NOTÍCIA

Coluna Marina Feferbaum

Nem tudo é híbrido

Há uma pressão para que as mantenedoras façam grandes investimentos em equipamentos e salas híbridas para “entrar na onda do ensino híbrido

Publicado em 09/09/2021

por Marina Feferbaum

nem tudo é híbrido Sala de aula híbrida da Unifeob, em São João da Boa Vista, São Paulo (foto: divulgação)

nem tudo é híbrido
Sala de aula híbrida da Unifeob, em São João da Boa Vista, São Paulo (foto: divulgação)

Por Clio Radomysler , Guilherme Forma Klafke e Marina Feferbaum*:

Razões de marketing e posicionamento de mercado começam a aparecer, e grupos educacionais anunciam o ensino híbrido como diferencial para captação de novos estudantes. Instituições sinalizam que essa combinação pode ter chegado para ficar. No entanto, essa prática corre o risco de ser mal compreendida por conta do contexto em que a adotamos e das múltiplas compreensões sobre o seu significado.

Leia: Gestão pedagógica: IES que estão fazendo diferente

Mas o que seria exatamente esse tipo de ensino? Devemos entender o ensino híbrido como uma tendência relevante para o futuro da educação ou como um novo modelo emergencial?

Diferentes termos e conceitos

Às vezes, conceitos e palavras se perdem em uma confusão de informação, e com a combinação de ensino online e offline não é diferente. Ensino híbrido (hybrid learning), ensino misturado (blended learning), ensino remoto (remote learning), sala de aula híbrida (hybrid classroom), ensino flex ou hyflex blended learning, ensino remoto emergencial, e vários outros nomes são apenas alguns termos que começaram a estar na boca de professores e gestores de instituições de ensino.

Vamos tentar simplificar esse emaranhado de termos. Para isso, precisamos pensar em três critérios: a) qual o papel do ambiente online no processo de aprendizagem (acessório, prioritário ou integrado ao presencial)? b) a participação online e offline ocorre simultânea ou separadamente? c) a participação online ou offline é uma escolha do estudante, do professor ou da instituição?

Com base nesses três critérios é possível diferenciar tipos de integração de tecnologia e conexão ao ensino. No ensino remoto, todo o processo de aprendizagem é realizado de forma online, podendo ou não envolver encontros de participação simultânea entre professores e estudantes (remoto síncrono, assíncrono ou misto).

Já no ensino misturado (blended), o ambiente online é utilizado para complementar o aprendizado presencial. Por exemplo, os estudantes realizam uma preparação online para o encontro, como o desenvolvimento de um trabalho em grupo a ser apresentado em sala de aula. O professor também pode realizar, de forma pontual ao longo do curso, encontros online com o objetivo de dialogar com convidados de outros países ou cidades. Entende-se, entretanto, que a sala de aula presencial continua a ser o espaço central para atingir os objetivos de aprendizagem.

O que é híbrido e qual a sua amplitude

Já no ensino híbrido o ambiente online é pensado de forma integrada ao ambiente presencial. A proposta é identificar os objetivos de aprendizagem, o perfil dos estudantes e os recursos disponíveis para delimitar as melhores estratégias (online ou offline) para atingi-los, sem priorizar um espaço em detrimento de outro. Unindo elementos de ambas as modalidades, online e presencial, a implementação do ensino híbrido é bem mais complexa do que somente juntá-las.

Nessa linha, o ensino híbrido é uma categoria abrangente de propostas que podem envolver uma ampla gama de formatos de aprendizagem: a) encontros 100% remotos e 100% presenciais no mesmo curso; b) encontros em que uma parte dos estudantes estão presenciais e uma parte online; c) qualquer combinação dos dois formatos anteriores. Podem envolver também atividades não simultâneas realizadas tanto no ambiente online (como uma pesquisa para um estudo de caso ou a realização de uma entrevista por meio de uma plataforma de videoconferência), quanto atividades a serem realizadas de forma presencial (como a visita a uma instituição do sistema de justiça).

Hyflex: à critério do aluno

A proposta hyflex, por sua vez, seria uma espécie de ensino híbrido que se caracteriza pela possibilidade do próprio estudante escolher se prefere estar online ou offline. As salas de aula híbridas são um dos recursos que permitem a proposta hyflex e podem ser utilizadas no ensino híbrido e no blended também. É um espaço em que estudantes podem se encontrar de forma simultânea estando presencial ou online.

A complexidade do ensino híbrido e da sala de aula híbrida exige uma reconfiguração do modo como professores(as) se relacionam com seus estudantes e conduzem as atividades, bem como um uso ainda mais planejado e estratégico das novas tecnologias. Ainda que a instituição ofereça uma sala totalmente equipada para conectar estudantes em sala de aula e remotos, há diversas especificidades que exigem atenção, domínio e técnica do docente. Basta imaginar mediar o diálogo entre estudantes que estejam em uma visita técnica a uma instituição com outra parte da turma acompanhando de forma online e um convidado externo, trocando ideias e percepções sobre a experiência.

O uso dos espaços e a prática pedagógica demandarão uma logística e um planejamento que considerem esse cenário e seus diversos aspectos. Portanto, articular essas diferentes modalidades e recursos de ensino por meio de escolhas conscientes será nosso próximo desafio. Mas ele não é apenas uma questão para os professores individualmente.

Autores:

Feferbaum é Coordenadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação (CEPI) e da área de metodologia de ensino da FGV Direito SP, onde também é professora dos programas de graduação e pós-graduação e colunista na Plataforma Ensino Superior

Klafke é líder e gestor de projetos no Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP (CEPI), onde também é professor do programa de pós-graduação lato sensu

Radomysler é líder de projetos no Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP (CEPI) e coordenadora do Núcleo Direito, Discriminação e Diversidade da Faculdade de Direito da USP (FDUSP).

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Autor

Marina Feferbaum


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