A sobrevivência das instituições de educação passa pela disrupção do modelo tradicional de ensino, alerta o especialista Francisco Marmolejo, que traz conselhos e reflexões sobre como construir esse novo processo
Francisco Marmolejo atua na Fundação Qatar, organização sem fins lucrativos apoiada pelo governo árabe (foto: reprodução)O ensino superior está em risco com as transformações que vem sendo obrigado a vivenciar e impulsionadas ainda mais com a covid-19? Para o mexicano Francisco Marmolejo, consultor e líder de educação superior da Fundação Qatar para Educação, Saúde e Desenvolvimento Comunitário, com sede em Doha, Catar, o que está em risco é o modelo de educação tradicional. “O ensino superior precisa ser reinventado”, alerta, que destaca ainda: “é importante reconhecer que também estamos enfrentando há um tempo uma crise de credibilidade de instituições como igrejas, partidos e universidades”.
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A história da humanidade é marcada, inegavelmente, por transições e adaptações e com as instituições de ensino não poderia ser diferente. Para ir além do convencional, Marmolejo, que foi coordenador global de educação superior do Banco Mundial e especialista líder para a Índia e Sudeste Asiático, aconselha educadores e gestores a se fazerem as seguintes perguntas:
-Qual a abordagem da sua instituição de ensino em relação à inovação e mudanças disruptivas?
-Que tipo de universidade estamos fazendo e pensando?
– A inovação para a instituição educacional é simbólica ou está sendo abraçada na cultura cotidiana? Há uma atitude disruptiva?
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Assim sendo, independentemente do tipo de IES, Francisco complementa que há seis desafios da educação superior:
1 Equidade no acesso;
2 Falta de relevância da educação superior para a sociedade, o que pode se tornar, segundo ele, uma oportunidade se a instituição for uma universidade disruptiva;
3 Governança;
4 Inovação;
5 Internacionalização;
6 Financiamento.
É nítido que o especialista defende, sobretudo, um ensino superior que tenha propósitos de bem-estar social e que não foque apenas em um modelo padronizado de estrutura organizacional e de aprendizagem. Afinal, está cada vez mais claro que o ser humano embarca naquilo que faz sentido para ele, daí a importância de um ambiente educacional que prepare o aluno para a vida e suas adversidades e não apenas para o mercado – os jovens buscam cada vez mais trabalhos de realizações também pessoais.
Vale destacar que a covid-19 escancarou, por exemplo, os desafios do setor e a necessidade de mudança. “A pandemia fez todos atender o urgente [sem planejamento]. Agora precisamos, de fato, olhar para o que é importante e redesenhar o ensino. Também precisamos reconhecer que nossas instituições não estavam preparadas para o virtual, apenas uma e outra. Tampouco nossos professores estavam preparados e, de repente, os professores se tornaram funcionários multitarefas, só que eles também são seres humanos e podem sofrer de ansiedade e problemas com o isolamento social”, ressalta.
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Em resumo, Francisco defende que a aula expositiva precisa ser mais curta, não ultrapassando os 18 minutos e que sejam aplicadas uma maior diversidade de metodologias de aprendizagem para estimular o aluno. Além disso, outros conselhos reflexivos para o atual momento são os seguintes:
– Como minimizar os déficits de aprendizagem com a aprendizagem remota;
– Como minimizar a desigualdade causada pela tecnologia;
– Como manter o interesse do aluno;
– Como garantir a integridade de mensurar a aprendizagem por meios não convencionais?
– Como mitigar as implicações financeiras do mundo no ensino superior.
“A universidade do futuro será a que buscar resolver esses desafios acima que temos hoje”, alertou.
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Decerto, o caminho precisa ser enxergado com novas lentes, o que implica questionar dogmas e premissas sobre o ensino superior. “A internacionalização é apenas mobilidade de estudantes? Os estudantes estão aprendendo por desejo ou independentemente do que se ensina em sala de aula? Para que serve a educação? Para preparar para o emprego ou para a vida e uma cidadania responsável?”, indaga o especialista, que acrescenta:
“não podemos mais pensar na universidade tradicional. Temos que pensar se o estudante está aprendendo a memorizar ou a criar e a se desenvolver. Com isso, redefinir o papel do professor…O futuro não se adivinha, se constrói e a universidade do futuro é a que vocês [mantenedores, gestores e educadores] vão construir com as ferramentas que possuem”.
Para finalizar, Francisco acrescenta que todas essas mudanças implicam, portanto, em um novo tipo de liderança: visionaria, mas realista; ambiciosa, mas humildade; e preparada para assumir riscos.
A saber, todas essas reflexões e conselhos foram dados na abertura do 4º Seminário – O Futuro do Ensino Superior, que aconteceu hoje, 17, e vai até amanhã. Organizado pelo Semesp, o evento está sendo 100% online.
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Por: | 17/09/2020