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Ensino edição 227

“Internacionalização é sair da zona de conforto”

Quando decidem atuar de forma global, as IES enfrentam uma série de desafios. É preciso persistência para superá-los, afirma Susana Gonçalves, da Esec

Publicado em 04/04/2018

por Diego Braga Norte

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internacionalização
A professora e pesquisadora portuguesa Susana Gonçalves foi a responsável pelo processo de internacionalização em casa da Escola Superior de Educação de Coimbra (Esec), além de ser especialista no assunto, com livros e dezenas de artigos publicados. Em entrevista exclusiva à Ensino Superior, ela conta como foi a experiência em sua instituição e como algumas ações e mudanças de paradigmas podem alterar completamente a rotina das faculdades, inserindo-as em um contexto mais global e atual.

Como a Escola Superior de Educação de Coimbra implantou a internacionalização em casa?
A estratégia para o sucesso residiu no envolvimento de diferentes atores. Trabalhamos em muitas frentes e com muitas pessoas fazendo as funções administrativas e menos visíveis, mas que são muito importantes. Entre essas estratégias contam-se a Semana Internacional Anual, o curso de língua portuguesa para estudantes estrangeiros, a tutoria pelos docentes e o Buddy System entre estudantes estrangeiros e portugueses, a formação em língua inglesa para os professores, o incentivo à mobilidade de professores, a publicação mensal de uma newsletter do GRI, entre tantas e tantas outras ideias postas em prática.

Como os alunos e professores reagiram e se adaptaram à internacionalização dos currículos?
As pessoas tendem a rejeitar a inovação quando esta sacode as suas confortáveis rotinas ou quando desafiam suas capacidades e competências. Um professor que não domine bem o inglês vai rejeitar a presença de estudantes estrangeiros ou uma bibliografia que não compreenda. Um estudante formatado para uma mente conservadora vai sentir-se pouco atraído em cooperar com colegas que considere diferentes. Esses exemplos são alguns dos obstáculos comuns aos primeiros passos na internacionalização. Internacionalização é sair da zona de conforto, é um teste constante às nossas competências. Não se faz de um dia para o outro e requer muito força de vontade para que as visões negativas e a inércia não vençam o processo.

Os alunos desenvolvem projetos em parceria com instituições internacionais?
Sim, atualmente há vários docentes e estudantes envolvidos em atividades transnacionais. Posso dar como exemplo a Euroweek, um projeto internacional que envolve equipes de estudantes de pelo menos três países que, ao longo de alguns meses, desenvolvem (em colaboração a distância) um projeto conjunto. Esse projeto é submetido a uma avaliação durante uma semana internacional de intensa aprendizagem recíproca.

Os projetos de internacionalização bem-sucedidos envolvem altos custos, em geral, o que os torna inviáveis para as pequenas IES. Como a internacionalização em casa poderia ajudar essas instituições?
A internacionalização em casa é o conjunto de todas as atividades que não envolvem mobilidade. Trata-se de uma definição ampla, mas que ajuda a perceber que fazem parte da internacionalização em casa atividades tão distintas como o currículo; as iniciativas sociais e culturais; a pesquisa em cooperação com laboratórios de outras universidades; a organização de congressos internacionais; a publicação em revistas estrangeiras; convidar professores estrangeiros ou aceitar visiting fellows; a governança e as políticas de reconhecimento do mérito (por exemplo: incluir na avaliação dos docentes itens relativos à sua atividade internacional)… são inúmeras as ações que cabem nesta definição. O importante é que elas não sejam casuais; elas devem ter uma cultura explícita e uma intenção objetiva. E todas essas atividades podem ser implantadas por qualquer IES, independentemente do porte.

Como a Esec trabalha o multiculturalismo?
Trabalhamos esse tema de forma transversal, no currículo, com unidades curriculares específicas. Também nos esforçamos para envolver os estudantes em projetos de teor humanista que os ajudam a experimentar situações de contato intercultural. Por meio destas situações, eles amadurecem os seus valores, adquirem competências profissionais e de cidadania e o senso de humanidade.

Quais são os ganhos para a comunidade acadêmica dessa abertura global?
A internacionalização é uma realidade irreversível no mundo contemporâneo. As crises podem reduzir a sua grandeza, mas não a farão cessar. As instituições mais atrativas para os estudantes serão as mais bem posicionadas em taxas de empregabilidade e as que oferecerem mais qualidade de ensino. O marketing institucional tem muito peso nesta equação. Uma grande parte da atratividade de uma instituição resulta do efeito de halo provocado pelos próprios estudantes. Alunos satisfeitos mobilizam novos alunos. Na Esec, os alunos estão muito motivados. Trabalhamos essencialmente com estudantes millennials e gerações X e Y. Isso significa que muitos já estão preparados para viver no mundo internacionalizado, global. Mas não podemos descansar à sombra desta ideia.

Autor

Diego Braga Norte


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