NOTÍCIA
Pós-graduação lato sensu é opção mais eficaz para um mercado que demanda atualizações frequentes e conhecimentos específicos
Publicado em 02/12/2025
Ilustração: Shutterstock
Nos próximos cinco anos, cerca de 92 milhões de empregos devem ser eliminados, enquanto outros 170 milhões estarão à disposição no mercado global. É o que diz uma previsão do Fórum Econômico Mundial, buscando traçar cenários até 2030. Se a projeção estiver correta, o problema será o preenchimento desses 78 milhões de vagas com candidatos de perfil adequado. Isso porque os requisitos necessários para esses novos postos serão bastante diferentes daqueles exigidos anteriormente.
Nesse contexto, a graduação tornou-se apenas o pontapé inicial da formação na vida adulta. E os cursos de pós-graduação lato sensu, focados na formação de especialistas em áreas bem determinadas, têm se mostrado a solução mais viável para quem almeja aprendizagens mais rápidas, focadas e capazes de trazer resolutividade para as ininterruptas demandas em suas carreiras.
Prova disso é a explosão da oferta de cursos dessa modalidade. Pesquisa realizada pelo Instituto Semesp em 2023 mostrava que havia 173 mil cursos ativos, a maioria oferecidos por mais de duas mil IES. Na nova pesquisa, que será divulgada em novembro próximo pelo Semesp, a projeção é de que tenhamos em torno de 225 mil cursos, segundo dados da plataforma E-MEC, um aumento de quase 40% em dois anos.
“A pós lato sensu é a grande ferramenta da educação continuada. Estima-se que haja mais de 1,5 milhão de alunos cursando essa modalidade hoje”, diz Márcio Sanches, reitor da Universidade Corporativa Semesp. Para ele, entre os fatores que concorrem para o crescimento da modalidade está a simplificação da legislação na última década, dando autonomia para a sua abertura, com exigência de 50% de mestres e doutores. Houve, também, um aumento exponencial de programas on-line, principalmente após a pandemia. “Já em 2023 identificamos o aumento desses cursos, que atendem melhor ao perfil dos alunos – mais velhos, trabalham e buscam formações que permitam subir na carreira.”
Além disso, para as instituições, há a possibilidade de ter palestrantes internacionais de alto nível. O que diminuiu muito foram os cursos 100% presenciais”, revela Sanches.

Para Priscila Simões, do Ibmec, o crescimento é de cursos oferecidos, não de alunos (foto: divulgação)
Priscila Simões, diretora de Vida Toda do Ibmec, área que compreende os cursos de pós, corrobora a análise do reitor da UC Semesp ao falar das turmas de cada modalidade ofertada por sua instituição. Os mais procurados são os do modelo on-line, em que predominam as aulas assíncronas (85%), com mais 15% de aulas síncronas. Nesse caso, há cerca de 200 alunos por curso. No modo live, com aulas síncronas, o total por turma gira em torno de 50 pessoas, enquanto no presencial (três aulas por semana, uma delas ao vivo, síncrona), há de 25 a 30 alunos.
“Estamos vivendo uma grande migração para o digital, mas desconfio dessa perspectiva de grande crescimento, que acontece em relação à oferta, mas nem tanto no número de alunos, pois tem muito curso com meia dúzia de alunos”, avalia.
As áreas de oferta do Ibmec estão entre algumas das mais procuradas pelo mercado, como direito, finanças, tecnologia e negócios. E há crescimento de demanda nos cursos que mesclam negócios com tecnologia, por exemplo, resultado do desejo de conhecer ou se atualizar na intersecção da inteligência artificial com a área de formação ou atuação do pós-graduando.
Da mesma forma, no início de 2025 o Ibmec lançou uma pós em direito digital. Como a tecnologia muda muito rápido, é necessário sempre monitorar mercado e demanda de cursos. “Mudança de portfólio e atualização de conteúdo são contínuos. Isso exige bastante investimento”, diz Priscila.

