Criatividade é resposta à pressão em tempos de crise. Uma vez que apressam mudanças e viabilizam o que parecia impossível
Publicado em 21/05/2020
Se em 1956 Juscelino Kubitschek cunhou a famosa frase crescer 50 anos em 5 de mandato, como forma de viabilizar sua gestão, o pró-reitor de educação a distância da Universidade Cruzeiro do Sul, Carlos Fernando Araújo Jr. (foto) acha que os professores da sua instituição avançaram em um mês o que ele vem tentando há 8 anos, quando assumiu a pró-reitoria. Doutor em física computacional, Carlos Fernando sabe que esse uso da tecnologia pelo professor já é um fato concreto dessa nova realidade.
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Quando se cogitava a suspensão das aulas a partir de março, em virtude da Covid-19, imediatamente a Cruzeiro do Sul pôs em ação seu plano ERSE, Ensino Remoto Síncrono Emergencial. E aí, duas primeiras semanas de muito nervosismo, da parte dos professores, desabituados a esse novo modo de ministrar aulas, e dos alunos, que se impacientaram com os ajustes técnicos.
Durante esse período foram utilizadas três ferramentas de webconferência, sucessivamente, à medida que os usuários iam se habituando. Os professores, que davam aula com a ajuda de powerpoint no ensino presencial em aulas que duravam até 4 horas, perceberam que tinham de mudar, lembra Carlos Fernando. “Não é possível segurar atenção durante 4 horas on-line, com o apoio do power point. Estamos mudando aos poucos.”
Se os professores estavam desesperados quando se iniciou a transmissão em 18 de março, hoje reina certa tranquilidade. “Agora é a hora de criatividade para melhorar o aprendizado do aluno, senão gera ineficiência.” Mas no início de março a corrida era o treinamento dos professores para essa nova modalidade. Apostilas, manuais, tudo para uma imersão nesse novo mundo.
Se a preparação dos professores foi feita urgentemente, já que as aulas eram presenciais, a metodologia empregada facilitou o caminho. O Ensino Remoto Síncrono Emergencial foi baseado na versão americana Emergency Remote Teaching, cujo autor participou de um webinar em final de abril a convite da Universidade Cruzeiro do Sul.
Carlos Fernando, que também é diretor da ABED, Associação Brasileira de Educação a Distância, diz que o método emergencial nada mais é do que transportar o ensino presencial para o on-line. “Incluímos síncrono porque seguimos a mesma grade e horário presenciais.” Ele se utilizou da denominação criada pelo pesquisador americano Charles Hodges e outros estudiosos, mas decidiu incluir sincronismo, dada as especificidades de seu público.
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“O ERSE foi pensado devido à pandemia da Covid-19, ou seja, as atividades de ensino são realizadas em caráter especial e emergencial, dos cursos presenciais de graduação. Na prática, os professores das disciplinas presenciais, agora em salas virtuais, usam tecnologias como webconferências e outros recursos como laboratórios virtuais”, diz Carlos Fernando. Ele explica ainda que “não tendo mais a lousa ou o powerpoint para dar suas explicações, além dos laboratórios, ele passa a usar simuladores livres”.
Araújo Jr. lembra a diferença entre o emergencial e o EAD. Neste, todo o processo de aprendizagem é realizado por meio das tecnologias digitais, com alunos em tempo e espaços diversos. Os materiais didáticos são planejados para realizar atividades assíncronas conduzidas por professores e tutores.
Apesar de ser tudo muito recente, emergencial mesmo, o pró-reitor conta que os professores já notaram que há mais participação dos alunos. E muitas mais perguntas. “Parece que a distância deixou alunos mais à vontade para interagir e participar.”
Apesar de seguir o mesmo horário das aulas presenciais, Araújo Jr. afirma que os professores têm autonomia para decidir a forma e o tempo para ensinar os conteúdos. “Muitas aulas presenciais tinham até 4 horas de duração.
O professor não precisa usar todo esse tempo, porque pode ser que a aula fique improdutiva. Ao contrário de uma sala de aula convencional, o ambiente virtual muitas vezes é instável, a conexão pode cair, a voz do professor pode picotar”, diz ele.
E o futuro? Segundo Carlos Fernando Araújo Jr., as IES agora devem aumentar o número de horas a distância. Esse período obrigou a correr quem estava andando, e outros a buscar alternativas urgentes. “Acho que agora grande parte vai utilizar os 40% on-line que a legislação permite. Ou até menos, mas é inegável essa mudança.”
A previsão é que a Universidade Cruzeiro do Sul não volte com aulas no segundo semestre, e opte pelo modelo híbrido. “Não vamos colocar dezenas de alunos em uma mesma sala. Vamos tentar um modelo misto, presencial e emergencial, amparado por toda essa tecnologia. Mas certamente para esse período estaremos muito mais seguros. E então vamos utilizar o conceito de aula invertida, com o conteúdo já absorvido previamente.
As experiências foram diferentes em diversas IES. Somente o tempo para permitir um debate sobre este momento do mundo, e da educação em particular. “Uma catástrofe mudou a forma como as coisas estavam sendo feitas. Se antes os professores acreditavam não precisar de tecnologia, hoje estão mais interessados em conhecer recursos que sequer imaginavam”, finaliza.
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