NOTÍCIA
Recursos como bibliotecas on-line e softwares de simulação ganham espaço nas IES. Saiba o que gestores, professores, fornecedores e alunos acham dessas ferramentas
Publicado em 30/08/2017
Com o crescimento da educação a distância no Brasil, que tem superado a presencial na última década, as disciplinas online e os materiais didáticos digitais estão conquistando cada vez mais espaço nas instituições de ensino superior. É o que mostram, por exemplo, os números da Pearson, empresa do setor educacional fundada na Inglaterra, em 1844.
“Temos obtido um crescimento bastante expressivo no alcance das nossas soluções digitais. A Biblioteca Virtual, por exemplo, duplicou o número de instituições atendidas de 2014 e chega hoje a 2 milhões de estudantes em 300 instituições no Brasil”, destaca Rafael Furtado, à frente das áreas de educação básica e ensino superior da empresa. “Apenas em 2016, fechamos 75 novos contratos e chegamos a 500 mil novos alunos com essa solução. Já com as nossas disciplinas de EAD, atendemos 50 mil alunos atualmente”, afirma Furtado.
Além da biblioteca virtual, a empresa oferece soluções digitais como softwares que simulam o ambiente de um laboratório físico para disciplinas de química, física e biologia; recursos de apoio e aprofundamento do conteúdo dos livros didáticos impressos, como atividades e vídeos; e um portfólio com 260 disciplinas para 14 cursos a distância.
“O uso da tecnologia está se adaptando à demanda de uma nova geração, que não consegue mais acompanhar apenas grandes obras de referência, mas as usam para evidenciar ou aprofundar algo que já viram em um vídeo ou em outra ferramenta, de forma mais simples, resumida e com mais casos práticos”, avalia Caroline Rothmuller, responsável pela área de soluções para educação da Elsevier, companhia que oferece ferramentas para áreas de humanas, exatas e saúde e que está presente no mercado brasileiro há 40 anos.
Um dos destaques de seu portfólio é a evolution, biblioteca virtual que tem por objetivo atender não apenas o estudante (com compartilhamento de conteúdo em mídias sociais, acesso online e offline e criação de grupos de estudos), como também professores, que podem usar a biblioteca para definição de sua bibliografia e fazer uso do material extra (vídeos, apresentações prontas em PowerPoint, imagens, questões, links etc.), além de bibliotecários, que contam com facilidades para catalogação com integração com softwares de busca para bibliotecas.
Um olhar sobre a qualidade
Apesar da abundância de materiais, a oferta atual atende às necessidades dos gestores, professores e alunos em relação à qualidade e o custo? “Creio que ainda há necessidade de um número maior de fornecedores com qualidade e focados em áreas específicas do conhecimento”, avalia Lucia Sanchez, gerente de EAD da Faculdade Santa Marcelina (FASM), pós-doutora em administração e tecnologias educacionais.
Em sua instituição, os conteúdos digitais são desenvolvidos internamente. “Nós criamos todo o material didático, inclusive com atividades das mais diversas, e os objetos de aprendizagem”, explica. Segundo ela, isso acontece por questões como custo dos materiais oferecidos por terceiros, credibilidade e aceitação por parte dos docentes.
“Os recursos tecnológicos tornam as aulas mais atraentes e facilitam muito a vida do aluno”, afirma Diana dos Santos Silva, estudante de pós-graduação em Marketing Digital, da FIA Business School, e analista de marketing da empresa Skytef. Para ela, o acesso ao conteúdo é uma das principais vantagens dos materiais didáticos digitais oferecidos pela FIA, que mantém um portal de alunos no qual disponibiliza todo material apresentado em sala, antes ou depois da aula, com artigos, reportagens e apresentações utilizadas pelos professores.
“É um ambiente dinâmico e desafiador”, acredita Patricia dos Santos Cunha Barbosa, aluna de MBA em Gestão de Projetos e Processos Organizacionais no Centro Paula Souza, curso semi-presencial que inclui atividades e conteúdos como vídeos online, fóruns e apresentações.
Em alguns casos, porém, a experiência dos alunos no uso de ambientes virtuais de aprendizagem e materiais didáticos digitais ainda não é satisfatória. “Lamentavelmente, as aulas presenciais continuam muito mais motivadoras e atraentes do que o meu curso em EAD”, afirma João Carlos de Brito, que atualmente cursa duas extensões lato sensu: Educação Corporativa (presencial) e Design Instrucional (EAD). Em sua opinião, manter o interesse do aluno de EAD exige um investimento em horas de desenvolvimento de material e de interação com o aluno que a instituição onde ele estuda aparentemente não dispõe.
