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Formação

‘Quantidade de conteúdo oferecido aos alunos é realmente necessária?’, indaga diretor

Eduardo Deschamps, que presidiu as comissões do ensino médio e da BNCC no Conselho Nacional da Educação, e Rodrigo Teixeira diretor pedagógico do Colégio Santo Américo, discutem os impactos do novo ensino médio

Publicado em 17/08/2022

por Gustavo Lima

IMG_0004 (Foto: Nicolas Calligaro/Revista Educação)

Um dos maiores desafios para a comunidade escolar é a mudança do atual cenário para os jovens que se formam no ensino médio: baixas oportunidades de emprego. O ensino técnico surge então como alternativa para a melhora dessa situação e, mais recentemente, as discussões sobre a reforma do ensino médio têm ganhado mais força. 

No painel Quem tem medo do novo ensino médio, que ocorreu na manhã desta quarta-feira, 17, no Grande Encontro da Educação, Eduardo Deschamps – que presidiu as comissões do ensino médio e da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) no Conselho Nacional da Educação, falou sobre as propostas de reformulação do modelo. 

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Em sua fala inicial, Deschamps destacou a diversidade encontrada no país. “O Brasil é muito diverso e somente quando reconhecermos essa diversidade poderemos avançar”, afirma. Segundo ele, a proposta de reforma do ensino médio foi solicitada em 2012. “Os resultados [avaliativos dos jovens] não eram bons, tínhamos uma crise”, explica.

Em dados apresentados pelo profissional sobre alunos concluintes do ensino médio, os números apontam para a chegada de 80% dos estudantes ao nível de formação. Destes, 60% terminam. “E apenas 20 ou 25 tem um [bom] nível de aprendizado em matemática e língua portuguesa”, ilustra. Além disso, os números de inscritos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e em outros vestibulares também são baixos.

Eduardo ainda enfatiza que cerca de 40 a 50% dos alunos que acessam o ensino superior e o fazem, mudam de curso no meio do caminho ou até mesmo desistem. “Olha o grau de desperdício de talento e recurso que temos por um sistema que não está bem construído”, critica. “Precisávamos dar uma nova caracterização”, complementa.

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Tendências para o formato

Deschamps aponta duas grandes tendências para o modelo: “A primeira é a diversificação e flexibilização curricular; há também uma procura pela aproximação da educação profissional”. Além disso, ele pontua o papel do professor bem como sua formação e a educação em tempo integral.

“Educação em tempo integral busca trazer para o aluno de escola pública o que é ofertado para o aluno da escola particular que, embora não estude em tempo integral, estuda em diversas outras ocasiões e de modo integral como, por exemplo, matriculado em um curso de inglês”, evidencia.

Ele também discorre sobre os itinerários formativos e sobre as dúvidas geradas a respeito dele. Em suas palavras, a alocação de eletivas para a trilha de aprofundamento do aluno permite que ele faça as trilhas a partir da segunda série. “O itinerário pode ser alocado de forma que funcione para o estudante. Ele deve ser modular e precisa ter diferentes focos (linguagem, ciências exatas, ciências humanas) sendo ofertado em momentos diferentes para que, assim, o aluno receba diferentes saídas”. Para Eduardo, com uma boa organização o medo dos itinerários pode ser resolvido e os mesmos podem auxiliar na escola dos cursos de ensino superior.

Sobre a formação dos professores, o profissional ressalta a necessidade de “sair da lógica do conteúdo”. “Hoje é focado em conteúdo, pois é o que se cobra no Enem. O conteúdo está no Google, preciso trabalhar o desenvolvimento de competências [do estudante]”, frisa.

Conteúdo ofertado e as escolas privadas

ensino médio
Rodrigo Teixeira afirma que todo o pensamento do Colégio Santo Américo foi impactado (Foto: Nicolas Calligaro/Revista Educação)

O diretor pedagógico do Colégio Santo Américo, Rodrigo Teixeira – que também marcou presença no painel, falou sobre a adoção do modelo no colégio (de ensino particular).

Teixeira afirma que todo o pensamento da escola foi impactado, da educação infantil à contratação de professores. “As mudanças ocorreram para que os estudantes cheguem ao ensino médio com uma trilha mais concisa. Até mesmo o processo seletivo para a contratação de novos professores foi transformado. Em minha escola, o foco dos meus alunos são os vestibulares privados”, garante.

“O perfil de alunos que temos vai, em sua maioria, para fora do país. Os alunos que voltam de intercâmbios trazem muito na fala ‘aqui vemos muito mais coisas do que a gente precisa, lá é muito mais fácil’. Uma pergunta levantada na pandemia é se os conteúdos oferecidos foram de fato bem aplicados, mas a pergunta que faço é: a quantidade de conteúdo oferecido para que os alunos aprendam é realmente necessária?”, questiona.

Confira a cobertura completa do Grande Encontro da Educação.

Autor

Gustavo Lima


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