Instituída em 2018, a Fasa pretende ser um polo disruptivo na educação superior com cursos inéditos, nanocertificação e muitos projetos acadêmicos diferenciados
É uma faculdade, mas se apresenta como startup. Com menos de três anos de existência, a Faculdade Santo Ângelo (Fasa), localizada no município de Santo Ângelo, região das Missões, área turística do Rio Grande do Sul, surge com novos conceitos, métodos e estruturas acadêmicas, com a proposta de ser um polo disruptivo na educação superior. A instituição pretende que o tradicionalismo fique só na fachada do prédio de quase 90 anos e arquitetura neoclássica pois, por dentro, é um mundo tecnológico, colorido e cercado de consciência ambiental e economia colaborativa. Essa é a Fasa. E o diferencial vai além de ser mais uma instituição moderninha, segundo seu dirigente.
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A faculdade não conta com salas de aula, mas com laboratórios e já se prepara para extinguir as provas em 2022, aplicando o modo de avaliação feita por meio da metodologia baseada em projetos, que vai aprovar ou não o aluno, a partir da demonstração de absorção de conhecimento na prática, mediante desempenho e resultado. “O aluno vai ter que teorizar a prática e praticar a teoria”, diz o CEO e mantenedor da Fasa, Rafael Rosetto. E a resposta paradoxal tem explicação.
“Temos uma mentalidade de startup, nos preparando para construir um modelo de educação que não caia na obsolescência. Estamos em um constante processo de desconstrução: dormir uma Fasa e ao acordar no dia seguinte, destruir a do dia anterior para construir uma nova, em uma constante reinvenção.”
Rafael Rosetto, CEO
Ao dar vida a uma instituição com tantas propostas diferentes para o ensino superior e rodeada de inovação, é curioso o fato de que sua formação em filosofia, com mestrados em antropologia e políticas públicas, o tenha levado para o lado gestor e administrativo da academia. Crítico e aventureiro como ele se diz, Rosetto mergulhou em cursos livres sobre gestão e se declara um apaixonado pela inovação. “A Fasa surgiu com a ideia de que não basta ser uma nova faculdade, é necessário ser inovadora. Para ser só mais uma, não teria razão de existir”, declara.
No marketing, a faculdade não faz anúncios ou propagandas, o aluno tem que experienciar. Nesse sentido, a instituição faz duas abordagens: a primeira, com o projeto “Test Drive”, voltado para alunos do último ano do ensino médio, oferecendo a oportunidade de cursar toda a disciplina de introdução ao curso escolhido como um aluno regular. Caso ele se matricule, já terá a disciplina validada, e se não, recebe a certificação como um curso de extensão, levando consigo alguma noção da profissão que almeja, garantida em seu currículo.
A aposta nessa modalidade chega a converter uma taxa de 75% de novos alunos, diz o mantenedor. “Só não estuda com a gente quem realmente não quer estudar ou não pode, por uma questão financeira. Ainda não temos nenhum número sobre pessoas que fizeram o teste e foram cursa-lo na concorrência. Alguns vão para instituições públicas, mas ninguém que vivencia a Fasa, opta pelo mesmo curso com o concorrente”, revela.
“Todos os cursos da Fasa, sem exceção, contam no currículo com as disciplinas marketing pessoal, empreendedorismo, inglês e espanhol e agora pretendemos implementar noções de programação”
Rafael Rosetto, CEO
A segunda abordagem é dar ao aluno a autonomia e a possibilidade de encaixar em seu currículo o que melhor se adequa à sua necessidade profissional. A nanocertificação (ou nanodegree, em inglês), é outro diferencial que está presente em todos os cursos da Fasa. Focada em módulos ou disciplinas que trabalham habilidades específicas requisitadas pelo mercado, faz a promessa de entregar formação atualizada, acompanhando as demandas hoje exigidas. “Há 10 anos, um diploma de ensino superior era uma vantagem competitiva, uma garantia para o futuro. Hoje, nós dizemos que ter um diploma é simplesmente uma licença de operação. A partir disso, você tem que criar e desenvolver habilidades diferenciadas e competências para o aluno ir para o mercado”, explica Rosetto.
De olho em mercados já existentes, mas carentes de bons profissionais, foram instituídas as faculdades da cerveja e do churrasco. Ao contrário do que o nome sugere, não se trata de uma graduação, mas de outras possibilidades de formação, à escolha do aluno. Pode ser um MBA, um curso de qualificação profissional ou de extensão. Isso porque a proposta perpassa por tantos conhecimentos que o aluno pode escolher: um módulo, um mini curso, o curso todo e ao final ter um MBA, ou só o suficiente para uma qualificação.
“Hoje, nós dizemos que ter um diploma é simplesmente uma licença de operação. A partir disso, você tem que criar e desenvolver habilidades diferenciais e competências para o aluno competir no mercado.”
Rafael Rosetto, CEO
Na faculdade da cerveja, por exemplo, o curso passa pela agronomia, engenharias química, ambiental, mecânica e elétrica (para operação dos maquinários); gastronomia (estudando sobre os campos de lúpulos, cevada, produção da própria cerveja e análise sensorial, bem como harmonização, sommelier, etc.), passando por contábeis e administração, marketing, comercialização e todas as etapas que habilitem um profissional completo e com melhores chances de competir. “Estamos qualificando um mercado e uma demanda reprimida muito grande, além de criar novos olhares e possibilidades de negócio”, enfatiza o CEO. O investimento pode variar de R$200 a R$12 mil (com duração de 18 meses), depende do que o aluno procura.
Com tanto espaço verde, atualmente 28 hectares utilizados, e com o projeto de expansão para 94 em andamento, a faculdade introduziu em agronomia e veterinária o modelo de pedagogia da alternância com a Fazenda Escola. Nesse local, os alunos podem estudar sem sair da propriedade, intercalando tempo de estudo com o trabalho no campo. “Por uma semana do mês eles ficam hospedados no hotel-escola, se alimentam no restaurante e, nas outras três semanas, eles voltam para suas atividades comuns”, conta Rosetto.
Com a visão sempre no horizonte, Rafael Rossetto já avistou aí também um gancho para aproveitar, no futuro, o curso de hotelaria que pensa em implantar nesse ambiente todo criado na lógica de economia colaborativa e espaços de convivência.
Atualmente com 1.000 alunos matriculados, Rafael Rosetto declara que pela Fasa, eles seriam muito mais ousados e arrojados no modelo acadêmico. “Mas a gente vive essa questão da regulação do MEC, que é a mesma regra do jogo para todos. Então, como você consegue inovar com uma regra que nem sempre te permite?” O CEO aponta para um cartaz com a foto do vilão Coringa, com a seguinte frase estampada: “Não podemos escolher o jogo e não podemos escolher as regras, só podemos escolher como vamos jogar”. Rosetto a relaciona com a realidade da Fasa. “Não podemos escolher as regras, mas também não podemos ficar nos lamentando. Se as regras estão aí, vamos ver como podemos inovar apesar delas”, conclui.
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Por: | 28/07/2021