Pós-graduação lato sensu tem 1,5 milhão de alunos hoje, afirma Márcio Sanches, da UC Semesp (foto: divulgação)
Segundo Márcio Sanches, as áreas de negócios e direito predominam em relação à oferta de pós lato sensu, seguidas por educação e saúde. “Essas quatro áreas representam quase 90% dos cursos. Mas há um grande crescimento na área de TI também, o que tem ocorrido já na graduação com cursos de sistemas de informação, ciência e engenharia da computação.”
Sanches, no entanto, faz um alerta às IES: ao criar um curso, elas não devem ter um olhar mais focado na oferta que na demanda, ou usá-lo como complementação de renda para o corpo docente. Um grande desafio, diz, é fazer da área de pós um pilar institucional e não apenas um “puxadinho”.
“Os temas escolhidos têm de estar alinhados com as diferentes necessidades do mercado e relacionados às práticas profissionais daquele momento. Projeto e estratégia pedagógica têm de ser aderentes às temáticas, possibilitando experiências práticas, mão na massa, atividades conjuntas e espaços de networking. Por fim, é preciso escolher um corpo docente voltado a cada projeto”, resume o reitor da UC.

Marcelo Napimoga, da São Leopoldo Mandic, menciona o uso de IA para identificar dificuldades do aluno (foto: divulgação)
A área da saúde, no geral, se mantém mais aderente ao modelo presencial. É o que acontece com os cursos de pós da São Leopoldo Mandic, hoje com cerca de 350 turmas voltadas a especialidades de odontologia e medicina. Apenas a especialização em implantodontia tem de 40 a 50 turmas. Outra diferença é que este curso tem carga horária de 1.000 horas, contra as 360 obrigatórias para pós lato sensu e praticadas pela maioria dos cursos.
Segundo Marcelo Napimoga, diretor de pós-graduação e pesquisa da entidade sediada em Campinas e presente em outras oito cidades, os cursos lato sensu ganharam mais força a partir de 2022. “Ao longo do tempo, criamos inovações educacionais que permitissem aos profissionais não ter de abandonar a carreira para acompanhar os cursos. Ao invés de obrigar o aluno a fazer dois anos seguidos, implantamos o sistema de uma semana por mês”, conta o diretor.
Agora, o desafio é a construção de um modelo próprio na especialização de implantodontia. A busca é por personalizar as turmas, fazendo avaliações periódicas para ver quais as dificuldades comuns, por meio de uma ferramenta de IA. Os cursos de odontologia, à exceção de metodologia e ética e bioética, têm carga prática e presencial. No curso de medicina, as aulas de conteúdo teórico ocorrem em modo síncrono e 70% do curso é presencial.

A PUC-PR optou pela parceria para oferecer especializações e entra com a qualidade docente e acervo de pesquisas, conta Paula Trevilatto (foto: divulgação)
Andar acompanhado pode ser mais produtivo do que andar sozinho. É o que diz a experiência da PUC-PR na área de pós-graduação lato sensu. “Desde 2018, quando assumi a pró-reitoria, tivemos um crescimento em receita operacional líquida de 485% só na educação continuada, enquanto o resultado da graduação foi de 50% no mesmo período”, diz Paula Trevilatto, responsável pelo setor de pesquisa, pós-graduação e inovação.
Nesse período, o número de cursos de pós teve variação de 50%, passando de 200 para 300, enquanto o número de alunos subiu 4 vezes e meia, de 4.500 para 20.400. Como nas outras IES ouvidas, a migração para o EAD foi grande. Hoje os cursos da modalidade representam 90% do total.
Um fator que, segundo a pró-reitora, ajudou muito no crescimento foi a parceria, a partir de 2021, com a +A Educação e sua edtech, a Plataforma A. O parceiro fica responsável por tecnologia, marketing, vendas, atendimento ao aluno e escolha das temáticas. A PUC-PR entra com a qualidade docente e o acervo de pesquisas acadêmicas, muitas com impacto internacional.
Os ajustes são feitos a partir de análise de tendências e consultoria especializada. Pequenas mudanças, como o nome do curso, por exemplo, podem revelar potenciais antes pouco explorados. Foi o caso do curso de Psicologia Positiva e Mindfulness, que ganhou um terceiro elemento que fez aumentar a procura: passou a se chamar Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness. Outro caso foi de um dos cursos, sem parceiro, que teve sua grade modificada, o Pós PUC-PR Digital, um dos mais concorridos. Foi constatado que o número de disciplinas era excessivo – 20, cada uma com 15 horas/aula. Inverteu-se: passaram a ser 15 disciplinas de 20 horas. Engrenou.
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Curso |
Instituição |
Valor |
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Pós PUC-PR Digital |
PUC-PR |
R$ 12 mil/ano |
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Implantodontia |
São Leopoldo Mandic |
R$ 2 mil/mês |
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MBA negócios on-line |
Ibmec |
R$ 18 mil/ano |
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MBA negócios live |
Ibmec |
R$ 24 mil/ano |
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MBA negócios (presencial em São Paulo) |
Ibmec |
R$ 38 mil/ano |