NOTÍCIA
“Não basta ser uma instituição à qual pertencem os alunos com melhores recursos financeiros, mas sim, ter capacidade de cuidar do aprendizado, do sucesso, da empregabilidade"
Publicado em 28/05/2021
Ser relevante é ser importante, é ter valor, é ser vantajoso. A palavra nasceu do latim relevans, significa “retirar alguém de um problema”. Uma IES relevante “resolve problemas” dos estudantes, da sociedade e do país. Nela, o diploma é mais que um atestado de conclusão do ensino superior.
Resolver problemas, nesse caso, é formar pessoas que passaram por um processo de crescimento pessoal, que sejam capazes de exercer uma cidadania ativa e que tenham condições de exercer atividades profissionais, em um emprego ou em uma iniciativa empreendedora. Acredito que teremos cada vez mais estudantes que sabem que o seu investimento de tempo e de recursos financeiros precisa ter uma taxa de retorno, inclusive econômico.
Suponho que nos próximos anos haverá uma espécie de seleção natural das IES. As instituições relevantes vão prosperar, por terem valor agregado para os estudantes. As pouco relevantes terão problemas financeiros, a captação de estudantes irá diminuir e os empregos dos alunos não terão bons indicadores de compatibilidade com a formação na graduação e com salários.
Verificar se a IES é relevante não é uma tarefa fácil, o que pode gerar dificuldade de percepção do gestor da instituição, pois ele geralmente parte do princípio de que ela o é.
Ter uma boa infraestrutura, uma plataforma virtual, um projeto institucional, professores titulados e qualificados para o exercício de sua atividade são elementos básicos da instituição, portanto, são commodities.
Oferecer cursos a R$ 159,00 ou a R$ 59,00 não é sinal de que a IES é relevante. O preço baixo pode significar conveniência. A concorrência pelo preço pode significar a busca por aumento da sua base de estudantes, o retorno financeiro e facilitação do acesso ao ensino superior.
O estudante irá escolher estudar em uma IES a partir de uma série de fatores. O preço interfere na escolha, mas não será o valor da mensalidade que necessariamente fidelizará o estudante. O vínculo do estudante com a mesma está diretamente relacionado aos serviços prestados e à capacidade da instituição de ser relevante. É preciso cuidar do aluno. É recomendável que a IES tenha em seu quadro de profissionais pessoas que são especialistas em comportamento de jovens.
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De toda forma, será o estudante que irá dar a palavra final em relação a isso. Acredito que temos problemas de desconexão entre o que é divulgado pela instituição e o que é percebido pelos alunos. Promessas como “construa seu futuro”, “cuidamos da empregabilidade”, e “venha realizar seus sonhos”, precisam estar coerentes com a dinâmica da IES e com o seu projeto acadêmico.
Se o aluno não é protagonista, como a instituição vai construir seu futuro? Se não tem programa de empregabilidade e vínculos com o setor produtivo, como irá garantir emprego? Se é burocrática e excessivamente tradicional, como irá realizar sonhos, em um mundo dinâmico?
Ser relevante garante a sobrevivência e a prosperidade para os próximos anos. As IES mais relevantes não são necessariamente as de elite, que possuem alunos com mais recursos financeiros, mas aquelas capazes de cuidar do aprendizado, do sucesso, da empregabilidade, da experiência, da qualidade dos serviços, da saúde mental e bem-estar dos estudantes.
Espero que nossas IES façam uma reflexão e busquem responder: somos relevantes? Entregamos o que prometemos? Temos coerência institucional? O fato é que as crises que estamos vivenciando requerem novos esforços e precisamos ampliar o nosso olhar sobre a dinâmica do ensino superior e fazer as coisas com mais eficiência.
Fábio Reis é diretor de inovação e redes de cooperação do Semesp, presidente do consórcio Sthem Brasil, secretário executivo da MetaRed Brasil, diretor de inovação acadêmica da Unicesumar e professor na Unisal
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