NOTÍCIA
Com humor sagaz, obra infantojuvenil do começo do século 20, que dá longevidade ao diário de um menino italiano, pode ensinar os adultos a refletir sobre o tratamento dispensado às crianças até hoje
Publicado em 29/01/2013
Essa versão do autor ganha contornos de realidade quando sua voz intervém para explicar os desenhos, presentes ao longo de todo o diário, e no desfecho da história em que Gian acaba se envolvendo em uma confusão política por falar a verdade, segundo os adultos, “na hora errada”. Antes disso, no dia 16 de outubro de 1906, quando o menino decide fugir para a casa de sua tia Bettina, Vamba conta que, neste ponto, “o diário de Gian Burrasca tem uma página amassada e quase toda ocupada pela marca de uma mão suja de carvão, acima da qual se lê, com letras grossas e incertas, como se tivesse sido escrita com um pedaço de carvão, a frase ‘Morro pela liberdade’, interrompida por um rabisco”.
Antes de fugir, Giannino explica em seu diário que sair de casa é sua única saída para fazer os pais e as irmãs entenderem que “as crianças devem ser corrigidas, mas sem usar de pancadas, porque, como nos ensina a História, que conta as crueldades dos austríacos contra os maiores patriotas italianos quando eles conspiravam pela liberdade, as pancadas podem ferir a carne, mas não podem apagar as ideias”. Como se pode ver, seus argumentos são perspicazes e surpreendentes, tanto quanto os conflitos com os quais se envolve.
O diário de Gian Burrasca, de Luigi Bertelli (Vamba), tradução de Reginaldo Francisco (Autêntica, 248 págs., R$ 35)
Outras leituras
A palavra mágica, de Moacyr Scliar (Moderna, 112 págs., R$ 37,50)
Quem narra a história em primeira pessoa é a própria palavra mágica. Ela não diz seu nome, deixa isso para o fim, mas diz a que veio: contar uma história sobre um vocábulo com poderes extraordinários, mas não como “abracadabra” ou “Shazam”. A palavra é uma senha perdida, que Pedro, um menino de 14 anos, vai ajudar seu avô, Lutécio, a encontrar.
As travessuras de Juca e Chico, de Wilhelm Busch, tradução de Claudia Cavalcanti (Iluminuras, 64 págs., R$ 38)
Sátira alemã de 1865, Max und Moritz (nome original) já foi traduzido para o português por Olavo Bilac, que deu os nomes de Juca e Chico aos meninos arteiros protagonistas da história. O texto, uma crítica à burguesia, antecipa em sua primeira página que o destino da dupla não é “água com açúcar”. Mesmo assim, o leitor irá se surpreender com o destino dos dois meninos espoletas, que têm suas malcriações narradas em rimas acompanhadas por uma sequência de ilustrações que lembram histórias em quadrinhos.
O nome da manhã, de Marina Colasanti (Global, 60 págs., R$ 42)
Rimando e ilustrando, a autora passa por temas como a ansiedade típica da infância, a exemplo da menina que coloca sapato de adulta e acaba com uma bolha no pé, e cenas tão cotidianas quanto o gari ouvindo música enquanto recolhe o lixo, os ruídos típicos do trabalho na cozinha e o sobe-e-desce de um elevador.
O ramo, o vento, de Octavio Paz, ilustrações de Tetsuo Kitora e tradução de Horácio Costa (Autêntica, 24 págs., R$ 28)
Os versos do poeta mexicano fazem um convite à contemplação de elementos e paisagens da natureza que se repetem e são belas em sua simplicidade, tais como “as nuvens que flutuam” e o pássaro que “canta na ponta do pinheiro”.