Revista Ensino Superior | O fetiche do método - Revista Ensino Superior
Personalizar preferências de consentimento

Utilizamos cookies para ajudar você a navegar com eficiência e executar certas funções. Você encontrará informações detalhadas sobre todos os cookies sob cada categoria de consentimento abaixo.

Os cookies que são classificados com a marcação “Necessário” são armazenados em seu navegador, pois são essenciais para possibilitar o uso de funcionalidades básicas do site.... 

Sempre ativo

Os cookies necessários são cruciais para as funções básicas do site e o site não funcionará como pretendido sem eles. Esses cookies não armazenam nenhum dado pessoalmente identificável.

Bem, cookies para exibir.

Cookies funcionais ajudam a executar certas funcionalidades, como compartilhar o conteúdo do site em plataformas de mídia social, coletar feedbacks e outros recursos de terceiros.

Bem, cookies para exibir.

Cookies analíticos são usados para entender como os visitantes interagem com o site. Esses cookies ajudam a fornecer informações sobre métricas o número de visitantes, taxa de rejeição, fonte de tráfego, etc.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de desempenho são usados para entender e analisar os principais índices de desempenho do site, o que ajuda a oferecer uma melhor experiência do usuário para os visitantes.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de anúncios são usados para entregar aos visitantes anúncios personalizados com base nas páginas que visitaram antes e analisar a eficácia da campanha publicitária.

Bem, cookies para exibir.

NOTÍCIA

Exclusivo Assinantes

O fetiche do método

Crer na eficácia de um procedimento pedagógico é reduzir a complexidade da educação

Em uma bela passagem de seu Diário de Escola, o escritor e ex-professor Daniel Pennac narra a importância que atribuía ao ditado em suas aulas. Os textos que selecionava eram sempre fragmentos de obras literárias a serem anotados, corrigidos e decorados por seus alunos. Ao longo de todo ano esses jovens da periferia de Paris eram convocados a declamar para a sala excertos de contos, poemas e romances que seu professor havia selecionado para lhes apresentar. Era provavelmente a única oportunidade que tinham para travar contato com eventos, personagens e reflexões que, embora distantes no tempo e no espaço, tinham algo a lhes dizer sobre a condição humana.

#R#

Qual não foi minha surpresa ao ouvir um renomado professor de linguística da Unicamp condenar sua prática como retrógrada e sem sentido. Suas alegações se sustentavam em complexas teorias acerca das formas por meio das quais nos familiarizamos com o uso da língua escrita. Tudo que ouvi me parecia convincente, exceto por um detalhe: ele desprezava o fato de que em uma aula o fator decisivo não é a técnica utilizada, mas a relação que um professor estabelece com sua matéria, seus recursos didáticos e seus alunos. Um ditado pode ser maçante e sem sentido, mas também pode ser a oportunidade de um exercício de escrita e de leitura atenta e plena de significado. Tudo depende de como se relacionam o professor, os alunos e a escola.

Crer na eficácia – ou ineficácia – de um procedimento pedagógico em abstração de quem dele faz uso, em que circunstâncias e por quais razões é reduzir a complexidade da formação educacional à mera aplicação de técnicas e procedimentos didáticos. Ao se deixar embair pelo fetiche do método o debate pedagógico decreta a superfluidade do professor e de sua relação com os alunos e com a matéria que ensina.

Sabemos que um mesmo procedimento (como um ditado) ou um mesmo material didático (como uma cartilha) pode gerar aulas completamente diferentes. O que podemos efetivamente afirmar acerca de uma aula ao sabermos o livro que um professor adotou ou a técnica à qual recorreu? Todas as professoras que utilizavam a cartilha Caminho Suave procediam da mesma forma e obtinham os mesmos resultados? Não é óbvio que a relação que cada uma delas instituía com o material e com seus alunos era pessoal e, portanto, singular e irreproduzível?

Em minhas aulas como professor do ensino médio já recorri a procedimentos que abstratamente analisados seriam motivo de revolta ou escárnio, como a chamada oral. Mas havia entre nós tanta cumplicidade e alegria que uma sala me presenteou, ao final do ano, com uma roleta para imprimir ainda mais emoção na hora da escolha do aluno que deveria retomar a aula ou o texto indicado. Sabíamos, eu e eles, que a chamada oral não visava expor cruelmente ninguém. Era um simples exercício que apostava na capacidade dos alunos de ler, compreender e lembrar. Mas isso não era uma propriedade da técnica; era o produto de uma relação! Esse é um dos segredos da prática educativa: o que verdadeiramente conta não é simplesmente o que é feito, mas quem o faz e em nome de quê.

*José Sérgio Fonseca de Carvalho
Doutor em filosofia da educação pela Feusp e pesquisador convidado da Universidade Paris VII
jsfc@editorasegmento.com.br

Autor

José Sérgio Fonseca de Carvalho


Leia Exclusivo Assinantes

DSC_0018

Escolas oferecem disciplinas para facilitar ingresso em universidades...

+ Mais Informações
Maria Montessori

Pedagoga e psicanalista apostaram em experiências educativas libertárias...

+ Mais Informações
Gerundio 1 iStock_000005825672

O “gerundismo” é fruto de influência do inglês?

+ Mais Informações

Mapa do Site

Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.