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Educação no Mundo

A peso de ouro

Caso de jogador de basquete americano que teria recebido U$ 200 mil para escolher uma universidade mostra como é acirrada a relação entre esporte e educação no país

Publicado em 04/07/2012

por Sérgio Rizzo







Anthony Davis em ação: passe alto entre as universidades
A estreita ligação entre o esporte e a educação nos Estados Unidos po­de ser ilustrada por um evento anual que movimenta o circuito universitário, a mídia e milhões de fãs espalhados pelo país: a fase final do campeonato de basquete promovido pela NCAA (National Collegiate Athletic Association), organização fundada em 1906 e que desde 1921 promove competições universitárias de âmbito nacional. Hoje, ela é responsável por 89 torneios (44 masculinos, 42 femininos e três mistos) em 23 modalidades esportivas e três divisões, reunindo centenas de universidades.



Atividade mais popular da NCAA, o campeonato de basquete chega à sua fase decisiva no período apelidado de “March madness“, “loucura de março” – referência ao mês em que, depois da temporada regular, são realizados os “playoffs” (jogos eliminatórios ou “mata-matas”) para a definição das equipes semifinalistas, masculinas e femininas. A decisão do título, chamada de “Final Four“, é sediada a cada ano em uma cidade diferente, com transmissão ao vivo no horário nobre da TV aberta.



Futuro astro
Em 2012, o “Final Four” masculino foi realizado em New Orleans (Lousiana) e o feminino em Denver (Colorado). Bem mais popular, a competição masculina foi vencida pela Universidade de Kentucky (cuja equipe tem o nome de Wildcats), treinada por John Calipari e tendo como principal atleta o ala Anthony Davis. Ambos são personalidades nacionais: Calipari já trabalhou na NBA (National Basketball Association), liga profissional e milionária, mas retornou ao circuito universitário (no qual a remuneração aos técnicos de prestígio pode ser maior do que em equipes profissionais, devido à rivalidade entre as escolas); Davis, 19 anos, já é visto como futuro astro da NBA.



A trajetória de Davis ilustra o caminho normalmente percorrido por ídolos do basquete (e também do futebol norte-americano, diferente do nosso futebol, lá chamado de “soccer“) nos EUA. Natural de Chicago (Illinois), ele cursou o equivalente ao nosso ensino fundamental II e todo o ensino médio em uma escola pública da cidade, a Perspectives Charter School, conhecida por sua excelência no ensino de matemática e de ciências, mas de fraco desempenho em esportes e participante de uma liga desprestigiada pela mídia em virtude da baixa competitividade. Mesmo assim, Davis continuou estudando ali, sob o risco de não desfrutar de visibilidade como jogador.



Seu talento nas quadras, contudo, encarregou-se de chamar a atenção da imprensa e de “olheiros” (caça-talentos, no jargão esportivo) a serviço de diversas universidades, que costumam oferecer bolsas e facilidades de matrícula a atletas. Ao anunciar sua opção por Kentucky, em agosto de 2010, Davis criou polêmica; o jornal Chicago Sun-Times, usando fontes anônimas, denunciou que o pai do jovem teria recebido US$ 200 mil (valor depois substituído por “entre US$ 125 e US$ 150 mil”) da universidade em troca da escolha. Qualquer espécie de remuneração a atletas é proibida no circuito estudantil dos EUA. A família de Davis e a universidade negaram o pagamento e ameaçaram processar o jornal.



Prejuízos
É provável que Davis não tenha tempo de concluir o curso universitário, em virtude de se tornar o mais cobiçado atleta a ser incluído no “draft” da NBA (processo em que as equipes da liga selecionam jogadores universitários ou, em casos especiais, formandos de EM). O “draft” de 2012 – que recruta atletas para início de carreira profissional na temporada 2012-2013 – estava marcado para 28 de junho, com a expectativa de que o primeiro time com direito a fazer a escolha, o New Orleans Hornets, viesse a optar por Davis, que se tornaria uma exceção. Em geral, os recrutados no “draft” estão concluindo a universidade.



A preocupação em evitar que a prática esportiva prejudique os estudos levou o principal executivo da NBA, David Stern, a propor neste ano uma mudança nas regras do “draft” com o objetivo de restringir o acesso à liga para atletas já formados na universidade ou com idade mínima de 21 anos (desde que com o EM concluído). É improvável que a nova regra seja aceita, por interesses dos times e dos próprios jogadores. Mas, caso ela vigorasse desde o início da década, o mais famoso e completo jogador da atualidade, LeBron James, teria chegado à NBA com ao menos três anos de atraso. Ele foi selecionado pelo Cleveland Cavaliers no “draft” de 2003, aos 18 anos, logo depois de concluir o EM em uma escola de Akron (Ohio), quando já era um astro nacional por suas atuações em campeonatos colegiais.



A popularidade das competições estudantis e os vínculos dos atletas com as escolas pelas quais passaram fazem com que seus nomes sejam sempre associados a elas. Magic Johnson, Larry Bird e Michael Jordan, três craques lendários que integraram o “time dos sonhos” dos EUA no torneio de basquete dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, são até hoje identificados como atletas formados, respectivamente, pelas universidades do Estado de Michigan, do Estado de Indiana e da Carolina do Norte. Para efeito de comparação, seria como se as transmissões esportivas de futebol no Brasil apresentassem “Neymar, da Universidade de São Paulo”, “Thiago Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro” e “Lean­dro Damião, da PUC do Rio Grande do Sul”.

Autor

Sérgio Rizzo


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