em 21/08/2024

por Ensino Superior

UCSal Situado em área de reserva da Mata Atlântica, o campus da UCSal, em Pituaçu, está localizado em reserva natural da Mata Atlântica (foto: divulgação/UCSal)

“Não existe instituição tradicional que corte o arco do tempo se não se atualizar. A inovação é a correspondência necessária à tradição. Não há antagonismo, há uma articulação necessária”, afirma Deivid Lorenzo, reitor da Universidade Católica de Salvador, a UCsal.

Criada a partir da reunião de faculdades confessionais de Salvador, a UCsal tem 63 anos. “Eram iniciativas independentes que se uniram com esse desejo de uma formação ética mais sólida, consistente, fundada na percepção da filosofia cristã. Foi um movimento no sentido de atender à necessidade de a educação universitária formar cidadãos, formar para aquilo que hoje, numa outra linguagem, aborda com o conceito de soft skill, ou seja, para além do manto da técnica, uma formação ética. A UCsal assume esse desejo como premissa fundamental e tem como missão a busca pela verdade, a promoção da pessoa humana em sua integralidade e a promoção do bem-estar social.” 

Os seis mil alunos da UCSal frequentam o campus em Pituaçu, situado em área de reserva da Mata Atlântica. Uma parceria com a ONU e a Unesco mantém uma trilha ecológica. São 32 cursos de graduação presenciais, 11 cursos na modalidade EAD, 34 cursos de pós-graduação lato sensu, além de  quatro programas de mestrado e doutorado, interdisciplinares, voltados à promoção da cidadania. São os de políticas sociais e cidadania, território, ambiente e sociedade, família na sociedade contemporânea, para estudar as questões atinentes à violência doméstica e à rede e relações de educação no âmbito da família, e o programa de direito, centrado nas relações étnico-raciais e de alteridade. “É o perfil que vai se consagrando ao longo dessas seis décadas, propondo um repensar educacional para além da obviedade. Isso faz parte da tradição da Universidade Católica de Salvador.”

 

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Lorenzo chegou à UCSal em 2015 para a direção geral do curso de direito. Em 2020, assumiu a pró-reitoria de graduação, passou pela pró-reitoria acadêmica, e tornou-se reitor no começo de 2024. A gestão universitária, entretanto, não o afastou da sala de aula e do espaço de pesquisa, e Lorenzo é docente na graduação de direito e no programa de pós-graduação em família na sociedade contemporânea. “Permaneço com aquilo que acende minha esperança no mundo que é a condição de professor”, afirma.

Filantrópica, de natureza comunitária, com forte tradição, a UCSal concorre no mercado com instituições que vêm de grandes blocos econômicos, grupos consolidadores, com propostas pedagógicas diferentes. “E temos de sobreviver.”

A tradição, por si só, diz Lorenzo, não garante a manutenção, daí a necessidade de assumir uma postura de vanguarda. “A tradição não é contrária à inovação. Qualquer segmento, não apenas o educacional, se mantém vivo e a tradição se sustenta na medida em que ela responde às questões da atualidade.” 

 

Tecnologia premiada

No primeiro semestre, foram retomadas as atividades do UCSal Centro de Inovação, o UCI. O espaço pretende aglutinar as muitas experiências hoje realizadas no âmbito da inovação tecnológica, como pesquisa aplicada, hackathons, sprints, mentorias e incubação de negócios de impacto social, seguindo uma abordagem multidisciplinar. Desde a graduação, os estudantes são convidados a participar dessas atividades, construindo projetos a partir de solicitações de organizações do Terceiro Setor e empresas.

Nessa toada, o projeto “Ocean Ride”, de alunos da UCSal, venceu o International Space Apps Challenge, hackathon da Nasa que acontece desde 2012, com milhares de participantes que usam os dados abertos da Nasa em busca de soluções inovadoras para desafios na Terra e no espaço. O projeto prevê a criação de um sistema inovador de coleta de microplástico nos oceanos para despoluição dos mares e preservação da vida marinha. 

Atividades também acontecem em parceria com especialistas. O Google I/O Extended Salvador 2024, por exemplo, foi realizado com o Grupo de Desenvolvedores Google Salvador. Os participantes puderam explorar novas tecnologias como IA, Kubernetes e ferramentas da Google, em um ambiente que promoveu a troca de conhecimentos e experiências.

 

Diversidade e oportunidade

No âmbito da internacionalização, o trabalho de mobilidade acadêmica envia alunos da graduação e pós-graduação para França, Portugal e Itália. “Alunos muito jovens já passam de seis meses a um ano fora do país, acompanhados por nós, por meio da assessoria de relações internacionais, num processo que é de conhecimento cultural, hoje indispensável para um estado imerso na globalização, mas é também uma atividade curricular e acadêmica”, conta Lorenzo.

Operando em rede, a UCSal recebe estudantes de fora, do Hemisfério Sul e de países da África, como Angola e Guiné-Bissau, que vêm cursar o mestrado. “São países que não têm tradição no âmbito do stricto sensu e os estudantes que têm o desejo de dar continuidade no seu percurso acadêmico são acolhidos aqui pela UCSal É muito honroso para nós articular e desbravar esses caminhos porque Salvador é a cidade mais negra fora da África. Hoje, resgatarmos essa conexão é muito significativo, muito simbólico para a realidade baiana.”

 

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Deivid Lorenzo

Deivid Lorenzo, reitor da UCsal, “tradição e postura de vanguarda” (foto: divulgação/UCSal)

O ambiente diverso, com a intersecção de visões de mundos, é altamente criativo. “Quando falamos em inovação, lembramos apenas da interlocução com a tecnologia, mas inovar é sobretudo propor, iluminar um lugar distinto na sociedade”, fala Lorenzo. Nesse sentido, a UCSal implantou políticas afirmativas para a contratação de professores. “Na promoção da igualdade étnico-racial, por meio de resolução do conselho universitário, estabelecemos uma política afirmativa de seleção com cota para professores originários de quilombos, indígenas e pessoas com deficiência. Para nós, é uma razão para celebrar.”

No mesmo âmbito das relações étnico-raciais, a UCSal concedeu o título de Doutor Honoris Causa a João Jorge Santos Rodrigues, presidente da Fundação Cultural Palmares, ex-presidente do Olodum e egresso do curso de direito da UCSal. Em 1981, ele fundou o Grupo Negro da Universidade Católica do Salvador e “abriu caminhos importantes para a pauta da negritude no ambiente acadêmico”, destaca Lorenzo. João Jorge também é mestre em direito pela Universidade de Brasília (UnB).

A cerimônia ocorreu em agosto. A maior honraria concedida pela Universidade quer reconhecer o trabalho de João Jorge no enfrentamento ao racismo, há anos evidenciado em sua trajetória, publicações e por estar à frente de um dos maiores alicerces do movimento negro brasileiro, que é o grupo afro-carnavalesco e cultural Olodum.

 

Autor

Ensino Superior


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