NOTÍCIA
Mais do que produzir coisas belas, é importante aprender a agir de modo belo
Publicado em 03/12/2012
As coisas belas para Aristóteles são as melhores ações humanas, principalmente a ação contemplativa. As artes devem educar-nos para os valores do homem livre e suas ações nobres. Uma educação estética, em que não apenas se vão aprender conteúdos éticos importantes, mas em que, por meio da arte, já se vai tomando gosto pela atividade mais nobre no homem, a atividade contemplativa. Assim, mais do que produzir coisas belas, é importante aprender a agir de modo belo. A beleza está inserida na realização das belas artes, mais na atividade contemplativa do espectador do que nas habilidades ou genialidades artísticas do autor. A capacidade de contemplar a realidade também tornará o poeta um poeta melhor. Mais do que o deslocamento do valor da arte do artista para o espectador da obra, esse pensamento indica que as atividades úteis estão a serviço das que não servem a mais nada e são desejadas por si mesmas. O ócio e as coisas feitas por si mesmas, as coisas belas, para Aristóteles, valem mais e devem determinar as coisas úteis e necessárias, pois estas devem servir à vida humana livre, ociosa, cuja ação mais feliz é a contemplação do real, da verdade, das coisas belas.
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Aristóteles faz uma distinção no domínio artístico quando separa a música em didática ou ética, de um lado, e catártica, de outro. Os gregos chamam de músicas as atividades artísticas: a epopeia, a tragédia, a comédia, a poesia lírica, a erótica… Também chamam de música atividades que como tal nos soam inusitadas, como a astronomia e a história.
Aristóteles chama as músicas didáticas de “éticas”, pois o que se aprende com seus mitos é o éthos heróico, os valores que dignificam uma pessoa: a coragem de Aquiles, a astúcia de Ulisses, a dignidade de Ifigênia. E o que se imita na arte é o caráter dos homens e suas ações. Imitações de ações de caráter nobre são as da epopeia e da tragédia, imitações de caracteres mesquinhos são as imitações da comédia. Todas são didáticas, por servir de êmulo e meta no caso das personagens épicas e trágicas, para servir de escárnio e provocar vergonha no caso das personagens cômicas. A comédia é uma representação mais verdadeira, enquanto a tragédia é mais comovente; isso porque esta exprime homens melhores, como gostaríamos de ser, ao passo que aquela, homens piores, como gostaríamos de não ser. Motivação e reconhecimento são funções didáticas da música, a primeira no aspecto moral da formação do caráter e a segunda no aspecto cognitivo da elaboração da experiência.
A arte também é catártica, transformando as emoções humanas como o terror, a compaixão e a cólera. Aristóteles percebe que a provocação e transformação das emoções humanas nas obras poéticas é tanto ou mais importante que a expressão de conteúdos morais. Não fora isto, a catarse das emoções não seria considerada como a finalidade mesma da tragédia.
*Fernando Santoro é doutor em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é professor adjunto e coordenador de graduação da mesma universidade