Pressionados pela necessidade constante de equilibrar receitas, os gestores estão sensíveis também à questão dos custos dessa ferramenta. “Materiais didáticos, lamentavelmente, são caros, exigindo investimentos vultosos por parte das Instituições. No entanto, entendemos que a escolha por este ou aquele material não deva se basear exclusivamente em critérios econômicos”, afirma Nelson de Carvalho Filho, reitor do Unialfa e diretor superintendente da Fadisp, instituições que estão, gradativamente e de forma cautelosa, adotando a tecnologia da informação em seus cursos.
Na Kroton, empresa brasileira que possui quase 1 milhão de alunos de ensino superior (com 113 unidades e 910 polos de educação a distância de instituições como Anhanguera, Faculdade Pitágoras, Unic, Uniderp, Unime e Unopar), a opção foi desenvolver o material didático internamente e adquirir no mercado os livros que compõem o acervo de suas bibliotecas.
“No geral, os materiais disponíveis no mercado atendem exclusivamente aspectos acadêmicos e/ou são obras tradicionais, mas desconectadas das reais necessidades dos empregadores”, avalia Mario Ghio, vice-presidente acadêmico do grupo. Por esse motivo, em 2015, a Kroton passou a desenvolver o conteúdo de seus cursos.
“Se, por um lado, essa estratégia implica dezenas de milhões de reais de investimento anual, por outro, expõe os estudantes às reais demandas do mercado de trabalho”, avalia o executivo, que também identifica pontos positivos no material didático oferecido por terceiros. “As bibliotecas virtuais evoluíram muito nos últimos anos. Hoje é possível contratar bibliotecas com centenas de milhares de livros no acervo virtual, que podem ser acessados pela internet. Elas também oferecem excelentes bases de dados e periódicos”, explica.
Customização
E as instituições de ensino superior dispostas a adquirir soluções de materiais didáticos digitais não precisam seguir exatamente o conteúdo oferecido pelas empresas. “A customização é uma realidade e uma solicitação constante por parte dos clientes”, ressalta Eduardo Monaco, gerente para soluções educacionais da Cengage, empresa global com selos editorias que publicam obras há mais de 100 anos, presente no Brasil desde o ano 2000.
“Trabalhamos em parceria com muitas IES do país e o que concluímos é que as soluções produzidas pelas duas partes se complementam. Para as instituições de ensino superior, a produção de conteúdo não é o negócio principal. É aí que podemos contribuir de forma relevante. Independentemente do formato, ela é nossa especialidade”, explica Monaco.
No Instituto Presbiteriano Mackenzie, que possui cinco unidades de ensino superior (em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília), é utilizado o Moodle como ambiente virtual de aprendizagem, customizado de acordo com a proposta pedagógica e metodológica dos projetos de curso.
“Oferecemos acesso dos alunos aos livros e periódicos em plataformas digitais e são propostas trilhas de aprendizagem que combinam recursos como acervo virtual (biblioteca virtual) e físico, videoaulas, objetos de aprendizagem e ferramentas de interação síncrona e assíncronas, como fóruns e chats”, detalha Marili Moreira da Silva Vieira, coordenadora de apoio pedagógico da instituição.
Além disso, no presencial, são propostas atividades e exercícios que podem ser feitos por meio de interação com a plataforma virtual.
Ao adotar soluções tecnológicas, é necessário que a instituição conheça o que está adquirindo e tire o melhor proveito desse investimento. “É preciso dar um passo maior em relação à adoção de novas tecnologias. Temos a preocupação de que nossos clientes de fato usem as soluções e explorem todo o potencial que elas têm”, ressalta Rodrigo Barros Severo, gerente da Sagah, empresa do Grupo A criada em 2014 e que já conta com mais de 100 mil alunos utilizando seus conteúdos.
“Ao longo de nossos projetos, nos deparamos com clientes que usam as tecnologias e soluções de maneira muito tímida. Por isso, temos focado esforços em fazer com que eles explorem ao máximo todos os benefícios que nossas soluções podem oferecer”, complementa.
Logicamente, não basta tecnologia para que um material didático seja eficiente. “Há uma ideia incorreta de que material didático digital é sinônimo de educação de ponta. Os recursos tecnológicos somente favorecem a aprendizagem quando aplicados como parte de uma estratégia coerente”, alerta o professor e pró-reitor do Instituto Mauá de Tecnologia, Marcello Nitz.
A instituição produz videoaulas de teoria e de resolução de exercícios para ajudar os alunos no entendimento das matérias (seguindo o exemplo da Khan Academy), além de utilizar vários softwares de simulação de produtos e processos, práticas de laboratório comandadas pela Internet, e videoconferência para tirar dúvidas e discutir projetos. “Temos de usar a tecnologia como aliada para o processo de aprendizagem. É um recurso importante não só para a educação plenamente a distância, como também para complementar o ensino presencial”, completa Nitz.